Episódios de precipitação extrema vão surgir nos próximos 10 a 30 anos

Hoje os indícios são claros e atingem quase todos os continentes, com ondas de calor sufocantes e chuvas diluvianas na Europa, maior número de furacões no Atlântico, degelo acelerado no Ártico e mais secas severas na Austrália, em África e na Ásia. Mas, os primeiros sinais inequívocos do aquecimento global do planeta surgiram nos anos 60, segundo um grupo internacional de investigadores coordenado por Andrew King, da Universidade de New South Wales, na Austrália, avança o Diário de Notícias.

Os sinais estavam lá, em extremos de temperaturas nas regiões dos trópicos, mas ninguém parece ter dado por isso. Como explica Andrew King, a sua equipa analisou “os dados das temperaturas médias e extremas, porque elas são a medida mais sensível para abordar esta questão”. E os resultados são claros. “A nossa investigação mostra que já era possível observar sinais evidentes do aquecimento global nas regiões dos trópicos na década de 1960”, sublinha o investigador citado num comunicado da sua universidade. Em algumas zonas da Austrália, do Sudoeste Asiático e de África, sublinha o autor, “isso já era visível nos anos 40 do século passado”.

A importância destes primeiros sinais está, aliás, muito para lá da mera curiosidade porque, sublinham os cientistas, estes dados permitem agora estimar outros sinais das alterações climáticas no curto prazo, nomeadamente, os relacionados com episódios extremos de precipitação, que começam a ser visíveis e que a equipa estima que se tornarão mais frequentes, com as respetivas consequências, no hemisfério norte e, especialmente, nas latitudes da Rússia e do Canadá.

“As nossas estimativas apontam para que os primeiros episódios de precipitação extrema com uma clara assinatura das alterações climáticas vão surgir nos próximos 10 a 30 anos durante os invernos nas regiões da Rússia e do Canadá”, adianta Ed Hawkins, coautor do estudo e investigador da Universidade de Reading, no Reino Unido. “Isso trará mais episódios de chuvas torrenciais além do que já vemos nos invernos crescentemente chuvosos nessas zonas do planeta”, diz o cientista.

O estudo, que foi agora publicado na Environmental Research Letters, surge a pouco mais de dois meses do início da 21ª Conferência sobre Alterações Climáticas (COP21), que vai decorrer em Paris entre 30 de novembro e 11 de dezembro e sobre o qual recaem as mais altas expetativas para um acordo político global que trave as alterações climáticas.