Ação popular contra a exploração do lítio em Portugal acontece este sábado na Serra da Estrela

Os cidadãos do centro e interior estão a organizar uma ação aérea, na Torre de Seia, na Serra da Estrela, contra a exploração do lítio em Portugal. A ação criativa decorre este sábado (24 de agosto) entre as 10h e as 14h30 no ponto mais alto de Portugal continental e vai juntar 400 a 700 pessoas que irão escrever uma menagem de protesto: “Não às minas – Água é Vida”. Filmado a partir do ar com drones, esta mensagem visual “irá ser divulgada internacionalmente para ampliar as vozes dos milhares de cidadãos e grupos ambientais do centro e norte do país que estão contra a mineração de lítio e outras substâncias à porta das suas residências”, refere a organização em comunicado.

Lê-se no mesmo comunicado, que este local foi escolhido por existirem diversos pontos de lítio à volta da Serra da Estrela, com a concessão “Boa Vista”. Esta abrange a região na margem esquerda do rio Mondego, e contempla os concelhos de Seia, Tábua, Oliveira do Hospital, e Gouveia.

Esta ação popular vem contra a estratégia internacional do Governo português de lançar Portugal como destino para a mineração de lítio, no que a Quercus chama já de “corrida ao lítio”, com 10,1% do território para prospeção. A empresa australiana Fortescue, quarta maior produtora global de minério de ferro, é a empresa que até agora apresentou mais requerimentos (22) em 2019, e é também detentora do pedido que afeta esta região.

Laura Williams, britânica radicada em Portugal e parte do “Awakened Forest Project”, co-organizadores do evento, revela que esta ação é uma forma criativa de revelar ao mundo o crime ambiental que está para acontecer e “exigir às autoridades mais informação e transparência, especialmente sobre o impacte negativo para o ambiente a nossa sociedade.”

A mineração deste tipo ocorre principalmente a céu aberto e utilizando explosivos e agentes químicos com grande risco para o ambiente, como a contaminação da água e a poluição atmosférica. Isto terá não só impacte na saúde pública, como também na economia local, na agropecuária e no turismo, degradando uma paisagem já em si afetada pelos incêndios florestais e monoculturas.

Williams afirma que neste momento “o trabalho mais importante a fazer – pelo Governo e pelas comunidades – é a regeneração da terra e dos ciclos de água através de estratégias de reflorestação e retenção de água, para assegurar que todo o tipo de vida possa vencer e crescer nesta terra linda e cheia de biodiversidade”.

Apenas em 2019 foi requerida uma área de 6 926,168 km2, para prospeção de lítio e outros minerais, com grande concentração no Norte e o Centro. Mais avançados estão os pedidos para as Minas da Sepeda, Covas do Barroso e Argemela. Em todos estes pedidos regista-se grande oposição dos habitantes, municípios e entidades ambientais.

Na região da Serra da Estrela, opõem-se oficialmente a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE), e os seus municípios constituintes, como a Câmara de Seia.

Esta ação aérea tem produção das organizações Awakened Forest Project e Wildlings, contando também com o apoio de outras entidades como a Tamera, Teia da Terra ou Linha Vermelha. Estarão presentes no evento também membros da Câmara Municipal de Seia e da organização ambiental Quercus. O momento servirá também para a Quercus revelar detalhes do seu novo relatório a sair esta semana sobre o impacte de emissões de CO2 da mineração de lítio em Portugal e como isto afeta negativamente as metas internacionais portuguesas.