Baixo Alentejo com 94% de suscetibilidade à desertificação

Cerca de 94% da NUTS Baixo Alentejo é suscetível à desertificação e na margem esquerda do Guadiana, a região de Mértola regista mesmo 96% de suscetibilidade a este fenómeno, são estas as conclusões dos estudos da NOVA FCSH, que coordena o Centro Experimental de Erosão de Solos da Herdade de Vale Formoso.

A informação divulgada pelo REA Alentejo, um projeto promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), dá conta de que a NUTS Baixo Alentejo apresenta 38% do seu território com suscetibilidade crítica à desertificação, 35% muito elevada e 21% elevada (e apenas 5% moderada e 1% reduzida). Já na margem esquerda do Guadiana, os valores sobem quase aos 100%, com 96% da área suscetível à desertificação (32% crítica, 37% muito elevada e 27% elevada).

O projeto tem como principal objetivo criar um modelo replicável que permita restaurar a produtividade agrícola e florestal nas zonas semiáridas do sudeste de Portugal, que potencie uma melhoria da saúde do solo, do funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, da qualidade de vida das comunidades rurais. A iniciativa conta ainda com da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa FCUL, da NOVA FCSH, da Junta de Freguesia da Cabeça Gorda e da Câmara Municipal de Barrancos, em colaboração com o Centro de Experimentação do Baixo Alentejo – DRAAL.

Se na década de 40 o valor médio anual de precipitação era de quase 800 (755,4 mm), na década de 2010 o valor diminuiu para 474,2 mm. Em particular em Mértola, é clara a diminuição da precipitação registada. De 1940 a 1970, a média anual de precipitação foi de 601 mm, enquanto que nos últimos 30 anos (de 1991 a 2021) o valor desce para os 446 mm.

Se, por um lado, o último ano climático (de setembro de 2021 a agosto de 2022) não trouxe a seca mais severa de que há registo, apresentando o valor total anual de precipitação na ordem dos 398mm (ainda assim abaixo da média de 509mm, para o período de 1941/42-2021/22), por outro lado, só no período de inverno (de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023) choveram mais 200mm. “Esta enorme irregularidade na precipitação e na distribuição pelas estações do ano, contribui para uma grande incerteza em termos agrícolas e para o desencadear de episódios de erosão que favorecem a degradação dos solos, quando ocorrem chuvas intensas ”, esclarece Maria José Roxo.

Até ao final do ano, o projeto prevê beneficiar 81,1 hectares com ações de restauro de ecossistemas mediterrânicos, nos três concelhos de atuação.