“A visão do mundo tem de mudar e contemplar minorias'”

Que o mundo mudou, é uma verdade incontestável, contudo, de acordo com o Fundador do Gapminder Institute, que se dedica a analisar o mundo em estatísticas, e também professor de Saúde Internacional no Karolinska Institute, Hans Rosling, é um facto que, hoje em dia, ao contrário do que acontecia há 50 anos, não é possível dividir o mundo em dois, sendo a definição de terceiro mundo obsoleta. “A pobreza é minoria hoje, logo o mundo não pode ser dividido em dois tipos de países”.   Numa altura em que, em Nova Iorque, na Assembleia Geral das Nações Unidas, se discutem os novos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, que substituirão os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (2000-2015), para os próximos 15 anos, o especialista apresentou um retrato do mundo onde 80% das pessoas vivem em cidades modernas, onde os pobres são mais pobres e os ricos são mais ricos, sendo ambos minorias, e a maioria se concentra numa classe média. Segundo a previsão global do Gapminder Institute para 2085, vão existir mais crianças em África e os asiáticos, que são mais jovens actualmente, ficarão mais velhos. De acordo com Anette Prüss-Ustün, da Organização Mundial de Saúde (OMS), um dos membros do painel que debateu o tema da ‘Água enquanto força motriz para o desenvolvimento e para os benefícios de saúde’, “o futuro da água passa por chegar até às minorias porque elas estão a crescer”.   Os dados de Rosling mostraram que menos de um bilião de pessoas no mundo não tem acesso à água canalizada, tendo sido estabelecido o acesso à água a quase todas as camadas mais pobres. Assim sendo, o desafio passa então por ter água de qualidade. “O abastecimento de água canalizada faz a diferença na pobreza. Estas pessoas ganham horas de trabalho com o tempo em que iam recolher água, têm menos problemas de saúde, com água de qualidade e, com um melhor nível de vida, começam a desenvolver actividades e negócios em áreas como a agricultura e a preocupar-se com os seus direitos humanos”. Hans Rosling explicou ainda que, com esta melhoria ao nível da qualidade de vida vêm o trabalho, o saneamento, a electricidade e até, posteriormente, os telemóveis. “A visão do mundo tem de melhorar e contemplar as minorias”, defendeu.   Para Paul Hunter, do Jornal Water & Health, da Universidade de East Anglia, “é importante que os especialistas percebam, contrariamente ao que se pensa no ocidente, que os principais problemas com a água são microbiológicos e não químicos”, tendo reforçado a importância de manter a água segura e evitando os problemas de saúde que afectam muitas das comunidades mais pobres, nomeadamente as mulheres, que têm problemas de coluna por carregar a água.     O Investimento nos PALOPs   Um dos fóruns paralelos abordou os investimentos a fazer nos países africanos de língua portuguesa até 2020, com os especialistas do World Bank (Alexander Danilenko), da União Europeia (Antoine Saintrant) e do African Development Bank (Malinne Bloomberg), que apresentaram alguns dos projectos em curso e revelaram uma tendência por parte dos Governos destes países de canalizar estas formas de financiamento para outras áreas. Segundo Alexander Danilenko, o trabalho feito ao nível das águas em Moçambique consistiu numa reestruturação muito grande, passando de 17 para quatro empresas regionais, mas, no entanto, actualmente, apenas a Guiné Bissau tem novos projectos de emergência e Angola tem projectos em preparação. Informação que foi corroborada por Antoine Santraint, que afirma que no âmbito do projecto “Agenda for a Change”, apenas Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe colocaram a água como prioridade. O projecto em questão financia dois a três sectores essenciais, escolhidos pelos países. Já Malinne Bloomberg referiu que das 115 operações em projectos, apenas 2% acontece em países lusófonos, já que muitos governos, apesar da necessidade de investir no sector das águas, estabelecem como foco as energias e as estradas.”