Cinzas nas albufeiras e barragens

O desafio de manter a água potável após os incêndios*

As albufeiras de Castela e Leão, Extremadura, Galiza e da Comunidade de Madrid enfrentam um novo desafio: a entrada de cinzas provenientes dos recentes incêndios florestais que devastaram milhares de hectares neste verão. As primeiras chuvas arrastarão cinzas e restos queimados para os leitos dos rios, alterando a qualidade da água que chega às estações de tratamento, levantando alertas quanto à qualidade da água destinada ao consumo humano.

As consequências diretas na água manifestam-se num aumento da turbidez, da coloração e dos sólidos em suspensão, para além de provocarem alterações químicas, como maior concentração de nutrientes (nitratos e fósforo), carbono orgânico dissolvido, metais e um aumento do pH, devido ao caráter alcalino das cinzas.

Perante esta ameaça, os técnicos insistem no reforço das medidas preventivas nas áreas florestais – como valas, barreiras vegetais ou limpeza dos cursos de água – bem como na monitorização constante da qualidade da água.

Embora a presença de cinzas represente um desafio adicional para as estações de tratamento, é importante destacar que os sistemas de potabilização estão concebidos para se adaptarem a estas condições. Os profissionais do setor ajustam os processos de coagulação, filtração e desinfeção para garantir que, apesar das alterações na água bruta, o resultado final obtido cumpra todos os padrões de qualidade e segurança.

Neste contexto, ganha especial relevância a experiência da divisão de água da ACCIONA, que gere várias estações de referência no país vizinho. Todas as infraestruturas construídas e operadas pela ACCIONA estão perfeitamente preparadas para lidar com todo o tipo de incidentes, como já ficou demonstrado durante o episódio da DANA que afetou a região de Valência no ano de 2024. As tecnologias de ultrafiltração e, nalguns casos, de osmose inversa permitem reter contaminantes dissolvidos de difícil remoção. Além disso, o uso de carvão ativo melhora a eliminação de compostos orgânicos associados às cinzas, reduzindo odores e sabores indesejáveis na água potável. A isto junta-se um sistema digital de monitorização em tempo real, que permite ajustar o tratamento à medida que a qualidade da água bruta vai variando.

Estarão as estações de tratamento preparadas?

As estações de tratamento, em geral, incluem etapas como decantação, filtração, absorção com carvão ativado e desinfeção final (por exemplo, cloragem). Estas permitem eliminar grande parte das partículas, turbidez e matéria orgânica, além de desinfetar a água conforme a legislação. No entanto, quando a carga de cinzas é muito elevada, podem ficar sobrecarregadas, tal como alertam alguns municípios.

Perspetiva imediata

  • Monitorização constante: A análise contínua da água nas captações, albufeiras e nas redes é fundamental para detetar alterações que justifiquem alertas ou restrições na produção de água.
  • Medidas de contenção e prevenção: Valas, barreiras e limpeza das áreas queimadas são ferramentas eficazes para reduzir os riscos.
  • Capacidade das estações de tratamento: Funcionam sob condições controladas, mas podem ficar comprometidas se houver excesso de sedimentos ou cinzas; por isso, a prevenção é essencial.

Por agora, as albufeiras e as barragens continuam a ser uma fonte segura de abastecimento. Com as alterações climáticas a intensificar os incêndios, dispor de tecnologias robustas e flexíveis, como as utilizadas pela ACCIONA, são a melhor garantia para proteger a água num futuro próximo.

*Este texto é da responsabilidade da ACCIONA e foi publicado na edição 113 da Ambiente Magazine.