Cientistas apelam por medidas para mitigar declínio da abundância de insetos

Uma equipa internacional de cientistas publicou um estudo na revista Nature Ecology and Evolution, apelando para a necessidade de um roteiro de medidas imediatas, a médio e longo prazo, para responder ao declínio da abundância dos insetos. Outros estudos científicos demonstram que a abundância e a diversidade de insetos está a reduzir-se drasticamente devido à ação humana – causadora da perda e fragmentação de habitats, da introdução de espécies invasoras e das alterações climáticas, entre outros – constituindo uma séria ameaça que a humanidade deve enfrentar com urgência.

Face à urgência em tomar medidas, uma equipa internacional de investigadores, da qual fazem parte Paulo Borges e António Onofre Soares do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), na Universidade dos Açores, apela aos governos de cada país para a implementação imediata de várias medidas no sentido de travar o declínio de insetos. No comunicado partilhado com a imprensa, os investigadores destacam para a necessidade de reduzir de forma imediata e significativa a emissão de gases com efeitos de estufa, eliminar gradualmente o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos substituindo-os por medidas ecológicas, e reduzir a poluição luminosa e sonora são algumas das recomendações.

“Torna-se urgente manter a diversidade da paisagem, construir corredores ecológicos e evitar a proliferação de espécies invasoras que alteram os habitats. Com as alterações climáticas também é necessário redesenhar muitas áreas protegidas. Finalmente, é necessário manter a monitorização da abundância e diversidade dos insetos nas áreas naturais e nos ecossistemas agrícolas e florestais”, explica Paulo Borges.

Estas medidas surgem integradas num roteiro que propõem também medidas a médio e longo prazo. Entre estas medidas estão a aposta em mais investigação para compreender qual a contribuição de diferentes fatores de origem humana no declínio de insetos; a análise dos dados já existentes em coleções de insetos particulares e de museus e universidades; e, a longo prazo, o lançamento de parcerias público-privadas e iniciativas de financiamento sustentável com o objetivo de restaurar, proteger e criar novos habitats vitais para os insetos.

“É preciso agir já. As evidências que já existem sobre algumas das principais causas do declínio de insetos são suficientes para nos permitir formular medidas imediatas. E os resultados da investigação que continua a ser desenvolvida, sobre espécies e regiões menos conhecidas, vai permitir modificar e melhorar as medidas já implementadas se necessário. Mas é fundamental agir já, caso contrário pode tornar-se demasiado tarde”, conclui Paulo Borges.

Este estudo é coordenado por Jeffrey Harvey, investigador do Instituto Holandês de Ecologia, envolvendo uma equipa internacional de mais de 70 investigadores.