Baixo Alentejo: O cenário é de “conflito social pelo uso e custo da água”

A ADPM-Mértola vai apresentar esta quarta-feira, 9 de maio, uma ação de capacitação que visa dar ferramentas aos agricultores para avaliar o estado das linhas de água das suas explorações, de modo a conhecerem a sua importância, em particular para os serviços dos ecossistemas e saberem como podem contribuir para sua manutenção e restauro. Denominada por “Gestão da Água e do Solo: Boas práticas para a Conservação de Linhas de Água e Controlo da Erosão” a ação destina-se a produtores pecuários e aos técnicos que prestem aconselhamento no Parque Natural do Vale do Guadiana.

À Ambiente Magazine, Maria Bastidas, técnica da ADPM-Mértola, entidade coordenadora do Programa Territorial +SOLO +VIDA , explica a necessidade de ações com esta, dando nota que, no contexto de “escassez hídrica em que a agricultura se encontra, em particular no Baixo Alentejo, as linhas de água são e serão, ainda mais num futuro marcado pelas alterações climáticas, elementos-chave para adaptar as explorações agrícolas”. Nomeadamente, “através da redução da temperatura, da manutenção da humidade durante maior tempo, como corredores de biodiversidade e ao serem zonas refúgio para um vasto leque de vida”, acrescenta.

É precisamente na região do Baixo Alentejo que a situação parece ser mesmo preocupante: “A produção agrícola ficou muito reduzida, o efetivo animal terá que ser reduzido para evitar os custos económicos derivados do aumento da necessidade de alimentação externa às explorações e, eventualmente, a necessidade de apoiar o abeberamento animal”. E esta é situação com efeito também em todo o “sistema natural” com uma maior dificuldade na “regeneração vegetal de azinheiras por exemplo”, assim como,” a de todas as espécies emblemáticas de espaços naturais, como o Parque Natural do Vale do Guadiana, conseguirem resistir ao verão”, atenta.

Para os próximos meses o cenário é assim de “incremento dos custos de produção para a pecuária extensiva”, seguido de “um conflito social pelo uso e custo da água, um bem essencial que a agricultura de sequeiro dá grande valor”, atenta a responsável.

A ADPM-Mértola tem vindo a promover diversos projetos de promoção da adoção de boas práticas nos sistemas agro-silvo-pastoris característicos do sul de Portugal

Para dar a volta a esta situação, Maria Bastidas defende a necessidade de se “criarem incentivos que apoiem a aplicação destas boas práticas por um maior número de agricultores”, bem como “implementar sistemas de apoio para os agricultores, capacitar os técnicos para a assessoria, identificar as políticas com efeitos indesejados em termos de conservação do solo, da água e do restauro dos ecossistemas”. A isto soma-se o “desenvolvimento um Plano de ação para a escassez hídrica no Alentejo, situação que não se prevê que venha a deixar de ser um constrangimento”, atenta a responsável, chamando a atenção para a importância de se “criar condições para que os consumidores, que somos todos, possamos escolher os produtos com melhor impacto ambiental, o que vai além das certificações que temos disponíveis na atualidade”.

Em parceria com todos os parceiros, ADPM-Mértola tem vindo a promover diversos projetos de promoção da adoção de boas práticas nos sistemas agro-silvo-pastoris característicos do sul de Portugal. Com esse objetivo, pretende demonstrar e capacitar os agricultores e técnicos sobre estas práticas e chamar a atenção em termos de políticas-setoriais. Atualmente, tem em curso o Programa Territorial + SOLO+VIDA e o projeto REA-Alentejo, financiados pelo programa EEA Grants e REACT-EU respectivamente.