Área florestal deve ser aproveitada para valorização de lamas, defende ERSAR

“O que nos diz o RASARP (Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal) relativamente às alterações climáticas, adaptação e mitigação?”. Esta pergunta foi levantada nas “Conferências de Março”, um evento promovido pela ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos). Sob o lema “penSAR o Futuro”, o evento decorreu esta terça-feira, 8 de março, no Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações, em Lisboa.

Partindo do “nexus” água e energia e das noções de economia circular, Susana Rodrigues, chefe do Departamento de Qualidade da ERSAR, partilha uma primeira reflexão que tem que ver com o cenário de incertezas que o país (e o mundo) vive. “O nosso setor passou mesmo a viver num cenário de incertezas: a climática com secas, escassez e cheias; e a energética, com os mercados instáveis resultados da guerra (na Ucrânia) e a dependência enorme da energia hidroelétrica”, considera. No que às incertezas climáticas dizem respeito e tendo em conta o RASARP, a responsável considera que a ocorrência de inundações e o controlo de descarga são dois indicadores muito importantes.

Nestes cenários, a aposta deve centrar-se na “resiliência”, na “capacidade de reservas vs disponibilidade”, no “planeamento e aumento de eficiência”, na “eficiência energética e hídrica”, na “redução das perdas reais” e na “circularidade: águas para realização, lamas ou valorização orgânica”.

Olhando para o período do RASARP, entre 2011 e 2020, registou-se um “aumento na capacidade de reserva em 9% dos reservatórios”, as captações superficiais diminuíram (“passam de 299 para 255”) e as subterrâneas registaram, da mesma forma, um aumento.

A promoção de utilização de águas para reutilização é um desafio que a responsável quis destacar: “É muito importante tornar esta utilização de águas para reutilização menos nobres”. De acordo com o relatório, a percentagem de água para reutilização é muito baixa: “Deste 1.1%, apenas 12% é exportada. Temos que reverter este cenário rapidamente”.

Voltando ao “nexus” água e energia, Susana Rodrigues atenta que existe um “brutal” consumo de energia no setor no abastecimento e saneamento: “Temos uma produção própria de energia muito baixa”. Apesar disso, o RASARP dá nota de melhorias na eficiência energética: “Há uma oportunidade de melhoria enorme”.

Relativamente aos resíduos, a responsável defende que os mesmos devem ser encarados com recursos: “A estratégia de biorresíduos é um regime que vai ser um grande desafio e um esforço que temos de adotar”.

Em jeito de conclusão, e num repto deixado à Agência Portuguesa do Ambiente, a responsável da ERSAR atenta na importância das lamas: “São um resíduo produzido em grande quantidade pelo setor e que deve ser valorizado”. Apesar da utilização na agricultura das lamas de produção provenientes das ETAR´s estar regulada, Susana Rodrigues chama atenção para a dimensão da área florestal que Portugal detém, sendo uma “excelente aposta” para a valorização dos territórios que já foram afetados pelos incêndios.

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