Coruche elege cortiça para potenciar desenvolvimento local

Com a maior área de sobreiro a nível nacional, a eleição da cortiça como imagem de marca de Coruche surgiu como natural na aposta de desenvolvimento realizada nas últimas décadas no concelho.

“A cortiça é um produto local. Há toda uma economia secular em redor da floresta e do sobreiro”, pelo que delinear uma estratégia “com raízes” sustentadas “num passado sólido” e com um “futuro garantido” pareceu natural a quem liderou a autarquia a partir do virar do milénio. Licenciado em História, Dionísio Mendes, que presidiu à Câmara Municipal de Coruche entre 2001 e 2013, depois de ter sido vereador nos dois mandatos anteriores, diz à agência Lusa que, não sendo um produto exclusivo do concelho, foi Coruche que “agarrou” um reconhecimento que já era “muito forte” e o “alavancou” com um conjunto de iniciativas na área da inovação e da criação de marca.

No âmbito dessa aposta, o município aproveitou os fundos comunitários para construir uma estrutura — o Observatório do Sobreiro e da Cortiça — que “aponta os caminhos do futuro”, já que associou a inovação a um produto tradicional, procurando outro usos, nomeadamente nas áreas da moda e do ‘design’.

Vocacionado para promover a inovação no setor, valorizando e dando visibilidade a um produto com projeção internacional, o Observatório tem atualmente parcerias com várias universidades, que utilizam o edifício — ele próprio um “ícone” da aplicação da cortiça na construção e no mobiliário — para os seus trabalhos de campo.

Este caminho levou a que Coruche tenha integrado os membros fundadores da Rede Europeia dos Territórios Corticeiros (Retecork), criada com o objetivo de influenciar as instâncias europeias para a importância da floresta mediterrânica.

“Seja em Portugal, em Espanha, França ou Itália, o sobreiro está integrado num ecossistema único no Mundo, rico em diversidade ambiental e económica, com uma flora e uma fauna riquíssimas, e com esta característica única de ser um recurso que não se esgota, pois a retirada de cortiça não mata a árvore e oferece um produto incomparavelmente melhor que qualquer outro”, declara o ex-autarca.

Com quatro corticeiras instaladas em Coruche (uma funcionando apenas como estaleiro) e uma produção de cinco milhões de rolhas por dia, o setor tem uma importância económica marcante num concelho onde o setor primário “é absolutamente decisivo”, diz.