É o momento de Sines se afirmar como “Porta da Europa” em matérias de energia (Parte II)

No âmbito dos 20.º aniversário do Alqueva, a Ambiente Magazine esteve à conversa com João Grilo, presidente da Câmara de Alandroal, que fez um balanço muito positivo de um empreendimento que se afigura de grande importância para a região do Alentejo. A conversa estendeu-se a outros projetos que a região tem vindo a trabalhar, nomeadamente a ferrovia e a aposta nas energias limpas.

“A ferrovia voltou a ser encarada como um transporte estratégico e de futuro e Portugal voltou a ter uma agenda ambiciosa nesta matéria”, destaca o autarca, acrescentando que “os investimentos previstos para o Alentejo são estruturantes para a região e para a ligação do país ao resto da Europa”. Pela dimensão do investimento e resultados esperados, o destaque vai para a obra do “Corredor Internacional Sul”, que permitirá ligar “Sines ao Caia (Elvas)” e, deste modo, a “Espanha e à Europa”, reforçando a “conectividade entre Lisboa e Madrid por esta via”. Tal como indica João Grilo, as obras decorrem a “bom ritmo e no cumprimento dos prazos previstos” pelo que se espera que “toda a construção civil (obra geral), via e catenária do novo troço de mais de 90 quilómetros entre Évora e a fronteira esteja concluída no final do primeiro trimestre de 2023”. Mas, não é só a ferrovia que faz parte do pipeline de investimentos da região: “Falamos de outros investimentos previstos para o Alentejo de extrema importância como os que visam reduzir os tempos de viagem de Lisboa a Beja e ao Algarve e a ligação aos aeroportos de Beja e Faro”. Em todos os casos, trata-se de “encurtar tempos e distâncias de movimentação de passageiros e cargas e de aumento das dinâmicas económicas”, reduzindo de “forma significativa as emissões de carbono associadas aos transportes rodoviários”, com assinaláveis vantagens ambientais, assinala. No caso concreto do Corredor Internacional Sul, o responsável refere que “estão por definir as interfaces de passageiros e mercadorias que poderão ser criados na nova linha”, sendo certo que “quanto mais possibilidades, maior será o contributo para a mudança de paradigma energético e de reforço das dinâmicas económicas regionais”. Já na Extremadura espanhola está em curso um “projeto pioneiro que visa a criação de um comboio movido a hidrogénio”, solução que poderia representar um “transporte totalmente livre de emissões de dióxido de carbono”, acrescenta.

Em matérias de energia, João Grilo considera que a região está a demonstrar que tem “condições únicas para o desenvolvimento de projetos de energias limpas”, tratando-se de um “potencial que está longe de estar esgotado”, pelo que a “dimensão do território”, o “tipo de propriedade”, a “elevada exposição solar” são fatores determinantes. À revolução do fotovoltaico – “que só se poderá considerar concluída quando chegar às populações através das comunidades de energia” – juntar-se-á, em breve, a “revolução do hidrogénio verde”, sendo já conhecidas “várias intenções de projetos de grande dimensão” para o Alentejo, refere. Para o responsável, “a capacidade hidroelétrica instalada, a combinação do potencial fotovoltaico, com o eólico e com o uso dessa energia para a hidrólise da água e produção de hidrogénio tornarão a região uma referência”,  havendo sempre espaço para novas abordagens e novas soluções: “Não é difícil imaginar um Alentejo autossuficiente e altamente exportador de energia, a médio prazo, e a dar um contributo essencial para o cumprimento das metas nacionais de transição e independência energética”.

Numa altura em que a Europa está muito dependente da Rússia ao nível de gás natural, o autarca acredita que é o momento do Porto de Sines se afirmar como “ponto de interconexão energética com o continente europeu”, constituindo-se como uma “verdadeira Porta da Europa” nesta matéria, utilizando a sua “posição geoestratégica”, e afirmando-se como uma “plataforma de distribuição e abastecimento entre os continentes americano, africano e europeu”.Tal como tem vindo a ser discutido e, apesar das “pressões de Portugal e Espanha”, o responsável indica que os “constrangimentos existentes no que diz respeito ao gás natural estavam associados a posições de natureza política” por parte de França na interconexão entre este país e Espanha: “Ora, o governo francês assumiu há dias que esses constrangimentos estão totalmente ultrapassados e está aberto caminho ao desenvolvimento de soluções de longo prazo”, remata.

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