A valorização dos recursos naturais no caminho da sustentabilidade – o caso da floresta portuguesa

Floresta de produção

Torna-se claro nos dias de hoje que só é possível haver floresta de conservação se houver uma floresta de produção, cuja receita reverta parcialmente para a gestão da floresta de conservação. Importa distinguir os dois conceitos, muitas vezes misturados, para lançar a confusão entre os menos familiarizados com a terminologia associada ao setor florestal. A floresta de produção destina-se à produção de produtos florestais como a madeira e a cortiça. A floresta de conservação destina-se a proteger os ecossistemas e a biodiversidade e geralmente não tem objetivos económicos associados. A floresta de produção visa maximizar a produção de determinado produto e é instalada e gerida com esse fim. E não importa se a floresta é pública ou privada porque o próprio Estado necessita de receitas para gerir o seu património florestal. Contudo, nem tudo é branco ou preto e entre estes dois tipos de floresta existem muitas zonas cinzentas, num misto de produção que exerce igualmente funções de conservação numa gestão mais complexa.

Floresta de conservação

Em ambos os casos, a gestão deve ser profissional, já que estamos a falar de uma ocupação do território com as mesmas culturas por um longo período de tempo associado ao tempo de vida das árvores. Por isso, deve ser devidamente pensada e planeada, porque estamos a comprometer uma parte do território nacional com base nas escolhas que fazemos. Fazer floresta e cuidar dela é uma atividade onerosa que não está ao alcance de todos. Para quem investe na floresta de produção, a situação pode ainda ser mais complicada, já que quem colhe não é na maior parte das vezes quem plantou.

Assume cada vez mais importância o valor que se atribui aos produtos florestais, já que é com a receita que se obtém dos mesmos que é possível fazer face aos custos da gestão da floresta, seja ela de produção ou de conservação. Quando o que se paga pelos produtos florestais é pouco, deixa de se fazer investimento na floresta, recorrendo-se a uma gestão minimalista de que o abandono é a face mais visível. E esse tem sido o retrato da floresta portuguesa nas últimas décadas.

A sustentabilidade de ambos os tipos de floresta é posta em causa, tentando-se fazer alguma coisa recorrendo apenas aos subsídios que vão aparecendo, já que as receitas só chegam para fazer face às despesas da gestão minimalista. É todo um território que fica a perder, do ponto de vista económico, ambiental e social. E com essa atitude, destruímos o caminho da sustentabilidade.

*Texto da ANEFA, publicado na edição 112 da Ambiente Magazine.