Corte da dívida de energia depende do clima

O Governo espera fechar 2015 com a dívida tarifária mais baixa de sempre no sector eléctrico. As rendas excessivas na energia têm estado sob fogo nesta legislatura, com cortes de 3.400 milhões de euros, segundo contas oficiais, avança o Jornal de Negócios.

Mas serão os cortes feitos pelo Governo suficientes para tornar o sistema elétrico sustentável nos próximos anos? Muito dificilmente, nas contas do ex-secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes.”Este ano temos pouco vento e pouca água e a geração eólica foi substituída pelas centrais térmicas”, começa por sublinhar o antigo governante. “O sobrecusto da renovável anda pelos 80 euros por megawatt hora (MWh) relativamente ao mercado e a produção térmica anda pelos 20 euros por MWh. Deixou de ter aquele custo porque a renovável é muito mais cara”, detalhou.

Para o ano, se a chuva e o vento regressarem, as centrais hídricas e eólicas vão voltar a produzir e a pesar novamente na dívida tarifária, colocando em risco as contas oficiais.

As previsões apontam para que o ano termine com um excelente tarifário. Isto mesmo tem sido dito pelo ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva. Também o presidente da EDP, António Mexia, garantiu em julho que o sistema elétrico é “sustentável” e que está “claramente numa trajetória de sustentabilidade”, depois do excedente tarifário de 10 milhões registado no segundo trimestre deste ano.

Apesar de acreditar que 2015 pode vir a fechar com um superavit tarifário, o antigo governante não acredita que a dívida tarifária do sistema elétrico em Portugal venha a cair do atuais 5000 milhões de euros para os 600 milhões até 2020.

“Os números não batem certo de maneira nenhuma. Vêm aí os custos outra vez, com a política que os partidos que podem ir para o Governo estão a defender, de abrir novamente a porta às energias renováveis”.

Sobre os cortes feitos pelo Governo, deixa alguns elogios. “O Estado andava a dormir e abriu os olhos a determinadas coisas”, diagnostica. Foi também com o objetivo de combater a dívida tarifária que o Governo criou a taxa sobre a energia (CESE) mas Henrique Gomes acredita que o próximo Governo tem de fazer mais durante mais tempo. “Eu continuaria a defender a minha contribuição. Era universal, era aplicada a todo o sistema elétrico”, conclui.