Covid-19: CAP diz que medidas do Governo foram pensadas para “punhado restrito” de setores

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) congratulou-se com as medidas de apoio anunciadas pelo Governo para enfrentar o impacto da Covid-19, mas lamentou que estas foram pensadas para um “punhado restrito de setores”, com destaque para o turismo e a restauração. “Tem que haver medidas para outros setores, onde se inclui a agricultura”, afirmou Eduardo Oliveira e Sousa, em declarações à Lusa.

Para este responsável importa esclarecer, por exemplo, a dimensão temporal dos montantes apresentados pelo executivo, nomeadamente se estes se destinam ao período total da crise decorrente da pandemia Covid-19 ou se são apenas para este trimestre. Por outro lado, o presidente da CAP defendeu que o regime simplificado de ‘lay-off’ (redução do período laboral ou suspensão do contrato de trabalho) precisa de ser ajustado, uma vez que “se reporta ao período de três meses e só o último [março] é que evidencia uma quebra”, para além de que a operacionalização deste instrumento “deveria ser muito mais rápida e ausente de burocracia”.

Eduardo Oliveira e Sousa vincou ainda que já tinha feito chegar algumas preocupações ao Governo, no âmbito da reunião extraordinária de Concertação Social, que decorreu na segunda-feira, nomeadamente que as linhas de crédito deixam muitas empresas de fora e que “o Governo tem que tratar todos por igual”.

O líder da confederação agrícola apelou também que, caso seja decretado estado de emergência, sejam contempladas medidas de proteção para que não seja interrompida a cadeia de abastecimento agroalimentar. “Alguns destes produtos estão associados ao comércio internacional. A alimentação dos animais não pode ser descurada e as matérias-primas para estes produtos são, maioritariamente, importadas. O fechar de fronteiras tem que [assegurar] que alguns canais ficam abertos. As vacas, se não comerem, não dão leite e as galinhas não dão ovos”, exemplificou.

O presidente da CAP lamentou ainda que alguns agricultores tenham registado hoje dificuldades de acesso ao mercado de Ovar, distrito de Aveiro, onde já foi decretada situação de calamidade. “Apelo às forças de segurança e aos ministérios da Administração Interna e da Agricultura para que vejam os agricultores como um elo fundamental da cadeia não como um cidadão que vai passear”, concluiu.