Desconhecimento sobre a classe energética da casa é um entrave a habitações mais eficientes

Uma grande maioria dos portugueses desconhece a classificação energética da sua casa. A conclusão faz parte do estudo – “Casa_PT” – desenvolvido pela UCI Portugal (União de Créditos Imobiliários) em parceria com o Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa. Com o objetivo de perceber melhor o processo de compra de casa em Portugal nos últimos três anos, o estudo procurou saber, junto da população maior de idade residente em Portugal, o que pensam, o que motiva e como tomam as suas decisões quando se fala em procura de casa, procura de financiamento e vivência da casa. Além disso, este relatório pretende contribuir para uma discussão mais alargada sobre a compra de casa, dando aos profissionais do setor dados que lhes podem ser úteis no seu dia-a-dia.

Comentando as conclusões deste estudo, Pedro Megre, CEO da UCI Portugal, acredita que o “desconhecimento significativo” relativamente à classe energética da casa pode ser um dos “principais entraves” para habitações mais eficientes, refletindo a “falta de sensibilização” que ainda existe sobre este tema: “A desinformação relativamente ao certificado energético e à eficiência energética resultam em que muitos clientes não valorizem o comprar uma casa com elevada classificação energética, porque veem essa questão como algo que encarece a operação, e não como um investimento que será amortizado a médio prazo com poupanças mensais de energia, que continuarão por todo o tempo que habitem a casa”. Com uma “melhor classificação energética” pode-se utilizar “menos energia, reduzir o desperdício e custos inerentes: falamos em mais qualidade de vida, redução de pegada ecológica e num imóvel mais valorizado”, afirma.

Ainda assim, consta-se que, aproximadamente 35% dos inquiridos mostram interesse em realizar obras para melhoria da eficiência energética, sendo que a motivação principal está relacionada com a “redução das despesas mensais” de energia. É notório que há, também, um “maior sensibilização” por parte de algumas pessoas sobre o que é possível fazer para melhorar a sua casa em termos energéticos: “Quem percebe os reais impactos da eficiência energética está disposto a apostar nessa questão”. Segundo os inquiridos, a maior parte das obras que fariam para contribuir para uma melhoria energética passaria por “mudança de janelas e caixilhos (46,2%), isolamento térmico (33,4%) e instalação de painéis solares (33,2%)”.

No questão “procura de casa”, o estudo mostra que o “aumento do agregado familiar é o fator mais importante quando se decide mudar de casa”, de acordo com “21,6% dos inquiridos” que compraram casa há menos de três anos. Ainda no momento de procurar casa, as conclusões mostram que mais de 50% dos portugueses privilegiam a existência de espaços verdes (51,8%) na escolha da localização da casa e os principais motivos para a escolha de uma nova casa prendem-se com “localização (50,1%), preço (42,2%) e área (40,7%), e só 12,8% referem a eficiência energética”.

Em relação à “vivência da casa”, o estudo mostra que, além de 87,8% dos inquiridos desconhecerem qual a classificação energética da sua casa, mais de 30% dos portugueses consideram que a sua casa irá precisar de obras nos próximos três anos e, que, 19,9% dos inquiridos ponderam voltar a comprar casa nos próximos cinco anos.

O estudo, segundo Pedro Megre, desmistifica a ideia de que a eficiência energética é apenas algo ligado a preocupações ambientais, embora essa seja sem dúvida uma das suas principais mais-valias: “A maior parte dos inquiridos (53,3%) aponta a redução das despesas mensais com energia como principal motivo para a realização de obras de melhoria da eficiência energética, seguindo-se a valorização da casa (21,5%) e só depois a preocupação com o ambiente (18,1%)”. É importante, por isso, que “os profissionais do setor estejam cientes dessa realidade e que ajustem o seu discurso” de forma a explicarem aos clientes todas as vantagens da eficiência energética, refere. A sublinhar também que, só 12,2% dos inquiridos afirmaram conhecer a classe energética da sua casa: “A maioria do parque habitacional em Portugal, no ano de 2020, pertencia às classes C e D. As classes A e B são também bastante frequentes e é expectável que ainda venham a ser mais, devido ao aumento da construção nova e aos requisitos que têm de ser cumpridos em termos de classificação energética”.

Neste aspeto, o CEO da UCI Coimbra lembra que o Certificado Energético é um documento com informação fundamental sobre a casa e não apenas uma formalidade legal: “É a partir daqui que o proprietário tem a informação sobre a classe energética da sua casa, bem como acesso a sugestões de melhoria especificas para a sua casa, com a indicação do respetivo impacto que terão na classificação energética, bem como a estimativa dos custos da melhoria e poupança anual na fatura energética”. Cabe também aos profissionais do setor “alertar os clientes para esta matéria”, complementando o “importante trabalho que a ADENE tem feito nesta matéria”, acrescenta.

Reunindo estas conclusões, o CEO da UCI Portugal considera que o estudo dá pistas importantes sobre “o que os portugueses pensam e procuram quando querem comprar uma casa”, num contexto tão desafiante como o atual. Em termos de preocupações ambientais e certificação energética, percebe-se, com o estudo, que “ainda há muito a fazer no que refere à sensibilização” para estes temas: “A UCI tem procurado contribuir para um maior conhecimento sobre este tema, criando soluções a pensar, justamente, em casas mais ecológicas”. Desta forma a instituição financeira, tem “condições especiais de crédito habitação”, através das soluções de crédito “habitação green”, permitindo a “quem quer comprar uma casa com elevada eficiência energética possa fazê-lo com condições mais vantajosas”, sustenta.

Todas as entrevistas realizadas no âmbito deste inquérito foram efetuadas por telefone (CATI), a partir de uma seleção aleatória. Foram obtidos 2.964 inquéritos válidos, sendo 54,71% dos inquiridos mulheres e 37,14% dos respondentes referem ter o ensino superior. Estão representados 260 concelhos portugueses.