Bacalhau poderá faltar nas nossas mesas no próximo ano, mas vai haver mais carapau.

Depois das restrições à sardinha, outro peixe favorito dos portugueses, o bacalhau, poderá a faltar nas nossas mesas no próximo ano. De acordo com a proposta de quotas pesqueiras para 2016 – apresentada ontem pela Comissão Europeia (CE) – a espécie que mais inspirou a culinária nacional terá uma redução próxima de 30% nas capturas autorizadas. Mas não é a única, avança o Diário de Notícias.

A CE quer, também, reduzir as capturas de robalo e tamboril, entre outros peixes. No caso do robalo, a pesca estará mesmo interdita nos seis primeiros meses do ano. Uma proposta que penaliza a pesca nacional, segundo armadores e pescadores de Quarteira.

Quanto ao robalo, Bruxelas decidiu mesmo permitir a captura apenas na segunda metade do ano, e, ainda assim, limitada a uma tonelada por mês para a pesca comercial e apenas um saco para a pesca recreativa. A proposta da CE prevê pela primeira vez a fixação de quotas para as capturas de robalo.

A CE revela, ainda, que quer aumentar a quota de pesca nacional de carapau.

Da lista divulgada pela CE, que ainda será levada a uma cimeira de ministros da Agricultura e Pescas em dezembro, constam 35 unidades populacionais que terão a sua quota mantida ou reforçada, propondo-se reduzir as capturas de 38 unidades. A proposta de Bruxelas divulgada ontem visa “trazer as unidades populacionais para níveis de rendimento máximo sustentável”. As quotas agora propostas têm em conta os pareceres científicos sobre as populações, sublinhando a CE os “níveis críticos” do bacalhau nos mares da Irlanda e a escassez de peixe que também atinge a zona oeste da Escócia. Mas na relação entre ganhos e perdas, dizem os representantes dos pescadores, o saldo nacional é francamente negativo.

“A única coisa de aplaudir é o aumento da quota do carapau, mas essa já era uma notícia esperada”, disse ao DN Humberto Jorge, da Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (ANOP Cerco), segundo o qual o setor dificilmente terá ganhos relevantes com essa medida”. A verdade é que já não temos mercado para ele, diz, explicando que a abundância de carapau nas nossas águas é de tal ordem que até acreditamos que essa poderá ser uma das razões para que a sardinha tenha vindo a escassear. Uma espécie faz concorrência à outra e é a lei do mais forte”. Mais relevantes são as quebras de espécies importantes para o setor. “Uma espécie importante para a pesca polivalente costeira é o tamboril, que, na nossa zona, vê desaparecer 19,2% da quota. Em todas as zonas a nossa é aquela onde desce mais”, lamenta. “Também as raias sofrem uma queda de 10% na costa portuguesa” , acrescenta, defendendo que este é um corte inexplicável já que nos dois últimos anos tem havido um aumento significativo das capturas pela abundância e disponibilidade que existe na nossa costa.

Para Hugo Martins, da Quarpesca-Associação de Armadores e Pescadores de Quarteira, a proposta “é muito penalizadora para quem pratica pesca artesanal e usa arte do tresmalho, que serve para apanhar robalo, o que acontece principalmente nos meses de dezembro e janeiro”. Por outro lado, a subida de quota (no caso concreto do carapau) não é representativa nem é desejável. “Os pescadores só se voltam mais para o carapau devido à redução da quota de sardinha e uma subida da quota de carapau pode servir para desvalorizar ainda mais o preço de venda”, sublinha ao CM Hugo Martins.