Apenas 24% das empresas tem estratégia de conservação da biodiversidade, aponta estudo

Ainda que cerca de 9 em cada 10 quadros superiores reconheçam que a biodiversidade é fundamental para o planeta, a sua preservação não faz parte da lista de prioridades das suas empresas, que é dominada pelo combate às mudanças climáticas. Esta é uma das principais conclusões do novo estudo do Research Institute da Capgemini Preserving the fabric of life: Why biodiversity loss is as urgent as climate change. Atualmente, apenas 16% das empresas já procederam à avaliação do impacto da sua cadeia de abastecimento na biodiversidade e apenas 20% aferiram o das suas atividades.

Embora as alterações climáticas e a perda de biodiversidade estejam intimamente ligadas, a generalidade das empresas foca-se atualmente nas questões climáticas, com a maioria dos quadros superiores a acreditar que este é um tema secundário. Mais de metade destes responsáveis em todo o mundo considera mesmo que não é função das empresas privadas ocuparem-se dos problemas da biodiversidade e que as suas organizações devem somente cumprir a legislação nesta área. Este número chega aos 78% em Itália e aos 75% no Japão.

Quase metade (47%) dos quadros superiores de nível C considera a perda de biodiversidade como um risco de médio prazo para os seus negócios e 30% acredita que se trata de um risco de longo prazo (até 2050). Só 17% a encara como um risco atual. O estudo estima que o investimento das empresas na conservação da biodiversidade é inferior a 5% do valor que deveria ser investido por todas as partes interessadas (públicas e privadas) na próxima década para reverter os danos causados.

Apenas um quarto das empresas desenvolveu uma estratégia de biodiversidade, sendo a Austrália (15%), a Alemanha (16%), o Canadá (17%) e a Itália (18%) os países mais atrasados nesta matéria. Estas estratégias incluem, por exemplo, investimentos em práticas de economia circular, estabelecimento de objetivos com base científica, e consideração dos impactos da biodiversidade nas decisões de investimento.

“Todas as empresas dependem dos ecossistemas: desde recursos diretos, como a água ou as fibras, até aos «serviços ecossistémicos», como a regulação da água ou a fertilidade dos solos, uma biosfera funcional é essencial para o bem-estar humano, para objetivos de sustentabilidade mais ambiciosos e para o crescimento económico e a estabilidade. No entanto, muitas empresas subestimam o seu impacto direto na erosão da biodiversidade e a sua responsabilidade de a proteger e recuperar,” refere Cyril Garcia, Group Head of Global Sustainability Services and Corporate Responsibility e Executive Board Member do Grupo Capgemini. “É tempo de as empresas passarem à ação, assumirem a liderança e de se anteciparem às futuras exigências legais, especialmente porque já existem muitas soluções e enquadramentos, como o TFND2, para protegerem a biodiversidade”.

O setor dos bens de consumo é aquele onde existe um maior número (26%) de empresas que já avaliaram o impacto das suas operações na biodiversidade, enquanto o setor público apresenta a taxa mais baixa (14%). Em termos de cadeias de abastecimento, o setor da distribuição tem a taxa mais elevada (26%) no que diz respeito à avaliação do impacto, enquanto os setores agrícola e florestal têm a taxa mais baixa (10%).

Cerca de dois terços dos inquiridos afirmaram que a sua empresa implementou medidas como a reutilização e a reciclagem, e mais de metade das empresas revelou que já está a trabalhar no sentido de limitar os impactos negativos que produz quer no solo, quer na água.

No futuro, a preservação e a recuperação da biodiversidade incluirá o uso de soluções que integrem inteligência artificial, blockchain e sensores, com vista a simplificar a monitorização e a rastreabilidade de várias espécies, sejam elas animais, aves ou plantas. Quase três quartos dos gestores inquiridos concordam que as tecnologias digitais desempenharão um papel fundamental nas iniciativas de biodiversidade das suas empresas. Para tal, as empresas estão a investir particularmente em IA e em aprendizagem automática (31%), em impressão 3D (30%) e em robótica (28%).