Mercado global, fatura local

O desastre natural em Fukushima, em 2011, foi para o Japão um virar de página na sua política energética. Mas as consequências do acidente não se confinaram ao mercado nipónico. Fukushima provocou a necessidade urgente de acionar centrais elétricas a gás natural, refere o Expresso, fazendo disparar a procura por este combustível no Extremo Oriente. A oportunidade foi aproveitada por diversas companhias energéticas, incluindo a Galp, que fez crescer exponencialmente o seu negócio de compra e venda internacional de gás.

Hoje a Galp tem no trading internacional metade de todo o seu negócio de venda de gás (a outra metade está na distribuição a clientes em Portugal e Espanha). Em 2010, antes de Fukushima, a atividade de trading valia somente 10% de todas as vendas de gás do grupo. A expansão desse negócio da Galp beneficiou de uma feliz conjugação de dois fatores: a anormal procura de gás na Ásia e a redução do consumo em Portugal decorrente do abrandamento económico.

A história da Galp é apenas um exemplo de como o mercado da energia segue uma dinâmica global de oferta e procura. Uma dinâmica, aliás, patente na variação do preço do petróleo, tão sensível aos aumentos e diminuições das reservas dos EUA como às posições dos produtores do Médio Oriente. Mesmo no setor elétrico a exposição da Europa às fontes fósseis (gás natural e carvão) torna os preços de mercado algo voláteis.

Mas se o mercado da energia é global, quase sempre a fatura que o consumidor final paga é local, sendo influenciada, em grande medida, pela carga fiscal que cada Governo aplica aos produtos energéticos e pela política regulatória que sobre eles incide, que pode determinar uma maior ou menor rigidez dos preços.

Para o presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, “estamos a viver uma época em que há riscos e oportunidades como nunca”. Um dos desafios mais críticos, segundo o responsável, é o custo das emissões de CO2. “Se o preço do CO2 for mais elevado, isso é uma oportunidade para a eletrificação”, admite o antigo secretário de Estado da Energia.

Mercado global em manutenção

A Agência Internacional de Energia (AIE) projetou no seu último World Energy Outlook que até 2040 as emissões de CO2 do setor energético ainda crescerão 16%. Mas, dentro de 15 anos a eletricidade de origem renovável suplantará a eletricidade gerada a partir do carvão. Na Europa, as fontes limpas deverão em 2040 assegurar mais de 50% da energia elétrica. Paralelamente, os EUA abrandarão o consumo de petróleo e a procura mundial de gás subirá, impulsionada pela China e Médio Oriente.

Em Portugal, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, está por um lado preocupado com os preços da energia para o cliente final e, por outro lado, entusiasmado com a oportunidade de fazer do país uma peça-chave na transição energética europeia rumo a uma maior incorporação de fontes renováveis e à diversificação do aprovisionamento de gás.