Associação de Bioenergia Avançada alerta que Portugal precisa de reaproveitar resíduos alimentares para produzir energia limpa

No Dia Mundial da Alimentação, dia 16 de outubro, a Associação de Bioenergia Avançada (ABA) alerta para o impacto do desperdício alimentar e sublinha o potencial dos resíduos, como, por exemplo, os óleos alimentares usados (OAU), na produção de biocombustíveis avançados – uma das soluções mais eficazes para reduzir as emissões no setor dos transportes.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal desperdiça cerca de 1,93 milhões de toneladas de alimentos por ano, o equivalente a 182,7 kg por habitante. As famílias são responsáveis por mais de dois terços deste desperdício, o que revela a importância de reforçar a sensibilização e a adoção de práticas sustentáveis no dia a dia.

Paralelamente, o óleo alimentar usado, um dos resíduos mais comuns nas cozinhas portuguesas, apresenta taxas de recolha muito baixas, apesar do seu elevado potencial energético. De acordo com o relatório da ZERO, a média nacional de recolha nos municípios com mais de 100 mil habitantes foi de apenas 0,11 litros por habitante/ano, com os melhores municípios (Maia, Seixal, Oeiras, Matosinhos e Amadora) a alcançarem entre 0,18 e 0,29 litros, e os piores casos a registarem apenas 0,01 a 0,06 litros.

“A reciclagem de óleos alimentares usados é um exemplo claro de economia circular em ação. Este resíduo, quando corretamente encaminhado, pode ser transformado em biocombustíveis avançados ou até mesmo reutilizado para valorização energética. A fração que se consegue aproveitar para produção de biocombustíveis é uma alternativa renovável que reduz as emissões de CO₂ até 90%, face aos combustíveis fósseis. Com a agravante do impacto ambiental da ausência de uma recolha adequada: um litro de óleo pode poluir cerca de um milhão de litros de água”, alerta Ana Calhôa, Secretária-Geral da ABA.

A transformação dos OAU em biocombustíveis avançados constitui uma cadeia de valor sustentável: desde a recolha nos oleões municipais e industriais, passando pelo tratamento e refinação, até à sua utilização em frotas rodoviárias, transportes públicos ou aviação. De acordo com o último relatório anual da ABA, só em 2024, este subproduto representou 22% da matéria-prima utilizada na produção nacional, refletindo assim a sua crescente importância para a diversificação da matriz energética.

“Portugal tem uma oportunidade estratégica de potenciar a recolha de óleos alimentares e integrá-la numa visão mais ampla de descarbonização do transporte. Ao transformar resíduos em energia limpa, reduzimos simultaneamente a poluição, a dependência energética externa e o desperdício”, acrescenta Ana Calhôa.

A ABA sublinha ainda que a produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas residuais — como os óleos alimentares usados, gorduras animais ou subprodutos da indústria alimentar — é uma das vias mais eficientes para cumprir as metas europeias de energia renovável no setor dos transportes, definidas para 2030.

Neste Dia Mundial da Alimentação, a ABA apela à responsabilidade de todos: consumidores, empresas e autarquias. Reduzir o desperdício, separar corretamente os resíduos e depositar o óleo alimentar usado nos oleões públicos são gestos simples com um impacto ambiental profundo. É fundamental reforçar o investimento na sensibilização das famílias e empresas, bem como no reforço da rede de oleões, para garantir que cada litro de óleo reciclado se transforma num recurso energético valioso, contribuindo para a produção de biocombustíveis avançados, a redução da poluição e o fortalecimento da economia circular em Portugal.