Por Ricardo Silva, Responsável de Tratamento da PreZero Portugal
“O meu pai faz crescer flores do lixo”
Vivemos num período de oportunidades, onde a economia circular e a sustentabilidade estão na ordem do dia pelas melhores razões, e a sociedade tem criado condições para aproveitar a oportunidade de transformar os resíduos orgânicos em recursos. Sem dúvida que a melhor solução para a valorização de resíduos orgânicos é a agricultura.
A matéria orgânica, componente para a fertilidade do solo e com influência nas suas características físicas, químicas e biológicas, é a base de um solo saudável e vigoroso, como reconhece a Estratégia Europeia para os Solos, que visa a recuperação da saúde dos solos até 2050. Qualquer estratégia para o reaproveitamento dos resíduos orgânicos que ignore esta realidade fracassa, especialmente num país como o nosso, onde os solos apelam à incorporação de matéria orgânica.
Desperdiçar recursos não é só economicamente insustentável, é acima de tudo, ambientalmente irresponsável. É essencial criar condições para aproveitar a valorização dos resíduos orgânicos como fator de produção, principalmente numa fase em que se pede à agricultura que produza mais, com maior qualidade e de forma sustentável. Contudo, é necessária legislação que funcione e processos de licenciamento rápidos e eficientes que privilegiem uma abordagem pragmática, e que beneficiem os resultados sem descurar a segurança e a transparência, fomentando o investimento privado.
Produzir utilizando fertilizantes orgânicos para além de ser uma opção tecnicamente válida e segura, é também uma maneira de valorizar com base na ciência e num desígnio nacional, em linha com o Plano Nacional de Agricultura Sustentável e com os instrumentos do PEPAC, que incentiva a utilização de práticas regenerativas na agricultura. Representa a materialização maior dos princípios da economia circular, reduz a pegada ambiental, e cria uma agricultura mais resiliente e sustentável.
A compostagem não é novidade, nem uma experiência moderna. É a ciência a replicar um processo biológico e natural de decomposição da matéria orgânica, que quando controlada e monitorizada garante um composto higienizado e rico em nutrientes, que oferece ao solo benefícios comprovados.
É este o processo adotado nas Plataformas de Compostagem da PreZero Portugal, onde produzimos, desde 2013, o composto orgânico TerraMais, criado através de compostagem de resíduos orgânicos. O TerraMais é um produto estável, seguro e com qualidade agronómica reconhecida, sendo já utilizado por agricultores em diferentes regiões do país com excelentes resultados. A sua aplicação regular contribui para uma melhoria significativa da fertilidade dos solos, permitindo reduzir custos de fertilização, devolvendo ao solo o que dele foi retirado, e isto é a verdadeira economia circular. Representa um exemplo prático de como é possível transformar o “problema” numa solução valiosa, promovendo a sustentabilidade e a eficiência dos sistemas de produção.
A agricultura está pronta para ser a parceira natural neste processo. Os operadores de gestão de resíduos orgânicos demonstram que são parte da solução e estão preparados para fazer a ponte entre quem produz resíduo e quem o utiliza. A vontade, a tecnologia e o conhecimento existem, como reconhece o Plano de Ação para a Economia Circular e o Plano Nacional de Agricultura Sustentável, que defendem a criação de sinergias eficazes entre setores estratégicos para uma transição ecológica concreta. Transformar resíduos orgânicos em algo mais valioso, como composto ou biometano, é essencial para um futuro sustentável para todos.








































