bLueTIDE chega ao fim e reforça a ligação dos jovens para com o oceano

Chegou ao fim o bLueTIDE, um projeto de literacia do Oceano, que teve como princípio divulgar o que a ciência conhece sobre a zona entremarés rochosa, para que a sua importância seja mais bem compreendida e a sua conservação mais respeitada e promovida. Conversamos com Zara Teixeira, coordenadora do projeto, que nos falou da importância de iniciativas como esta para promover um maior conhecimento do jovens para com o meio marinho.

“Conhecer é proteger”, começa por dizer a responsável, justificando a importância deste projeto e de outros que promovem a literacia: “Um projeto em literacia do oceano tem sempre como finalidade promover uma mudança de atitude”, afirma. No caso específico do bLueTIDE, o objetivo é motivar comportamentos ativos de conservação da zona entremarés rochosa: “Estes ecossistemas, apesar de bastante frequentes na zona costeira de Portugal, são ainda bastante desconhecidos ou ignorados pelas populações quando vão à praia. Mas a sua importância é inegável, seja pela proteção costeira que as rochas conferem às populações do litoral, seja pelo refúgio que promovem para várias espécies marinhas, nomeadamente como zonas de viveiro para peixes – muitos deles com valor comercial, seja como habitat de outras espécies também elas com valor comercial e de conservação elevado, como é o caso de algumas algas, ouriços-do-mar, mexilhão e percebes”.

Na prática, as atividades mais relevantes, promovidas no âmbito bLueTIDE, foram pensadas para serem replicadas em quatro zonas geográficas: “Figueira da Foz / Sardoal; Peniche / Vila Nova da Barquinha; Setúbal / Benavente e Sines / Évora”.

O projeto contou com vários tipos de atividades:
  • Atividades em sala de aula: Sessões com investigadores sobre a zona entremarés rochosa, que incluíam jogos didáticos e uma sessão online conjunta com os 541 alunos (12 escolas), em que os embaixadores da escola azul tiveram a oportunidade de apresentar os seus projetos às restantes escolas.
  • Atividades fora da sala de aula: Que incluíram visitas à zona rochosa entremarés para conhecer a biodiversidade in loco e uma grande festa na praia que juntava escolas do litoral e do interior.
  • Formação de Professores: Ações de Formação acreditadas, que incluíam uma visita à zona entremarés rochosa, com o objetivo de transmitir aos participantes como poderiam utilizar estes ecossistemas como recurso pedagógico.
“É a base para que os cidadãos se tornem ativos na proteção do oceano”

Agora que o projeto terminou, o balanço deste projeto não poderia ser mais positivo, excedendo os indicadores previstos e cumprindo os prazos propostos: “Mais concretamente, o projeto teve 1500 beneficiários diretos, dos quais 541 foram crianças em contexto escolar e 140 professores (distribuídos por 11 ações de formação nas zonas da Figueira da Foz, Peniche, Ericeira, Setúbal e Sines)”. Os restantes “foram crianças e adultos em atividades de divulgação, comunicação de ciência e sensibilização ambiental, na sua maioria em atividades organizadas em parceria com outras entidades”, no contexto de outros programas como o Ciência Viva no Verão, a Noite Europeia dos Investigadores, o CoastWatch, e o FMMSines, afirma.

Sobre como o bLueTIDE reforçou a ligação dos mais novos ao oceano, Zara Teixeira explica que o projeto proporcionou o contacto direto com um ecossistema marinho, chamando a atenção para detalhes que pouca gente conhece: “Este contacto e a surpresa causada por determinados detalhes sobre as espécies e a sua relação com o ambiente foi uma das formas de ajudar a reforçar a ligação com o oceano”. Por outro lado, foi possível chamar a atenção para a influência que estes ecossistemas têm no ser humano e vice-versa: “Esta relação de interdependência é crucial para a sustentabilidade social, económica e ambiental. O nosso papel foi ajudar a perceber esta relação e a sua importância para o nosso bem-estar e sobrevivência”, acrescenta.

Mais uma vez, a promoção deste tipo de projetos reveste-se de grande importância no sentido que esta é uma relação que deve ser sempre fortalecida: “É a base para que os cidadãos se tornem ativos na proteção do oceano”. É também por isso “a base para atingir o grande objetivo de um qualquer projeto em literacia do oceano, isto é, garantir mudanças de comportamento que promovam um oceano sustentável”, sustenta.

Apesar de, para já, não estar a ser equacionado dar seguimento ao projeto, a coordenadora do bLueTIDE afirma que tudo depende de financiamentos: “Mas, não invalida que algumas ações pontuais sobre a temática não possam acontecer, nomeadamente mais sessões da formação de professores “Um Pé na Maré” e visitas às plataformas rochosas com famílias e/ou escolas”.

A equipa bLueTIDE está neste momento empenhada no desenvolvimento de recursos pedagógicos que servirão como ferramentas essenciais para os professores se sentirem confiantes para explorarem autonomamente o ecossistema da zona entremarés com os seus alunos: “Em breve, estes recursos estarão concluídos e disponíveis online”, adianta Zara Teixeira, destacando que a equipa do projeto está também a finalizar um “Livro de Curiosidades sobre a zona entremarés rochosa”.

O bLueTIDE é um projeto de literacia do Oceano financiado pelo programa EEAGrants- SmallSchemes, que tem como público-alvo principal o primeiro ciclo (alunos e docentes) e que inclui escolas do litoral com o galardão Escola Azul (do Ministério da Economia e Mar / DGPM)) e escolas a mais de 50km da costa sem o galardão Escola Azul. O projeto é promovido pela Incubadora do Mar & Indústria da Figueira da Foz, que conta com 26 investigadores do MARE-Centro de Ciências do Mar de quatro Unidades Regionais de Investigação: Universidade de Coimbra (coordenador científico); Politécnico de Leiria, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Universidade de Évora.