Alterações climáticas “estão a contribuir indiretamente para uma mudança na forma como vemos a gestão dos recursos hídricos”

Na passada sexta-feira, 31 de março, a CAP (Confederação dos Agricultores em Portugal) promoveu uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para falar da gestão da água no setor agrícola. Neste encontro foi apresentado o documento estratégico “Água e Agricultura”, de Pedro Cunha Serra, que já ocupou a presidência do Instituto Regulador de Águas e Resíduos ou do Grupo Águas de Portugal e que ainda coordenou os trabalhos de elaboração do Plano Nacional da Água.

Num texto que contempla a importância da gestão da água na atividade agrícola, há uma chamada da atenção para o impacto das alterações climáticas, essencialmente no Sul de Portugal que “irá ser severamente afetado”, pela diminuição e irregularidade da precipitação. O autor diz mesmo que “as médias móveis dos caudais integrais anuais dos últimos 20 anos dos nossos rios do Sul apontam claramente nesse sentido”.

Numa análise a este ponto em particular, Pedro Cunha Serra relembra os anos hidrológicos de seca extrema. Além disso, reforça que as alterações climáticas promovem mais um desafio à agricultura, pois “terá de ser mais suportada em novas tecnologias, de rega, de recurso à inteligência artificial para melhoria das práticas agrícolas, mais rigorosa ainda no uso da água e proteção  dos solos e dos aquíferos, mais amiga do ambiente, económica no uso dos fertilizantes e dos fitofármacos, capaz de usar as águas residuais tratadas que venham a estar disponíveis, numa palavra, mais resiliente”.

Neste sentido, o autor do documento estratégico defende mesmo que as alterações climáticas “estão a contribuir indiretamente para uma mudança na forma como vemos a gestão dos recursos hídricos” porque “para combater as alterações climáticas deitámos mão a outras formas de produção de energia elétrica que não a queima de combustíveis fósseis e a hidroeletricidade”.

As alterações climáticas vieram iniciar a mudança de paradigma e levaram ao encerramento das centrais  térmicas e ao aproveitamento intensivo da energia eólica e solar.  Com elas veio a ideia da utilização do hidrogénio como acumulador de energia, em alternativa à energia hidroelétrica, o “altera radicalmente a forma  como devemos olhar para estes AHE e, com isso, a gestão dos nossos recursos hídricos”. 

*Este artigo teve como fonte o documento estratégico “Água e Agricultura”.