#Apemetalks: “Modelos de Financiamento de Eficiência Energética” em tempos de Covid-19

Sob a temática “Modelos de Financiamento de Eficiência Energética”, a APEMETA (Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias Ambientais) promoveu, na passada sexta-feira, um webinar onde se discutiram alguns projetos que se podem adequar essencialmente ao período que a sociedade atravessa.

“Como é que podemos financiar modelos de eficiência energética neste período?”, começa por questionar Jorge Rodrigues de Almeida, diretor da RdA Climate Solutions, sublinhando que a “descrença” pode ser um entrave que impede o avanço destes projetos, como é o caso dos líderes mundiais que não acreditam nas alterações climáticas e no impacto que poderá ter nas nossas vidas”. Mas, por outro lado, o movimento de jovens que têm saído à rua em prol do ambiente exigindo alterações é a prova de que as “classes mais novas estão a exigir que nós façamos o nosso trabalho e alteremos o paradigma”, refere. Os dados da Agência Internacional da Energia (IEA) demonstram que há ainda um caminho longo a ser feito: “Se não trabalharmos nos cenários de alterações climáticas, poderemos duplicar as nossas emissões e ter um impacto superior ao que temos hoje”, refere o especialista, que dá conta de algumas alterações positivas que já começam a ser evidentes, como é o caso da energia solar que, “está a crescer significativamente em Portugal e na Europa”, o carvão a “diminuir” e o gás a “crescer”. O avanço tecnológico é também um impulsionador que “nos pode pôr no caminho certo”, considera.

Do lado da banca, são também transmitidos sinais de mudança: “Tipicamente, são agentes reativos e não proativos, que demoram algum tempo a tomar decisões, estando já a olhar para esta questão de forma diferente”. A prova disso é o facto de alguns bancos mundiais e portugueses terem assinado uma carta com as Nações Unidas onde se “comprometem a fazer investimentos” nesta área. Também a Comissão Europeia (CE) está a lançar um conjunto de indicadores e programas que jogam a favor desta questão, como é o caso do “Taxonomy”, um documento que “define o que são investimentos sustentáveis” e que impõe aos bancos e associações a “catalogação dos seus ativos”, dizendo se “estão ou não” dentro do que é pretendido. Outro instrumento da CE é o “Green Deal”, atualizado continuamente e, no qual, se está a “centrar a recuperação da economia”, tornando “a Europa neutra em carbono em 2050”.

Impacto da Covid-19 

A maior parte dos setores foram afetados negativamente pela pandemia causada pela Covid-19: “As organizações ficaram com falta de liquidez para fazer os investimentos”, pois “todo o capital vai ser utilizado no core da sua atuação” de forma a “manter empregos”. Assim, as organizações terão que encontrar “alternativas”, de financiamento, alocando a essas “outras fontes de capital” e a “redução de consumos ou eficiência energética”, refere Jorge Rodrigues de Almeida.

A implementação de projetos ligados à eficiência energética são vistos como uma oportunidade: “Existem múltiplas metodologias a adotar”, afirma o especialista. Ao comparar o “preço da energia com o poder de compra”, Portugal é dos países com “energia mais cara”, diz, considerando que “se eu conseguir reduzi-lo (o preço), é uma oportunidade para todas as organizações”. A entrada da tecnologia, que tem trazido soluções “capazes de ter sistemas eficientes que eram inimagináveis”, assim como a “cadeia de valor” que tem apostado na “formação” havendo “capacidade ao nível técnico e científico”, são provas de que a “implementação deve ser feita”.

Outras ações que têm promovido a implementação destes projetos são os decretos-lei que servem para fomentar as comunidades de energia renovável e assentam num fundamento: “a capacidade de eu produzir num determinado edifício e vender aos meus vizinhos”. Esta metodologia contribui assim para “novos modelos de negócio e receitas adicionais”, afirma o responsável, sublinhando que a eficiência energética traz a “redução de custos de CO2”, contribuindo ainda para um “maior conforto” nas casas. Mas há outras valia a ter em conta, como o valor do ativo: “O investimento gera valor ao edifício”, diz.

Como financiar estas medidas

Para haver financiamento à eficiência energética, Jorge Rodrigues de Almeida refere que é crucial a existência de capital. Num período em que a “falta de liquidez” é uma realidade, o responsável afirma que “há muitos investidores que continuam com excesso de liquidez e que precisam de colocar esse capital no mercado”, portanto, “existe financiamento disponível”. No entanto, há uma necessidade: “Gerar pipeline”, ou seja, “ter um conjunto de projetos que estão maduros para serem financiados”, refere, considerando importante “alimentar este pipeline”, dando “lugar aos projetos reais”. A questão da standardização é algo que não pode ficar de parte, até porque “muitos projetos de auto-consumo são muito lineares e são apresentados de formas distintas”, obrigando à “análise” detalhada de “cada projeto” que se traduz em “custos muitos grandes”. Por fim, há ainda outro fator: a “formação” de todos os agentes, sejam técnicos, entidades e instituições financeiras”.

Financiamentos

Por parte do Governo, têm sido disponibilizados diversos programas de financiamento, a começar pelo IFRRU 2020, um programa que “tem tido um sucesso inegável” permitindo a “reabilitação” de “muitos edifícios”, diz o responsável. Já a iniciativa “Casa Eficiente 2020” assenta em “financiamentos mais pequenos”, estando disponível para todos os interessados. A banca também tem, por seu turno, disponibilizado os seus programas: “O BPI tem uma linha dedicada à eficiência energética”, exemplifica, acrescentando que já é visível o capital investido noutros “projetos de eficiência energética”. 

Outra das formas de financiamento é o “crowdfunding”, que faz parte das “metodologias novas” e que assenta num “conjunto de cidadãos que juntam dinheiro para apoiar determinado projeto e que depois retiram o devido capital do mesmo”, explica o responsável, sublinhando que há “muitas plataformas a trabalhar” nesse sentido com “retornos” substanciais. Menos usual é o “contrato de desempenho energético”, onde as “empresas de serviço de energia fazem implementação de medidas com capital próprio”, retirando das “poupanças geradas o seu retorno, dando benefícios ao clientes”. Deste modelo têm surgido derivações como Lighting-as-a-Service (LaaS) ou o Financiamento em Renting, onde a “empresa não está a adquirir o ativo e garante que vai ter o equipamento mais eficiente”. Ainda nos novos modelos, destaque para o PACE, que assenta em financiamentos através dos impostos; ou o MEETS, onde o investimento é feito através da utility (fornecedor da energia), permitindo “que a parte cobrada seja sempre menor do que a própria poupança”, refere.

Estas mudanças, que se têm vindo assistir nos modelos de negócio tradicionais e na sua estrutura de capital, permitem “financiamentos com maturidade superior às comuns da banca”, remata.