Crise pandémica pode ser uma oportunidade para se preparar o futuro e lutar contra a crise climática

A Huawei realizou esta quinta-feira, dia 8 de abril, em parceria com a Fortune, uma sessão subordinada ao tema: “The Power of Green: soluções digitais para um futuro sustentável”. A sessão centrou o debate nas soluções digitais na indústria das telecomunicações e as suas contribuições para um futuro livre de carbono. No decorrer da sessão falou-se ainda sobre as mais valias da inteligência artificial, da análise precisa de dados, das redes de energia e dos novos métodos de gestão de armazenamento de energia que podem tornar os sistemas de energia globais mais limpos, mais eficientes e mais produtivos.

Olhando para a pandemia da Covid-19, Annika Hedberg, head of Sustainable Prosperity for Europe Programme da European Policy Centre (EPC), começou por evidenciar os impactos que a mesma teve a vários níveis, essencialmente, no funcionamento das empresas, no modo de vida das pessoas ou até no meio-ambiente: “Levou a uma redução temporária das emissões de gases com efeito de estufa e vimos que tem reduzido o consumo de combustíveis fósseis durante grande parte de 2020”. Mas, segundo os dados da Agência Internacional de Energia, o impacto não tem sido o mesmo em todo o lado: “Por exemplo, na China, as emissões de gases com efeito de estufa foram mais elevadas em 2020, do que em 2019”, refere. É evidente que as reduções de emissões de CO2 sentidas no início da pandemia foram temporárias: “Mas, há um enorme risco de que, se a crise não for usada para bloquear as emissões, sairemos da mesma emitindo ainda mais”, alerta. Por isso, é essencial “encontrar estratégias” e “soluções” para bloquear as emissões: “Penso que existe um enorme potencial na utilização da crise em curso para nos prepararmos realmente para o futuro para enfrentar a crise climática e lutar pela neutralidade climática que beneficiaria as pessoas, as empresas e o planeta”. E nestas matérias, há muitos investimentos a serem feitos: “Utilizemos este dinheiro para aumentar os esforços no sentido de nos levar para onde queremos ir: investir no futuro que queremos”. E isto significa, realmente, “investir em energias renováveis”, apoiando a “eficiência energética”, mas também “impulsionando a transição mais ampla de sustentabilidade”, investindo “numa maior circularidade, numa maior mobilidade sustentável”, bem como “numa agricultura sustentável”, defende.

[blockquote style=”2″]A energia eólica e solar é, hoje em dia, a forma mais barata de eletricidade[/blockquote]

Uma tendência que não parece estar relacionada com a pandemia é o aumento da produção de energia renovável: “Está a aumentar ao nosso ritmo e já vem de anos anteriores. No futuro, basicamente, esta é a forma de energia mais barata que podemos realmente utilizar”, diz Jürgen Tzschoppe, executive vice president International Power da Statkraft. De acordo com o responsável, “2019 foi o ano em que a produção de carvão desceu globalmente em relação ao período anterior” e, na verdade, os “investimentos em energias renováveis estavam a crescer”, uma tendência que, mesmo em pandemia, tem vindo a “aumentar”. De certa forma, “a nova energia, a nova eletricidade virá das energias renováveis”, diz, reforçando não se tratar de uma “tendência política: é porque, de facto, é a forma mais barata de energia em muitos países. Isso é uma notícia extremamente boa”. No entanto, atenta Jürgen Tzschoppe, é claro que também haverá tendências opostas: “A economia vai recuperar. Todos nós esperamos que, até certo ponto, voltaremos a cair nos nossos velhos padrões”, refere. Em matérias de energias renováveis, o responsável mostrou estar “verdadeiramente otimista”, acreditando que há uma “oportunidade de continuar uma tendência positiva” e, que, “não será apenas um caminho de sentido único”.

Relativamente aos avanços na “digitalização” e na “inteligência artificial” na melhoria da qualidade da rede, Jürgen Tzschoppe nota que “há muita coisa a acontecer na indústria”, assistindo-se a um “desenvolvimento tecnológico” que é, de certa forma, “sem precedentes”. Prova disso é o facto de “a energia eólica e solar ser, hoje em dia, a forma mais barata de eletricidade”, algo que “ninguém esperava”, mesmo que se se recuasse apenas cinco ou dez anos: “Esta é uma mudança fundamental”, vinca. Trata-se de uma tecnologia que, hoje em dia, permite “produzir megawatts-hora muito baratos” através do sistema. Mesmo não estando a ser produzida de acordo com a procura e sendo criticada por isso, Jürgen Tzschoppe acredita que “as tecnologias com o armazenamento virão para compensar isso”, sendo que “o atual sistema tem uma grande flexibilidade no armazenamento”. Portanto: “Não é algo de que precisemos hoje ou amanhã. Mas precisaremos de um caminho e as tecnologias estão a desenvolver-se nessa direção”, declara. Além disso, reforça o responsável, a inovação tem demonstrado que “tais tecnologias serão desenvolvidas à medida que avançamos”, estando mesmo a “desenvolverem-se mais rapidamente”, como é o caso da “indústria automóvel”. Aquilo que se tem vindo a assistir é que em termos de “inovação” e de “tecnologias de informação” que fazem com que “o sistema de energia melhore ainda mais”, acontece a dois níveis. Um primeiro nível tem que ver com o facto de as “novas tecnologias” e os “novos sistemas” estarem a tornar a “nova produção ainda mais barata”, dando a possibilidade de se “construir mais barato para operar mais barato, de forma mais inteligente e com menos riscos para as pessoas”. Este é um aspeto de grande importância: “Podemos utilizar máquinas e inteligência para evitar colocar as pessoas em risco quando estão a fazer operações. E há tantas ideias de como fazer isso”. Desta forma, “o custo total da energia descerá apenas como razão da tecnologia da informação e da utilização da mesma”, explica. Já o segundo nível vai permitir ajudar a gerir o sistema, ou seja, “quanto mais eficiente for o funcionamento do sistema, menos tecnologia será necessária para o sobredimensionar”, precisa.

[blockquote style=”2″]As TIC e a tecnologia das telecomunicações são um grande motor de riqueza em todo o mundo[/blockquote]

Ainda em matérias de inovação, Robert Lee, professor of Law da University of Birmingham, deixou claro a importância de a mesma ser utilizada de forma responsável: “Há muitos exemplos em que a inovação nos pode ajudar na luta contra as alterações climáticas e o poder das comunicações para oferecer sistemas de alerta precoce de eventos meteorológicos é prova disso”. Na ambição de se avançar para o “carbono zero líquido”, Robert Lee acredita que tal só será possível através do “acesso a metais tecnológicos”, constando que, neste momento, “algumas dessas ambições são francamente inatingíveis”, a menos que se encontrem “formas melhores e mais sustentáveis […] de passar para alguma forma de circularidade”. Algo que, atenta o docente, deveria ser possível em relação aos metais, uma vez que “perduram se os conseguirmos recuperar na sua utilização”.

Questionado sobre a possibilidade de existir alguma inovação capaz de melhorar as previsões no que ao Acordo de Paris diz respeito, Robert Lee destaca que as “tecnologias baseadas no hidrogénio” são um potencial promissor. E o “armazenamento de energia é verdadeiramente uma grande questão”, uma vez que “oferece possibilidades”, em “grande e pequena escala”, de “sistemas de energia sustentável para as energias renováveis”. Na visão do responsável, as TIC e a tecnologia das telecomunicações são um “grande motor de riqueza” em todo o mundo pelo que “deveriam ser bem-vindas com a retirada das pessoas da pobreza”. No entanto, com o “aumento da riqueza”, os “padrões ritmados de consumo aumentam frequentemente”, incluindo o tipo de consumo de recursos: “Essa mudança de comportamento está no cerne da nossa tendência para o carbono zero, E isso só pode ser conseguido por indivíduos em todo o mundo, mudando a forma como vivem as suas vidas”. Na verdade, constata o docente, o setor das telecomunicações tem uma grande influência: “Liga as pessoas e liga ideias e informação. Por isso, pode ser utilizado como uma grande força”.

[blockquote style=”2″]Não é apenas lançar ou acrescentar a digitalização que o sistema se tornará mais sustentável[/blockquote]

Sobre papel das “smart cities” e a forma como podem contribuir para a redução das emissões de carbono, René Arnold, vice president Public Affairs Strategy, Huawei Technologies Co., Ltd., sublinha a importância de se olhar para o sistema de uma forma muito holística: “Em última análise, não é apenas lançar ou acrescentar a digitalização que o sistema se tornará mais sustentável”. Por isso, para que se possa, efetivamente, “reduzir a pegada sistémica das cidades” e, ao mesmo tempo, conseguir “uma melhor atribuição de recursos”, o responsável destaca a importância de se “pensar na quantidade de energia e emissões que se pode ver” ou então na “gestão eficiente do tráfego” que flui numa cidade: “Este é um ponto muito importante: há uma supervisão e um sistema abrangente”, precisa.