CAP: “A água utilizada pela agricultura representa alimento para os cidadãos”

“A agricultura não gasta água, a agricultura usa a água: se os agricultores não gastarem um litro de água não é possível ter um alimento com um quilo”. A mensagem foi partilhada por Luís Mira, secretário geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) numa sessão sobre “Águas e Resíduos e a sua relação com a agricultura, com a saúde e com a restauração”, promovida nas “Conferências de Março”, uma iniciativa da ERSAR ( Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos).

O responsável que centrou o discurso na “gestão de águas residuais e de resíduos e o seu impacto na agricultura” não quis deixar de partilhar uma constatação: “A água utilizada pela agricultura representa alimento para os cidadãos”. No que à utilização das águas residuais diz respeito, o responsável não tem dúvidas de que o setor da agricultura não faz parte do problema, mas sim da solução: “Aliás, se utilizássemos todas as águas residuais que são produzidas em Portugal isso daria apenas para 7% do consumo da água no setor agrícola”.

Não perdendo o foco da água que é utilizada pelo setor, Luís Mira chamou a atenção para a situação que a Europa atravessa e as consequências que podem surgir na produção de alimentos: “É preciso tomarmos outras medidas para que não haja quebras nas cadeias de abastecimento”.

Partindo do pressuposto que “as cidades onde se produz mais águas residuais estão longe dos sítios onde é precisa a água”, o secretário geral da CAP chama a atenção para os “custos” que estão em causa: “A energia e o combustível com os preços que estão agora não ajuda e, (mais uma vez) vai repercutir-se no custos dos alimentos”.

Em matéria de água reutilizada, Luís Mira constata que é “muito mais barato e fácil” de o fazer nas cidades: “Há um conjunto de utilizações, seja na lavagem de ruas ou nos jardins onde é mais eficiente a reutilização da água do que na agricultura”.

Relativamente aos resíduos, o responsável lamenta o facto dos solos em Portugal terem um “baixo teor de matérias orgânicas”, tendo uma grande utilidade na “melhoria da estrutura do solo e na capacidade de retenção de água e produção”. Mesmo assim, o secretário-geral da CAP acredita que haverá um “grande incremento” quando entrar em vigor a separação na origem dos resíduos orgânicos dos restantes resíduos: “Vai permitir um conjunto de resíduos urbanos só com resíduos orgânicos e esses vão ter uma apetência muito grande e rápida para serem utilizados na agricultura”. Atualmente, não funciona devido às más experiências registadas: “Muitos agricultores que utilizaram os resíduos com vidro, plástico: há uma má imagem dos resíduos na utilização agrícola”. Acresce que os “compradores e hipermercados são muito exigentes no controlo de resíduos nos próprios alimentos e têm medo que algum elemento impossibilite a venda com segurança”.

“Garantir a qualidade do composto” ou a “padronização do produto” são medidas que Luís Mira quis reiterar como essenciais, não esquecendo algumas regras que também necessitam de ser clarificadas: “Se utilizar águas residuais tenho que deixar uma caução na APA (Agência Portuguesa do Ambiente) porque se houver algum problema sou eu o responsável: é óbvio que não deixo caução e nem utilizo águas residuais”. Portanto: “ Se queremos utilizá-las, têm que estar adaptadas ao mercado e às circunstâncias”, defende.

Apesar da “grande ambição” depositada no Green Deal, a situação atual tem virado as atenções dos europeus para crise que se vive: “As preocupações do agora  não são as preocupações que (…) tinham há 15 dias. Tudo isto tem de ser ajustado às circunstâncias: é uma tarefa que a Europa terá que pôr em ação”.