É preciso “acelerar 5 vezes a descarbonização das indústrias para atingir objetivos do Acordo de Paris”

A conferência “Energia e Economia Circular”, promovida pela Smart Waste Portugal, organizou um painel sob o tema “A economia circular como estratégia de descarbonização na indústria”, contando com as intervenções de Carlos Abreu da Secil, de Cátia Carreira da Vista Alegre Atlantis, de Franco Caruso do grupo Brisa, Henrique Monteiro da Vidrala e Pedro Couto da EDP Geração.

Como representantes de diferentes indústrias (cimenteira, vidreira e mobilidade), todos concordam num ponto: há trabalho contínuo a fazer para descarbonizar as respetivas empresas e isso é um objetivo cada vez mais claro, mas há desafios: “somos um grande consumidor de energia e altamente dependentes de gás natural”, explicitou Cátia Carreira da Vista Alegre; “uma alternativa é o hidrogénio, mas o problema é o preço que está nos oito euros por quilo”, rematou Carlos Abreu da Secil, com quem concordou Henrique Monteiro da Vidrala: “os preços são impeditivos”.

Neste sentido de avançar com uma descarbonização das indústrias, essencialmente através do uso de outros recursos alternativos e mais sustentáveis, Pedro Couto da Geração EDP falou do caso da Central de Sines (fechada em 2021), que será reconvertida numa Central de Hidrogénio Renovável, no intuito de “adicionar capacidade de energia renovável”. O mesmo alertou para o facto de ser necessário “acelerar cinco vezes a descarbonização para atingir os objetivos do Acordo de Paris” e que isto só acontece com a promoção de novos produtos em baixo carbono.

No caso particular da indústria vidreira, Henrique Monteiro e Cátia Carreira evidenciaram o potencial reciclável e reutilizável do vidro, sendo que a Vista Alegre aponta que 97% dos resíduos de porcelana são valorizados, indo para aterro apenas 3%. Além disso, há uma tentativa de potenciar o calor dos fornos para secagem de peças, por exemplo.

Nisto também a indústria cimenteira tem tentado apostar, garante o responsável da Secil, que ainda alerta que a disponibilidade de Combustível Derivado de Resíduos (CDR) em Portugal “não chega para alimentar a necessidade desta indústria”, sendo que 50% vem do nosso país e os outros 50% vem de fora: “há em quantidade suficiente, mas não com as características necessárias”.

No caso da mobilidade, Franco Caruso do Grupo Brisa explica que o tema dos transportes é “crítico”. No que a si diz respeito, a Brisa tem em fase de arranque três projetos-piloto (dois na A3 e um na A6) para a reutilização de fresados, esperando uma introdução de 40% deste material na camada de desgaste das estradas. Também se espera a retoma do uso de borracha e de plástico, enquanto o objetivo é atingir o nível 3 de economia circular em 2028.

Em sintonia fica a ideia de serem necessários mais incentivos e apoios por parte do Governo.

A conferência realizou-se esta terça-feira, 27 de setembro, no auditório da EDP, em Lisboa.

“Temos potencial energético que não estamos a aproveitar enquanto país”