“Atual revolução industrial não pode simplesmente seguir o caminho do business-as-usual”

Decorreu recentemente a apresentação do livro “Industry 4.0 and Circular Economy: Towards a Wasteless Future or a Wasteful Planet?“, de Antonis Mavropoulos, fundador e CEO da D-Waste e ex-presidente da ISWA, e de Anders Waage Nilsen, autor e empresário. O evento foi promovido pela EGF – Environment Global Facilities e decorreu no passado dia 15 de dezembro, na FNAC do Colombo.

Intitulado como um dos mais influentes investigadores na área de resíduos sólidos, Antonis Mavropoulos refere, em declarações à Ambiente Magazine, que o livro é resultado de um esforço no desenvolvimento de uma “nova narrativa” sobre o futuro do planeta e o imenso poder transformador da IND 4.0: “Existe um modelo de business-as-usual em relação às revoluções industriais. Todas geraram mais produtividade em termos de emprego, materiais e energia, mas também resultaram em mais poluição e esgotamento de recursos, uma vez que o consumo disparou”. No entender do autor, os ecossistemas sofrem com o aquecimento global, com a perda de biodiversidade e com a poluição, pelo que a atual revolução industrial não pode simplesmente seguir o caminho do business-as-usual: “O livro mostra o caminho para o conseguir”.

As experiências dos autores é o motivo pelo qual decidiram avançar com este projeto: “Sentimos que estávamos a entrar numa nova fase do Antropoceno que ainda não foi discutida e devidamente compreendida. A particularidade desta nova fase é que o nosso planeta está a aproximar-se dos limites naturais que têm de ser respeitadas para [ter] sociedades humanas habitáveis”. Seguindo esta lógica, “pensamos que é necessário mostrar tantos os aspetos positivos como os aspetos ameaçadores da quarta revolução industrial em curso, na ótica do setor da gestão de resíduos”, precisa.

Já sobre a mensagem que os autores desejam transmitir, Antonis Mavropoulos é perentório: “Ou a IND4.0 é implementada seguindo os princípios e abordagens da Economia Circular ou resultará em mais poluição, esgotamento de recursos e perda da biodiversidade”. Neste sentido, o apelo destina-se aos decisores políticos: “Não podemos permitir outra revolução industrial como as anteriores, porque a nossa economia já cria elevadas pressões nas fronteiras naturais do planeta. Só através da economia circular, poderemos desfrutar dos benefícios da IND4.0 sem prejudicar a viabilidade das sociedades humanas”.

A escolha do título “Industry 4.0 and Circular Economy: Towards a Wasteless Future or a Wasteful Planet?” prende-se, sobretudo, em capturar a essência do livro numa frase: “Queremos demonstrar que é uma questão de escolhas políticas e sociais sobre qual será a opção dominante”. Antonis Mavropoulos acredita que o livro é “útil e inspirador” para qualquer pessoa que trabalhe ou estude no campo da sustentabilidade ou economia circular: “Muitas universidades já colocaram o livro nas suas bibliotecas e algumas no seu plano de estudos”. Além disso, o livro expõe exemplos e aplicações sobre o setor de resíduos e reciclagem, pelo que “poderá ser muito mais prático para estudantes, investigadores, profissionais e decisores políticos sobre a gestão de resíduos e a indústria da reciclagem”, acrescenta. O autor sublinha ainda que, até à data, o livro é o único que “demonstra sistematicamente a dialética entre a revolução industrial e a economia circular e como devem interagir para as perspetivas de sustentabilidade avançarem”.

Apesar do livro ter sido já apresentado em vários países através de eventos digitais e workshops, Portugal foi o país escolhido para a primeira apresentação oficial e presencial: “Portugal é um perfeito exemplo dos dilemas que o livro aborda, uma vez que já tem um setor de gestão de resíduos desenvolvido e o país parece preparado para saltar para os desafios da economia circular e a utilizar os avanços da IND4.0”.

O grande desejo destes autores é, sobretudo, dar informações sobre os desafios do planeta e proporcionar um novo quadro para compreender e gerir as ameaças e oportunidades ambientais do nosso mundo: “Acredito que o futuro, por mais difícil que seja, temos sempre opções para melhorar ou piorar as condições humanas”. Deste ponto de vista, o objetivo passa também por “inspirar também os jovens e investigadores para mais projetos que lidem com os desafios do planeta como ameaças que podem ser revertidas através de inovações sociais e técnicas radicais”, remata.