Por Alexandra Azevedo, Presidente da Direção Nacional da Quercus
Das várias efemérides relacionadas com o Ambiente, o Dia Mundial do Ambiente é, porventura, uma das mais marcantes. O facto de advir da primeira conferência mundial alguma vez organizada para as questões da ecologia, a Conferência de Estocolmo realizada em 1972, é na verdade um marco histórico.
De então para cá, há todo um processo em curso de discussões, acordos e ações a nível mundial, como as COP, para por sua vez se refletirem ao nível de políticas nacionais, e ação local, na lógica de “pensar global, agir local”, num processo com várias dimensões, desafiando a nossa criatividade e coerência.
Na verdade, as evidências mostram-nos sinais contraditórios. Por um lado, temos assistido a uma clara evolução das políticas ao nível ambiental, e nas práticas produtivas, por outro a flexibilização e retrocessos na regulamentação, a deficiente capacidade de fiscalização, a corrupção… têm enfraquecido o seu propósito.
Uma situação paradigmática que experienciamos neste momento é: em nome da alegada resposta à crise climática, tem aumentado a destruição da Natureza. O que espelha o quanto a transição energética precisa de se alinhar com uma genuína transição ecológica.
Dada a abrangência do tema ‘Ambiente’, este ano foi escolhido como tema ‘Combater a poluição por plástico’. Ora, aqui está mais um exemplo com sinais contraditórios. Não obstante as metas para redução de resíduos e da circularidade dos materiais, a questão coloca-nos ainda num grande desafio para passos mais determinados rumo a uma sociedade livre da poluição pelos plásticos.
Na verdade, como podemos vislumbrar uma efetiva redução da poluição pelos plásticos, quando, por exemplo, o mercado nos inunda ainda de plásticos de utilização única, ou seja, descartáveis? Uma efetiva solução começa desde logo na fonte da questão.
Existem alternativas para uma real conversão da dependência que se foi instalando… silenciosamente… de extração, produção, descarte e poluição.
Soluções criativas e modelos alternativos de consumo são já realidade para quem se permite e dá espaço a despertar consciências, ao nível individual e coletivo.
Requer-se liderança política para com coragem se avançar com passos determinados e coerentes, de modo a que os enunciados das leis passem à concretização do cumprimento das metas e compromissos assumidos.
Uma sociedade civil atenta e ativa, qual revolução silenciosa na ação quotidiana, nutre a nossa
capacidade de resiliência.
Mais do que nunca, é vital uma ação coletiva visionária para acelerar a construção do futuro que queremos.