“A gestão das pescas funciona se for bem aplicada”, defende FAO

O sistema de produção alimentar aquática é aquele que mais cresce no mundo, nas últimas cinco décadas: África cresceu 500% e Américas mais de 200%. Estes são alguns dos números do relatório – “The State of World Fisheries and Aquaculture” (SOFIA) que analisa a situação dos stocks globais, bem como as tendências da pesca e da aquicultura em nível global e regional.

Manuel Barange, diretor da Divisão de Pesca e Aquicultura da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que falou, esta quarta-feira, 29 de junho, numa conferência de imprensa, na 2.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, sublinhou que “mais de 58 milhões de pessoas dependem diretamente” das pescas e da aquicultura e que “600 milhões” no total da cadeia de valor: “21% são mulheres com emprego direto neste setor”, segundo o relatório.

Em relação à sustentabilidade das pescas em todo mundo e com base nas 500 unidades populacionais monitorizadas pela FAO, conclui-se que “a proporção de unidades populacionais pescadas de modo sustentável baixou para 64%”, representando um “declínio de 1,2%” relativamente à avaliação feita há dois anos. Mas, ao analisar-se o “volume de captura”, o SOFIA aponta que “82,5% de todas as capturas nos mercado são de fonte sustentável”, traduzindo-se num “aumento de 4%” relativamente ao ano de 2020.

“A junção destes números permite perceber que os stocks piscícolas com maior volume estão a ser bem geridos e essa gestão está a produzir resultados”, disse o responsável, destacando que o mesmo não acontece com os stocks mais pequenos: “Estão a deteriorar-se e é um sinal de que temos de continuar a melhorar gestão: a gestão das pescas funciona se for bem aplicada”.

[blockquote style=”1″]”…as emissões de CO2 são menores na produção aquática de alimentos do que na produção em terra” [/blockquote]

O relatório contabiliza ainda algumas previsões do setor: “Até ao final da década, a produção de animais aquáticos aumentará 14%, sendo que a melhoria da gestão das pescas  poderá contribuir para tal”. Contudo, este aumento está dependente da “transformação dos sistemas alimentares aquáticos” para que sejam “mais eficazes e equitativos”, indica Manuel Barange. Para tal, são precisos ter em conta alguns objetivos que vão determinar a eficácia do sistema, como por exemplo, “garantir que alargamos e intensificamos a aquicultura sustentável em todo o mundo”, nomeadamente, nos territórios mais vulneráveis. Outro objetivo passa por uma gestão eficaz do setor das pessoas: “100% dos recursos, e 100% dos mares, rios e lagos têm de ser bem geridos para haver sustentabilidade a longo-prazo”, além de “melhorar as cadeias de valor aquáticas”, o “acesso aos mercados”, a “adaptação às alterações climáticas” olhando para as “espécies que estão a chegar ao mercado”, bem como “acrescentar valor ao produto”, aponta o relatório.

Ainda em matéria de sustentabilidade, Manuel Barange deu nota que há duas mais-valias que diferem a produção aquática da produção em terra: “Em primeiro, é um sistema mais eficiente e, depois, as emissões de CO2 são menos na produção aquática de alimentos, sobretudo, na aquacultura menos intensiva”.

Apesar da pandemia da Covid-19 que afetou a produção e o consumo, os números que constam do relatório são de “recordes”, quando comparado com a última edição em 2020: “214 milhões de toneladas de produção, representando 178 milhões de toneladas de peixe, moluscos, crustáceos e 36 milhões de tonelada de algas marinhas”. Ao nível de consumo direto humano, regista-se mais um recorde: “157 milhões de toneladas utilizadas diretamente para consumo humano”. Desde os anos 60 até 2019, “o consumo de produtos aquáticos per capita multiplicou mais rapidamente do que o crescimento da população”, fundamenta o estudo. Apesar destes “recordes” a “subida de preço do peixe” e dos alimentos, no geral, podem condicionar estes números em 2022: “Desde dezembro até abril deste ano, aumentou 25%, sendo uma pressão adicional para o consumidor”, refere o responsável.

O SOFIA partilha ainda a “transformação” do setor nas últimas décadas: “Hoje, um setor com imensa biodiversidade, captamos pouco menos que três mil espécies e na aquicultura ronda as 652 espécies: há muita diversidade em comparação com a produção animal em terra”.

A Conferência dos Oceanos já vai no seu terceiro dia de diálogo. “Salvar os Oceanos Proteger o Futuro” é o mote deste Encontro internacional.