Aves marinhas em risco de extinção com migrações por águas internacionais

Um trabalho de investigação em biologia marinha de âmbito mundial, liderado pelo ISPA (Instituto Universitário), revela que os albatrozes, cagarras e pardelas, o grupo de aves marinhas migratórias mais ameaçado de extinção, passam perto de 40% da sua vida em águas internacionais. Esta conclusão alerta para a “obrigatoriedade da cooperação internacional para garantir a sua conservação”, lê-se no comunicado do ISPA.

Estas espécies, de acordo com a investigação, atravessam regularmente fronteiras que delimitam águas marinhas de diferentes países, o que significa que “nenhuma nação pode, só por si, garantir a conservação destas aves”. As cagarras portuguesas, que nidificam nos Açores, na Madeira e nas Berlengas, por exemplo, “passam 48% do seu tempo em águas internacionais e 12% em águas de países como o Brasil, o Uruguai, a Namíbia e a África do Sul, onde se alimentam de peixes e lulas, e são vulneráveis à captura acidental em aparelhos de anzol”. E para que possam ser “efetivamente conservadas”, é necessária uma “cooperação alargada que leve à mitigação dos riscos de mortalidade nas pescarias”, diz o comunicado.

Num momento em que, nas Nações Unidas, se discute um tratado global sobre a Conservação e Sustentabilidade do Uso da Biodiversidade Biológica Marinha em áreas fora das jurisdições nacionais, “o nosso estudo demonstra inequivocamente que os albatrozes, cagarras e pardelas necessitam de uma proteção efetiva que vá além dos limites territoriais de um único país”, sublinha Paulo Catry, professor do ISPA. Para o docente, esta é “uma grande oportunidade de os países se empenharem na proteção de espécies migradoras, qualquer que seja a área de alto-mar até onde elas se aventurem”.

Martin Beal, investigador no MARE-ISPA e autor principal do artigo, declara que “as aves marinhas são os maiores de todos os viajantes, mas este tipo de vida espetacular torna-as vulneráveis a ameaças presentes em regiões onde a proteção legal é inadequada”.

Esta revelação resulta de uma análise global dos seus movimentos migratórios, publicada agora na conceituada revista americana Science Advances. Este estudo analisou 5775 aves marinhas migratórias de 39 espécies e foi realizado em estreita colaboração com dezenas de investigadores, baseados em 16 países, que disponibilizaram os seus dados através de uma plataforma gerida pela BirdLife International (“Seabird Tracking Database”), cuja função é precisamente facilitar a colaboração entre cientistas e agentes envolvidos na conservação das aves marinhas de todo mundo. Os dados foram colhidos em 87 ilhas com colónias de aves marinhas dos 3 grandes oceanos, desde as ilhas Selvagens no arquipélago da Madeira, até várias ilhas subantárticas e às famosas ilhas Galápagos no Oceano Pacífico, entre muitas outras.

O que neste estudo foi documentado para as aves marinhas aplica-se a muitos outros migradores oceânicos como tartarugas-marinhas, baleias, golfinhos e peixes como os atuns e os tubarões. A sobrevivência destes animais carismáticos está dependente de uma cooperação internacional que cuide da conservação dos oceanos globais.