“É um dado adquirido que houve um abandono da ferrovia durante muitos anos”

O dia 2 de setembro de 2021 fica marcado pela partida do “Connecting Europe Express” da Gare do Oriente, em Lisboa. Ao longo de 36 dias, o “comboio especial” vai percorrer vários países europeus, estando prevista a chegada a Paris a 7 de outubro. Esta iniciativa, inserida no Ano Europeu do Transporte Ferroviário, destaca a importância da ferrovia na descarbonização dos transportes.

Para assinalar o momento, a Representação da Comissão Europeia em Portugal organizou um debate sobre mobilidade sustentável que juntou a Comissária Europeia dos Transportes, Adina Vălean, e o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro. Este evento fez parte da “Conferência sobre o Futuro da Europa” e centrou-se, essencialmente, nos cidadãos.

Adina Vălean

Para a comissária, os transportes são a “espinha dorsal” que liga os cidadãos e as empresas europeias e, por isso, é tão importante investir numa mobilidade mais inteligente, eficiente, e também ecológica. “Precisamos de proporcionar às empresas um caminho claro para os investimentos verdes que terão de fazer ao longo das próximas décadas”, referiu Adina Vălean, lembrando que os transportes ainda enfrentam muitos desafios: “Temos empresas a investir em veículos limpos, mas temos ainda uma infraestrutura limitada pela procura”.

Quem corrobora esta opinião é Eduardo Pinheiro: “Não basta ter preocupação. Se as pessoas não tiverem transportes públicos de qualidade ou se não forem cómodos, na prática, isto não passa de discurso”. Aliás, “se não tivermos oferta, não valerá de nada ter a vontade toda para andar de comboio”, exemplifica. Citando os resultados de um estudo feito para a cidade de Lisboa, o secretário de Estado da Mobilidade lembra que os jovens entre os 20 a 25 anos são os que mais utilizam as ciclovias: “O tema da sustentabilidade já está bem presente”. Ainda assim, olhando para a ferrovia, o responsável reconhece que há ainda muito para fazer e crescer: “É um dado adquirido que houve um abandono da ferrovia durante muitos anos no Interior do país, mas também na ligação para a Europa”. É por isso que o Plano Ferroviário centra-se principalmente em “recuperar o mais rápido possível o atraso verificado”, destaca. A título de exemplo, está o Centro de Competência Ferroviário, criado ao longo de 2020 e pronto a entrar em funcionamento em 2022: “Partilha tanto a ferrovia pesada, mas também o Metro de Lisboa e o Metro do Porto: é uma oportunidade única para o desenvolvimento do ponto de vista da indústria, da inovação com a ligação à academia para desenvolver algumas das competências que estavam perdidas”. O setor da mobilidade é um tema muito atual e uma prioridade para o Governo: “Reconhecemos que os transportes têm um impacto enorme para o dia-a-dia, para a economia ou para a coesão social, mas também reconhecemos os seus efeitos perversos, como o congestionamento, a poluição atmosférica e sonora ou as emissões de gases com efeito de estufa que emite”. No desígnio de descarbonizar o setor, as áreas de atuação centram-se na “promoção do transporte público; a promoção dos modos ativos de transporte; e a descarbonização das frotas com a adoção de energias não poluentes”. Para tal, é necessário um conjunto de esforços alargados ou recursos coordenados, sendo o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) um bom exemplo disso: “São mil milhões alocados para a mobilidade sustentável”, atenta. Também o PART (Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes) já contribui em muito para aumentar o interesse dos cidadãos no uso dos transportes públicos: “Num ano, conseguimos aumentar, em média, 10% o número de utilizadores de transportes públicos no país”.

Na mobilidade elétrica, uma outra ação que merece ser destacada é a aquisição de dez navios elétricos para operação no Tejo: “É uma operação única a nível mundial. É algo que muito nos orgulhamos”. Ainda nestas matérias, Eduardo Pinheiro recorda que Portugal foi um exemplo, em 2009, com uma rede pioneira para a mobilidade elétrica: “Em 2020, duplicamos o números de pontos de carregamento e em 2021, em agosto, registamos um aumento de 50% em relação ao início do ano”. Atualmente, segundo o secretário de Estado da Mobilidade, há um rácio de dez pontos por viatura: “Temos de crescer e o nosso objetivo é substituir os automóveis menos poluentes”. Uma garantia dada pelo responsável é de que o Governo vai continuar a apoiar a aquisição de automóveis elétricos: “A mobilidade tem que, necessariamente, cumprir os princípios de sustentabilidade, mas também a sustentabilidade económica e, por isso, tem de ser feita com os cidadãos e para os cidadãos”, sustenta.