Por Footprint Consulting
Nos últimos anos, a relação entre sustentabilidade corporativa e o acesso a financiamento tornou-se inegável. As empresas que demonstram ter uma gestão responsável no que concerne ao ESG (Environmental, Social and Governance) e medem rigorosamente a sua pegada de carbono têm acesso a condições financeiras mais vantajosas, linhas de crédito especiais e, em muitos casos, prioridade na aprovação de financiamento para expansão ou investimentos estratégicos. Esta transformação não é apenas uma tendência, mas uma consequência direta de regulamentações emergentes, pressão dos investidores e riscos financeiros associados às mudanças climáticas.
Os dados globais indicam que bancos sustentáveis e fundos verdes cresceram exponencialmente. Segundo a Global Sustainable Investment Alliance, os investimentos em ESG ultrapassaram os 35 trilhões (métrica americana) de dólares em 2023, representando mais de um terço do total de ativos sob gestão global. Esta tendência pressiona as instituições financeiras a ajustarem as suas políticas de crédito, recompensando as empresas que reduzem as suas emissões e reportam uma transparência total no seu desempenho sustentável.
Em Portugal, instituições como Banco BPI, Santander Totta, Millennium BCP e Caixa Geral de Depósitos já começaram a oferecer produtos financeiros verdes. Por exemplo, o BPI lançou linhas de crédito com taxas bonificadas para empresas com certificações ISO 14001 ou relatórios de pegada de carbono auditados, enquanto o Santander Totta inclui critérios ESG na análise de risco de crédito, impactando diretamente na taxa de juros aplicada às empresas. Estes programas têm se mostrado bastante eficazes; com efeito, um estudo da Green Central Banking indica que empresas sustentáveis apresentam um risco de crédito até 20% menor, refletindo uma menor exposição aos riscos regulatórios e os de mercado.
A realidade internacional reforça esta dinâmica. O Banco Europeu de Investimento (EIB) oferece financiamentos com juros reduzidos a empresas que atingem metas de carbono específicas, e bancos norte-americanos como o Bank of America e o Wells Fargo incluem métricas de ESG na determinação de linhas de crédito, promovendo, assim, um alinhamento entre sustentabilidade e custo de capital. Grandes fundos de pensões e investidores institucionais exigem, também, que as empresas forneçam relatórios completos de Scope 1, 2 e 3 para considerar financiamentos ou investimentos, uma vez que o Scope 3 pode representar até 90% das emissões totais de uma empresa, especialmente em setores com cadeias de fornecimento complexas.
O impacto financeiro de não se adaptar a esta realidade é efectivo. As empresas que não têm relatórios auditáveis de carbono enfrentam exclusões nos contratos, aumento do custo de capital, risco de penalizações futuras relacionadas à diretiva CSRD e dificuldade de acesso a linhas de crédito verdes. Segundo dados da Sustainable Finance Observatory, 43% das empresas que não implementaram métricas ESG ou relatórios de carbono viram rejeitados os seus pedidos de financiamento internacional nos últimos dois anos.
Além do impacto regulatório, há benefícios estratégicos claros. Linhas de crédito verdes e taxas de juros bonificadas permitem às empresas investir na sua eficiência energética, inovação sustentável e tecnologias limpas. As empresas que adotam estas medidas reduzem os seus custos operacionais (nomeadamente de energia – Scope 2), aumentam a sua competitividade e fortalecem a sua imagem perante clientes, parceiros e investidores. Um exemplo claro é o da Unilever, que consegue financiar-se com juros mais baixos, para projetos de logística sustentável, devido à transparência nas suas métricas ESG e o seu compromisso com a redução de emissões de carbono.
Outro ponto relevante é que a adoção de ferramentas digitais e SaaS para medição de pegada de carbono está a tornar este processo mais acessível. Efectivamente, as plataformas certificadas por ISO e GHG Protocol permitem que empresas de qualquer tamanho obtenham relatórios precisos, auditáveis e prontos para apresentação a bancos e investidores. Não é necessário investir milhões em sistemas internos: soluções externas já testadas no mercado oferecem escalabilidade e flexibilidade para integrar dados de diversos fornecedores e filiais, alinhando a empresa com os padrões internacionais de sustentabilidade.
O futuro aponta para uma intensificação desta tendência. Os reguladores europeus planeiam exigir relatórios mais frequentes e detalhados, enquanto os bancos e os fundos ESG continuarão a alinhar as suas políticas de crédito com métricas de sustentabilidade. As empresas que não se prepararem agora, enfrentarão um mercado financeiro menos favorável, enquanto aquelas que adotarem as práticas de transparência e redução de emissões de carbono estarão não apenas em compliance, mas com vantagem competitiva clara, acesso facilitado a capital e maior resiliência frente a riscos climáticos e regulatórios.
O recado é direto: quem adotar práticas ESG rigorosas hoje, estará financeiramente mais forte amanhã, com acesso a crédito mais barato, redução de risco e maior posicionamento competitivo no mercado global. Ignorar esta realidade não é apenas arriscado… tem custos elevados!








































