Cascais Ambiente na “linha da frente” no combate à maior crise dos últimos tempos

Para além dos serviços de limpeza urbana e recolha de resíduos urbanos com que iniciou a sua atividade em 2005, a Cascais Ambiente, empresa pertencente à Câmara Municipal de Cascais, é também responsável pela gestão de espaços públicos verdes urbanos, de jogo e recreio do concelho, da agricultura urbana, bem como pela gestão dos recursos naturais e da orla costeira. Na alçada da empresa municipal está também a promoção e a realização de atividades destinadas à preservação, à qualificação e à valorização do ambiente e às alterações climáticas, à educação ambiental e ao conhecimento nestas áreas. No fundo, todos os valores da Cascais Ambiente e toda a sua atividade está centrada no meio-ambiente.

Este foi o ponto de partida para Luís Capão, presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, salientar também a importância que a empresa dá à “valorização do capital natural nos espaços urbanos e nos espaços mais rurais”, que se traduz numa “política de regeneração urbana integrada”, que passa por tornar as áreas urbanas mais “verdes” e com uma “menor pegada ambiental”, proporcionando “espaços rurais preservados em termos da sua biodiversidade”, que possam ser igualmente usufruídos pelos cidadãos. Por outro lado, numa perspetiva “stricto sensu”, a Cascais Ambiente dá igualmente importância a todos os “processos de descarbonização da frota”; à “recolha dos biorresíduos”, para reduzir as emissões associadas aos aterros e fechar o ciclo dos restos alimentares; à “implementação de sistemas inteligentes na gestão dos resíduos” permitindo reduzir custos e otimizar os veículos, baixando as emissões associadas; à “educação ambiental”, que prepara a camada mais jovem para os temas ambientais, criando dinâmicas de participação ativa; à “sensibilizaçãoo”, que visa mobilizar os cidadãos para práticas mais sustentáveis, prevenindo comportamentos que têm “impactos graves” no planeta e às “Hortas Comunitárias” que criaram “comunidades intergerações” e deram o mote para “dinamizar os produtos locais, sazonais e biológicos” produzidos no concelho, tornando-se “mais sustentáveis e saudáveis”.

[blockquote style=”2″]A pandemia aproximou-nos das atividades e produtos locais, dos espaços exteriores dos nossos bairros, da vida social nas nossas ruas[/blockquote]

Quando questionado, pela Ambiente Magazine, para fazer um balanço de 2020, o responsável avalia o ano como desafiante: “Aprendemos, adaptámo-nos e continuamos a inovar em várias áreas. A pandemia condicionou algumas das nossas atividades que tiveram de ser ajustadas, mas isso foi também o que aconteceu a quase todas as atividades”. Na perspetiva de Luís Capão,  a perceção sobre o “espaço público” e a “importância” que tem na vida das pessoas “mudou”, pelo que a “responsabilidade das entidades públicas” e o “alcance das políticas públicas” também cresceu: “As cidades não podem ser apenas aglomerados cinzentos sorvedores de recursos e a componente ambiental tem de estar integrada nas cidades porque é essencial ao bem-estar físico e mental de todos nós”. É por isso, defende o responsável, a sustentabilidade tem de estar presente em todas as iniciativas, sendo que a “aposta” tem de ser cada vez mais em “projetos circulares” e em “sistemas tecnológicos” que “complementem a ação humana, não que a substitua”.

Num ano em que os temas ligados ao ambiente “perderam” o “palco mediático” para a pandemia, o presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente não tem dúvidas de que se ganhou um “novo espaço de contemplação e perceção da importância dos espaços naturais”, o que representa uma “grande oportunidade” para implementar a mudança: “A pandemia aproximou-nos das atividades e produtos locais, dos espaços exteriores dos nossos bairros, da vida social nas nossas ruas”. E a prova disso é que, os espaços geridos pela Cascais Ambiente, como a “Quinta do Pisão” (Parque de Natureza com 380 hectares localizado no Parque Natural de Sintra-Cascais, totalmente requalificado pela Cascais Ambiente) ou a “Duna da Cresmina” tiveram uma procura crescente: “O número de visitantes nestes espaços aumentou consideravelmente em 2020, na ordem dos 70%, comparativamente com o ano anterior”, precisa.

[blockquote style=”2″]Os serviços nunca pararam e foram adaptados no sentido de garantir todas a segurança quer para a saúde pública[/blockquote]

Num ano em que as “prioridades mudaram” para toda a sociedade e “todas as atividades tiveram de se adaptar e moldar” às exigências ditadas pela pandemia, torna-se difícil falar em cumprimento de metas ou objetivos. Ainda assim, o responsável destaca a “capacidade de resposta e de adaptação” dos colaboradores da empresa que estiveram na “linha da frente”. E um bom exemplo disso foi o facto da “recolha de resíduos” se ter mantido a 100% no concelho, declara. Além disso, foi criada uma “equipa de desinfeção” que assegurou a “desinfeção e higienização mecânica” dos “espaços e equipamentos públicos, papeleiras, contentores, ilhas ecológicas, corrimãos ou abrigos de paragens de autocarro”. Desta forma, objetivo de garantir um serviço público de excelência foi cumprido: “Os serviços nunca pararam e foram adaptados no sentido de garantir todas a segurança quer para a saúde pública”, assegura.

Quanto a projetos, Luís Capão destaca o lançamento da “recolha de biorresíduos domésticos em sacos”, numa área que abrange cinco mil famílias: “Os biorresíduos são separados em sacos verdes distribuídos às famílias pela Cascais Ambiente e são recolhidos juntamente com os resíduos indiferenciados, não existindo qualquer limitação à deposição dos biorresíduos nos contentores”. A empresa ambiental inaugurou, também, em julho, o primeiro ecocentro móvel do país: “Este equipamento disponibiliza contentores para 12 fluxos de resíduos, considerados resíduos domésticos perigosos, como pilhas, pequenos eletrodomésticos, cabos elétricos, lâmpadas, tonners, latas de sprays, e outros”. Por fim, a “revitalização da vinha do Mosteiro de Santa Maria do Mar, em Sassoeiros”, que foi replantada em “2,7 hectares”, com o objetivo de “relançar a venda ao público do Vinho de Carcavelos”, tornando a sua produção “mais profissional” e “permitindo recuperar este património”, acrescenta. Já as atividades que, habitualmente, requeriam o “envolvimento da população” foram mais afetadas, na medida em que tiveram de ser adaptadas. Foi o caso do projeto das Terras de Cascais que passou para o formato online: “A equipa deste projeto está muito próxima da população, acompanhando as hortas de cada um e proporcionando formações adequadas”. O mesmo sucedeu com o “Programa de Educação e Sensibilização Ambiental (PESA)” que no ano letivo 2019/2020 abrangeu “81 estabelecimentos de ensino” em que estiveram envolvidos “27.658 alunos”, desde o ensino pré-escolar até ao ensino secundário, refere.

[blockquote style=”2″]Um planeta mais sustentável significa mais qualidade de vida e mais saúde para todos[/blockquote]

Sobre os impactos negativos que a Covid-19 teve nas questões ambientais, Luís Capão destaca desde logo aquele que é o mais visível: “O tema das alterações climáticas passou para terceiro ou quarto plano”. Além disso, o responsável dá outros exemplos, como a “proibição da utilização do plástico de utilização única foi adiada”, deixando de se fazer a “recolha seletiva” e pondo em causa o “caminho para a adoção de novos comportamentos” ou o  “aumento da produção de resíduos hospitalares ou perigosos” face à necessidade de se manter as “condições de segurança” com a pandemia.

Contudo, a pandemia “abriu uma janela” para introduzir a perspetiva de que a “mudança” para uma “economia” e uma “sociedade” com “menos impacto no planeta”, ou seja, “mais circular e sustentável”, é uma questão de vantagens a todos os níveis. E, atenta o responsável, um “planeta mais sustentável” significa “mais qualidade de vida e mais saúde para todos” no que respeita ao ar, à água e ao solo,  “mais segurança” do ponto de vista da “redução de eventos naturais extremos ou catástrofes naturais” e “mais estabilidade política”, evitando “conflitos e problemas geopolíticos” relacionados, por exemplo, com a “desertificação”, o “aumento de preços de alimentos” ou a “emigração”. Desta forma, a “sustentabilidade” não pressupõe passarmos para um “modo de vida medieval”, pressupõe antes uma “vida mais equilibrada e saudável”, pelo que, defende Luís Capão, é essa a mensagem que deve chegar às pessoas e às empresas criam produtos alternativos: “Mais de 800 mil empregos podem ser criados na Europa até 2030 com a economia circular, estima a Comissão europeia”, declara.

Relativamente a perspetivas para os próximos anos, Luís Capão destaca o “Roteiro para a Neutralidade Carbónica de Cascais em 2050”, que está em “fase final” de elaboração e deverá ser uma “ferramenta essencial” na definição do caminho das políticas públicas no concelho de Cascais. Para já, diz o responsável, está prevista a criação de uma “estratégia” que inclua a “prevenção da produção de resíduos” no município, a “promoção da economia circular e da descarbonização”. No âmbito da economia circular, o projeto Terras de Cascais que “apoia e incentiva a produção e o consumo de produtos frescos locais, biológicos e sazonais” já está em marcha: “Temos uma lista de espera para as hortas comunitárias de cerca de 1.700 pessoas, dos mais variados estratos sociais e etários”. Outra premissa da atividade da Cascais Ambientes passa por “aumentar os fluxos de materiais separados e enviados para valorização”, contribuindo para “aumentar a reciclagem”. De acordo com Luís Capão, a empresa ambienta está a “estudar novos modelos de recolha para resíduos” como os “têxteis”, o “desperdício alimentar em grandes produtores”, os “resíduos de construção” e a “demolição e cortes de jardins”. No âmbito da estratégia de Mobilização e Cidadania Ambiental, a Cascais Ambiente está a reforçar a “capacidade de deposição” apostando na “contentorização subterrânea” (em 2020 foram colocados 60 conjuntos de ilhas ecológicas e para 2021 perspetiva-se mais 70 conjuntos de ilhas) que, além de “maior capacidade” tem “menor impacto na via pública”. Dentro desta área, o responsável destaca também a dinamização em “várias campanhas de informação e sensibilização temáticas”, para apoio ao cidadão e, também, o reforço na “Brigada de Fiscalização” que tem como missão a “mitigação dos focos identificados como problemáticos” no que respeita à “deposição e abandono indevido de resíduos na via pública”. É missão da Cascais Ambiente proporcionar as “condições para os munícipes fazerem a separação dos resíduos”, informando-os sobre o “modo de utilizar os equipamentos”, mas também “responsabilizar” os munícipes pelos “comportamentos que prejudicam o ambiente”, refere.

Os principais projetos da Cascais Ambiente para os próximos anos…  

  • Mais um ecocentro móvel e mais 6 fixos no concelho de Cascais;
  • Alargar a recolha de biorresíduos domésticos a todo o concelho de Cascais;
  • Projeto piloto de recolha porta-a-porta de plástico e papel;
  • Entrada em funcionamento de 10 máquinas de devolução de embalagens de bebidas;
  • Promoção da separação de novos fluxos de resíduos separados seletivamente;
  • Implementação do Roteiro Carbónico Cascais 2050;
  • Continuação da estratégia de promoção da biodiversidade no concelho de Cascais;
  • Dinamização das atividades de natureza nos espaços geridos pela Cascais Ambiente, como forma de aproximar os munícipes à natureza, proporcionando momentos de lazer e diversão às famílias;
  • Aumentar a frota dos veículos elétricos e veículos com outros combustíveis alternativos;
  • Consolidação do projeto vinho da Carcavelos, com mais participação dos munícipes;
  • Ampliação de espaços naturais para usufruto dos munícipes;
  • Consolidação do projeto Quinta do Pisão, com o reforço da Horta e das atividades.

[blockquote style=”2″]A emergência climática ainda não é considerada como tal[/blockquote]

Olhando para o panorama ambiental no geral, Luís Capão considera há muito trabalho pela frente: “Reduzir os quantitativos de resíduos é um dos grandes problemas das cidades, porque as cidades são um dos principais geradores de resíduos, que se resumem a materiais desperdiçados”. Para o presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, as entidades, as empresas e as instituições não podem ter medo de inovar para evoluir nestas áreas: “E vem aí uma grande oportunidade com o Horizonte Europa, o programa-quadro de investigação e inovação da UE para o período de 2021 a 2027, que ainda está a ser finalizado”. O concelho de Cascais participou em projetos no âmbito do anterior Horizonte 2020 e os “ganhos foram tremendos”, proporcionando não só a “ajuda financeira” para testar “modelos tecnológicos de sucesso”, mas também a “possibilidade de interagir e partilhar experiências com outros players internacionais”, garante.

A pandemia da Covid-19 mostrou que é possível “mudar regras e comportamentos sociais” de forma súbita e quase radical: “E isso veio comprovar que se poderia fazer muito mais pelo ambiente, caso os líderes políticos se unissem verdadeiramente”. Para o responsável, “teoricamente” já existe tal “figurino”, expresso no Acordo de Paris, que visa alcançar a descarbonização das economias mundiais: “Este acordo remonta a 2015, mas até agora alguns dos principais países responsáveis pelas emissões de carbono nem sequer ratificaram o tratado e os que o fizeram continuam a fazer muito pouco face ao que é necessário para cumprir o acordo”. E a questão é que, “não se trata do que falta ao nosso país”, mas do que falta em termos mundiais: “A emergência climática ainda não é considerada como tal”. E, termos efetivos, “os líderes políticos têm de assumir estes compromissos nas políticas de gestão do seu território”, defende.

Luís Capão destaca a necessidade da sociedade ser capaz de “aproveitar a oportunidade” que a pandemia trouxe e “fazer a mudança de paradigma” para uma sociedade de “menos consumo, menos resíduos e menos impactos”. Embora se trate de “mudança estrutural” que se impõe, a verdade é que “cada um de nós tem de fazer o seu trabalho de casa, todos os dias”, atenta.  Do lado das empresas, o presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente defende que as medidas suportadas num “sistema de fiscalidade verde” devem ser fundamentais no “incentivo à mudança” por parte das “empresas mais poluidoras”, ao mesmo tempo que são “criados novos postos de trabalho” noutros setores como se tem verificado na “indústria automóvel”. A “fiscalidade verde” também deve ser utilizada na “promoção do ecodesign das embalagens”, refere.

Luís Capão recorda que Comissão Europeia definiu o “plano de ação para esta transição” no Pacto Ecológico Europeu “Green Deal”, que propõe 50 medidas para que a Europa se torne neutra em carbono até 2050, unindo todos os Estados-membro numa ação conjunta. De acordo com o responsável, o orçamento disponível é de “mil milhões de euros” para “dez áreas de ação” como a “descarbonização” nos “edifícios”, nos “transportes” e na “produção de energia”, a “promoção da inovação nos setores industriais” ou a “aposta em tecnologias de baixo carbono”. E é esta a “linha condutora do nosso futuro”, que deverá transformar a União Europeia numa “economia competitiva” com base na “utilização eficiente dos recursos”, isto é, “preservando a biodiversidade”, remata.