XVII Fórum Nacional de Apicultura juntou agricultores e apicultores

A Agricultura e a Apicultura “devem caminhar de mãos dadas para o crescimento sustentável das duas atividades”, foi uma das ideias-chave do XVII Fórum Nacional de Apicultura, que decorreu no passado sábado, dia 15, na Praia da Vitória, na Ilha Terceira.

O evento foi coorganizado pela Associação Agrícola da Ilha Terceira (AAIT) e pela Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP), entidade que este ano assinala 20 anos de existência.

Realçando a sinergia entre agricultura e apicultura, divulgados no Fórum, foram apresentados vários projetos, de entre o quais esteve um criado em 2010, na Alemanha, para a produção de leite e manteiga ‘amigos das abelhas’. Os produtores de leite que aderem a este sistema promovem o crescimento de algumas zonas de pasto para as abelhas e não devem utilizar pesticidas à base de neonicotinóides, refere o comunicado.

Numa altura em que o setor do leite está em crise, nomeadamente devido à liberalização das quotas de produção na UE, esta é considerada uma forma de valorização do produto. Um litro de leite ‘amigo das abelhas’ é pago em média a 0,40 cêntimos ao produtor, enquanto um litro de leite convencional ronda os 0,23, na Alemanha. A ideia já ganhou adeptos em França, onde existem alguns viticultores ‘amigos das abelhas’ e, entretanto, uma cadeia de supermercados francesa anunciou que vai produzir uma linha de produtos amigos das abelhas.

Num registo nacional, o Governo Regional dos Açores apresentou à Comissão Europeia a candidatura para obtenção do estatuto de zona oficialmente indemne de Varroose, doença que afeta as abelhas. O pedido reporta a todas as ilhas, à exceção das ilhas do Pico, Faial e Flores.

A Varroose é provocada por um ácaro parasita e, de momento, apenas as ilhas de Man, no Reino Unido, e de Alan, na Finlândia, detêm o estatuto de zonas indemnes a esta doença. Até ao final do ano, o Governo Regional dos Açores prevê que a candidatura seja aprovada pelos Estados-Membros.

Para além disso, a Universidade dos Açores deu a conhecer novas possibilidades de valorização do mel nesta área, tais como compressas indicadas para o tratamento de queimaduras, discos de amamentação que incorporem o mel na sua composição, de forma a evitar o desenvolvimento de infeções, e no tratamento de mamites bovinas. Esta última solução pode ser utilizada na produção de leite em modo de produção biológico. A investigadora referiu também que alguns dos méis do continente e dos Açores apresentam uma ação antibacteriana ao mel de Manuka, um mel produzido na Nova Zelândia muito conhecido e que atinge preços bastante elevados.

A inexistência de investigação cientifica sistematizada e o desconhecimento das caraterísticas físico-químicas do mel dos Açores levou a que fosse estudado o seu perfil polínico. A principal conclusão foi de que a composição do mel dos Açores apresenta três grandes grupos polínicos: faia da terra, incenso e trevo branco. A produção de mel no conjunto de todas as ilhas ronda as 70 a 80 toneladas anuais.

Por fim e de forma a realizar um balanço para este fórum, o presidente da AAIT, José Azevedo defendeu que uma das ideias-chave para o futuro do setor é que as organizações de produtores “devem integrar toda a fileira, desde a produção até ao embalamento, porque só assim é possível uma valorização contínua do mel”.

Por seu lado Manuel Gonçalves, presidente da FNAP, que celebra 20 anos salientou: “ainda há muito por fazer. O caminho passará sempre pela qualidade e profissionalização. Nos últimos 10 anos, a produção e o número de efetivos tem crescido 5% ao ano”.

A produção de mel em Portugal tem vindo a crescer de forma sustentada desde 2007 e, no ano passado, atingiu o valor mais elevado desde 2000, com 11.521 toneladas, das quais 2.000 toneladas são exportadas para diversos países. Nos últimos 3 anos, foram instaladas em Portugal 52.371 novas colónias de abelhas e o número médio de colónias por apicultor aumentou de 34 para 59.