#Ambiguia: Como tornar a utilização de estações náuticas ainda mais sustentável?

As Estações Náuticas e o compromisso com a sustentabilidade é um dos temas que trazemos para este Ambiguia. Com a vinda do verão nunca fez tanto sentido perceber com é que estas infraestruras se preparam para receber os turistas.
Fomos ao encontro de António José Correia, Coordenador da Rede das Estação Náuticas de Portugal, que nos faz um ponto de situação sobre aquele que tem sido o compromisso para com o meio ambiente e como o comportamento dos cidadãos tem evoluído nesse sentido.
  • As Estações Náuticas estão devidamente equipadas para dar resposta à quantidade de resíduos depositados/gerados? 

A Rede de Estações Náuticas de Portugal assumiu um compromisso com a sustentabilidade, sobretudo ao nível do próprio regulamento de certificação das Estações Náuticas. As Estações Náuticas devem desenvolver a sua atividade com base em princípios de sustentabilidade ambiental, contribuindo para a transição energética e para a circularidade da economia, promovendo estes valores junto das organizações que a integram.

A Estação Náutica (EN), através da sua rede de parceiros, promove ações de informação junto da comunidade e dos visitantes sobre regulamentos e obrigações definidas localmente em matéria de gestão ambiental, ações de capacitação em matérias de economia circular (através da reutilização de materiais e aproveitamento de resíduos), da utilização de energias renováveis (por exemplo, na descarbonização de atividades da náutica), e ainda na valorização de produtos locais e biológicos (i.e. na confeção de ementas). A EN fomenta também programas com a rede escolar no sentido de encaminhar a comunidade mais jovem para uma vivência de proteção da natureza, dos oceanos e dos recursos hídricos.

A EN cria condições para promoção de processos de adesão a certificações  certificações/ reconhecimento/ selos/ galardões/ marcas, de âmbito regional, nacional ou internacional que atestem a qualidade dos serviços ou o cumprimento de uma ou mais diversas vertentes da sustentabilidade (ambiental, económica e social).

  • Como se materializa na prática o compromisso para com a sustentabilidade?  

O Turismo de Portugal criou um grupo de trabalho que englobou várias empresas, nomeadamente o Fórum Oceano, que coordena a Rede de Estações Náuticas de Portugal, para a criação do Guia de Boas Práticas de Sustentabilidade para as Infraestruturas de Apoio ao Turismo Náutico de Litoral, Rios e Albufeiras. Este guia decorre de uma das atividades previstas no Plano Turismo +Sustentável 20-23 e tem como objetivo elencar um conjunto de boas práticas ou práticas alternativas de gestão, de reconhecida eficácia, que permitem melhorar a sustentabilidade ambiental, económica e social associadas ao desenvolvimento e à gestão das infraestruturas de apoio ao turismo Náutico, quer decorram em zonas costeiras ou águas interiores, visando a melhoria da qualidade da experiência dos nautas, turistas e visitantes, sem descurar o bem-estar da comunidade local que os acolhe e minimizando os impactos na fauna, flora, solo, meios hídricos e melhoria contínua da eficiência energética.

Praia Azenhas D’el Rei_EN Alandroa

Este guia divide-se entre nove capítulos fundamentais: Gestão Ambiental; Acessibilidade; Manutenção de Espaços Verdes; Manutenção de Edifícios, Equipamentos e Infraestruturas; Proteção da Vida Selvagem e Habitats; Responsabilidade Social e Envolvimento das Comunidades Locais; Comunicação com os Clientes; Selos e Certificações para as Estruturas de Apoio ao Turismo Náutico e Ferramentas de Apoio.

Note-se que a Rede de Estações Náuticas de Portugal não contabiliza o número de turistas nacionais e internacionais em cada Estação Náutica. No entanto, consideramos que este projeto e a sua importância para a náutica, contribuiu para o aumento de turistas a visitar as Estações Náuticas. As iniciativas levadas a cabo pela Rede de Estações Náuticas de Portugal atraem visitantes, seja a comunidade local, seja turistas internacionais que visitam o local e praticam atividades náuticas no território.

Por outro lado, as Estações Náuticas, pelas suas características, não são direcionadas para o turismo de massas. As que têm uma localização costeira visam promover uma oferta que seja complementar ao Turismo de Sol e Mar. Já as reconhecidas e implementadas em águas interiores visam a dinamização turística daqueles territórios e a promoção de sinergias com outras atividades, nomeadamente a agricultura ou a produção vinícola, e com outros produtos turísticos como o Turismo de Natureza e o Turismo Desportivo.

  • Há algum valor médio sobre o lixo que é depositado/gerado? 

É um tema muito pertinente. Admitimos a possibilidade de, num futuro próximo, desenvolver métricas para medir o valor dos detritos nas EN, por evidentes razões de sustentabilidade e de economia circular.

  • Como devem estar as Estações Náuticas preparadas para receber os turistas? 

A visão definida na Estratégia Turismo 2027 (ET27) centra Portugal num forte compromisso com o papel que o setor do turismo pode e deve assumir na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento. Deste modo, tendo presente os urgentes desafios da sustentabilidade, o Turismo de Portugal, I.P., reuniu no Plano Turismo +Sustentável 20-23 um conjunto de 119 iniciativas e projetos que visam reforçar o desempenho sustentável do setor, que pretende contribuir para estimular a economia circular no turismo, fomentando a transição para um modelo económico assente na prevenção, redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais, água e energia, reforçando assim, a Agenda para a Economia Circular no Setor do Turismo e colocando o ecossistema turístico na liderança da transição climática, para uma nova economia verde e inclusiva.

O Plano Turismo +Sustentável 20-23 contempla 4 eixos de atuação: Estruturar uma oferta cada vez mais sustentável; Qualificar os agentes do setor; Promover Portugal com um destino sustentável; Monitorizar métricas de sustentabilidade no setor.

O Guia decorre, assim, de uma das ações previstas no Plano e tem como objetivo elencar um conjunto de boas práticas ou práticas alternativas de gestão, de reconhecida eficácia, que permitem melhorar a sustentabilidade ambiental, económica e social associadas ao desenvolvimento e à gestão das infraestruturas de apoio ao turismo náutico, quer decorram em zonas costeiras ou água interiores, visando a melhoria da qualidade da experiência dos nautas, turistas e visitantes, sem descurar o bem-estar da comunidade local que os acolhe e minimizando os impactos na fauna, flora, solo, meios hídricos e melhoria contínua da eficiência energética.

O Fórum Oceano colaborou na criação deste Guia, em conjunto com outras entidades: ABAE, Adene, APA, APPR, CCDR Algarve, DOCAPESCA e a Universidade do Algarve.

  • Os cidadãos estão conscientes sobre o impacto dos resíduos depositados/gerados? 

De uma forma geral, o comportamento dos turistas/utilizadores das EN é tendencialmente mais responsável, sobretudo no que toca à reciclagem/separação do tipo de lixo.

  • Considera que a comunicação – sensibilização – tem sido suficiente para mudar os comportamentos dos cidadãos? Que outras medidas deveriam ser postas em prática? 

As campanhas assumem papel de particular importância para todos os segmentos da população, adequando consoante a idade dos diferentes públicos, no sentido de os informar e sensibilizar para todas as problemáticas cruciais desta área e, fundamentalmente, para o futuro do planeta.

  • Qual deve ser o papel dos municípios nesta matéria? 

Os Municípios assumem um papel central na gestão das EN: das 32 Certificações Náuticas concedidas, 29 são coordenadas por municípios e 3 são geridas por unidades intermunicipais

O envolvimento das comunidades locais é outro dos pontos fundamentais na certificação das Estações Náuticas existindo, inclusive, uma agenda com foco na comunidade local e a comunidade escolar. Assim, várias iniciativas foram levadas a cabo pelas Estações Náuticas. Exemplos:

Bture_ Birdwatching

No dia 29 de abril de 2023, decorreu o “Dia Aberto da Estação Náutica da Murtosa”, no Cais do Bico, na Murtosa. Neste espaço, os vários parceiros da Estação Náutica proporcionaram, de forma gratuita, um conjunto de experiências de desporto, lazer e aventura, mostrando o enorme potencial do Coração da Ria, enquanto destino privilegiado de turismo náutico de qualidade.

Esta iniciativa esteve aberta à participação de todos, permitindo experimentar um leque de atividades, de passeio de moliceiro, passando pelo stand up paddle e canoagem.

A Estação Náutica de Esposende realizou a Semana Náutica de Esposende, que decorreu entre 18 e 21 de maio de 2023, deu a conhecer a visitantes nacionais e estrangeiros a oferta náutica do território, através da realização de várias experiências a preços reduzidos, ou mesmo gratuitas, desde as aulas de canoagem, ao surf, stand up paddle, ou ainda batismos de kitesurf.

  • Como tornar uma ida às Estações Náuticas ainda mais sustentável e amiga do ambiente?

Diríamos que a sensibilização deveria partir também da própria consciência do cidadão, ou seja, desde a sua conduta face ao lixo gerado, como no que diz respeito à sua separação e reciclagem. Por outro lado, pode igualmente intervir, sempre num tom adequado, caso verifique comportamentos inadequados por parte de outros cidadãos como do Staff das EN. Neste último campo, recordamos por exemplo os cuidados a ter pelas embarcações na observação de crustáceos, sobretudo na velocidade de aproximação após serem detetados.

  • Quantas estações Náuticas existem?

Atualmente existem 32 Estações Náuticas de Portugal de Norte a Sul e do Interior ao Litoral.

Na Região do Porto e Norte contabilizam-se 11 Estações Náuticas: Alijó (interior), Alto Minho (interior/litoral), Cabeceiras de Basto (interior), Espinho (litoral), Foz Côa (interior), Esposende (litoral), Macedo de Cavaleiros (interior), Matosinhos (litoral), Póvoa de Varzim (litoral), Vila do Conde (litoral) e Vila Verde (interior)

Na região do Centro de Portugal existem oito Estações Náuticas: Aveiro (litoral), Castelo do Bode (interior), Estarreja (litoral), Ílhavo (litoral), Murtosa (litoral), Oeste (litoral), Ovar (litoral) e Vagos (litoral).

Em Lisboa existem duas Estações Náuticas: Litoral de Cascais (litoral) e Sesimbra (litoral).

Na região do Alentejo e Ribatejo contabilizam-se sete Estações Náuticas nomeadamente: Alandroal (interior), Avis (interior), Moura-Alqueva (interior), Mértola (interior), Odemira (litoral), Monsaraz (interior) e Sines (litoral).

Por fim, no Algarve existem quatro Estações Náuticas: Portimão (litoral), Vilamoura (litoral), Lagos (litoral) e Faro (litoral).

Para além disso, a Estação Náutica do Sabugal encontra-se em fase de certificação e existem 13 Estações Náuticas com manifestação de interesse: Pedrógão

Grande (interior), Penamacor (interior), Lagos do Sabor (interior), Amarante (litoral), Ericeira (litoral), Vila Franca de Xira (litoral), Região de Coimbra (litoral), Albufeira (litoral), Guarda (interior), Mirandela (interior), Seixal (litoral), Barreiro (litoral) e Ponte de Sôr (interior).

Prevê-se que, até ao final de 2024, o número de Estações Náuticas certificadas possa rondar as 40 estação náuticas, com preponderância para o interior.