300 cientistas exigem à UE que proteja os oceanos como medida contra as alterações climáticas

“Acabe com a sobrepesca” – esta é a mensagem entregue ao Comissário da União Europeia (UE) para o Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, como parte de uma declaração assinada por mais de 300 cientistas que apelam à ação da Comissão Europeia. O Parlamento e os Estados-Membros da UE devem “acabar com a sobrepesca como uma resposta urgente e necessária à crise climática e da biodiversidade”, diz a declaração enviada pela Our Fish e partilhada à imprensa.

Os cientistas exigem que a UE estabeleça limites de pesca dentro dos pareceres científicos e reconhecem que “a gestão das pescas baseada nos ecossistemas é crítica para a saúde do oceano e para a sua capacidade de responder às alterações climáticas”.

As assinaturas também serão entregues aos ministros das pescas dos Estados-Membros da UE, antes de serem definidos os limites anuais de pesca para 2021, e aos membros do Parlamento Europeu que estão a preparar a sua resposta à Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030.

A declaração, assinada por nomes importantes no campo das ciências marinhas, incluindo o professor Carlos M. Duarte, o professor Hans-Otto Pörtner, a Dra. Valérie Masson-Delmotte, o orofessor Rashid Sumaila, o Dr. Ute Jacob, o Dr. Jean-Baptiste Jouffray, o professor Didier Gascuel, o Dr. Rainer Fröse, o professor Alex Rogers, a professora Victoria Reyes-Garcia, a Dra. Sandra Cassotta, o professor Stiig Markager e o professor Daniel Pauly, bem como mais de 30 cientistas portugueses, foi entregue a semana passada ao Comissário da UE Virginijus Sinkevičius.

“A sobrepesca e as capturas acidentais são os maiores responsáveis pela perda de biodiversidade no meio marinho”, disse o professor Alex Rogers, diretor de Ciência na Rev Ocean. “Precisamos de um oceano saudável e produtivo, e acabar com a sobrepesca é fundamental. Isto é ainda mais importante quando nos confrontamos com os efeitos das alterações climáticas, que afetam todo o oceano, incluindo os próprios stocks de peixes. Como cientista, apelo à UE para que reconheça que a gestão das pescas baseada nos ecossistemas é necessária para a saúde do oceano e a sua capacidade de responder às alterações climáticas. É igualmente vital para a saúde humana, incluindo a das gerações futuras”, reforça o responsável.

“Sobrepescar significa tirar mais peixes da água do que os que podem voltar a aparecer e crescer. Para ser honesto, isso não faz muito sentido, porque então os stocks encolhem e os stocks pequenos apenas conseguem suportar capturas reduzidas. Isso não faz sentido nenhum; não ajuda os pescadores, não ajuda os peixes, não ajuda ninguém. Tem também um impacto no clima; os stocks pesqueiros muito pequenos não conseguem cumprir o seu papel no ecossistema. Se o ecossistema não funcionar corretamente, não consegue “respirar” corretamente e não absorve o CO2 de adequadamente”, afirmou Rainer Fröse do GEOMAR – centro Helmholtz de investigação oceânica em Kiel, Alemanha.

“A ciência é clara – a UE deve garantir que um oceano saudável é fundamental para a sua resposta à crise climática e da natureza – e isso significa pôr finalmente um fim à sobrepesca”, disse Rebecca Hubbard, diretora de programa da Our Fish. “Tal como com a nossa saúde, se continuarmos a agredir o oceano mantendo a sobrepesca, todo o sistema irá sair ainda mais enfraquecido, até deixar de ter capacidade de nos suportar com aquilo de que necessitamos: oxigénio, regulação do clima, alimentação e empregos. A UE tem que parar de arrastar os pés e tomar esta ação clara e decisiva agora, antes que seja tarde demais”, reforçou a responsável.