Economia circular: uma segunda vida para os resíduos

Por José Manuel Ribeiro, LIPOR

Numa sociedade cada vez mais consciente da necessidade de repensar os modelos de produção e consumo, a economia circular surge como uma resposta estratégica aos desafios ambientais e sociais do nosso tempo. No setor dos resíduos, esta transformação é não apenas desejável, mas essencial. A LIPOR – Associação de Municípios para a Gestão Sustentável de Resíduos do Grande Porto tem assumido um papel de liderança nesta transição, orientando a sua atuação por princípios que promovem a circularidade e o uso eficiente de recursos.

Ao longo dos últimos anos, a LIPOR tem evoluído de uma tradicional gestora de resíduos para uma entidade inovadora, focada na produção de produtos circulares e na prestação de serviços especializados, totalmente alinhados com os princípios da economia circular. Esta transformação permite não apenas valorizar os resíduos, mas também criar valor económico, social e ambiental de forma sustentável.

Entre os produtos desenvolvidos pela LIPOR, destaca-se o NUTRIMAIS®, um corretivo orgânico do solo 100% natural, produzido a partir da compostagem de resíduos biodegradáveis. Outro exemplo é o Wallie®, um ecoponto doméstico de parede, que promove a separação seletiva de resíduos dentro de casa. Na área da construção, a LIPOR criou o AAGE 32, um agregado artificial derivado de escórias de incineração de resíduos urbanos, que substitui materiais convencionais e reduz o impacto ambiental das obras.

Já no setor energético, a organização tem dado passos significativos: a eletricidade gerada na Unidade de Valorização Energética da Maia é distribuída através da ENNO – Energias do Norte, empresa criada pela LIPOR para fornecer energia a 28 parceiros. Esta modelo de produção e distribuição energética representa um caso concreto de circularidade aplicada à gestão de resíduos.

No campo dos serviços, destaca-se a plataforma digital WAYSTE, desenvolvida para otimizar a gestão urbana de resíduos. Este sistema inteligente permite melhorar a eficiência da recolha, aumentar as taxas de reciclagem e envolver os cidadãos de forma mais ativa, promovendo comportamentos ambientalmente responsáveis.

A excelência tecnológica e a qualidade dos materiais destinados à reciclagem são prioridades nas unidades da LIPOR. A organização investe continuamente nas melhores tecnologias de tratamento e monitorização, garantindo que os resíduos ganhem uma nova vida com elevado valor.

Um exemplo emblemático da visão circular da LIPOR é a requalificação dos seus antigos aterros. Num projeto iniciado nos anos 90, foi encerrado um dos aterros e, sobre o espaço recuperado, nasceu o Parque Aventura & Trilho Ecológico da LIPOR, inaugurado em 2009 e aberto ao público em 2010. Desde então, o Parque já recebeu mais de 500.000 visitantes e foi reconhecido com o Green Flag Award, um dos mais prestigiados galardões atribuídos a espaços verdes de excelência.

Esta abordagem evidencia que a economia circular vai além da simples gestão de resíduos: trata-se de um novo modelo económico, que dissocia o crescimento da extração de recursos e da produção de resíduos. Promover a redução, reutilização, prolongamento da vida útil dos produtos e a valorização dos recursos é essencial.

Os modelos de negócio circulares trazem inúmeras vantagens. A nível ambiental, permitem poupar recursos naturais e reduzir emissões. No plano social, contribuem para dinamizar economias locais e criar empregos verdes. Economicamente, reduzem custos operacionais, promovem a resiliência organizacional e melhoram a competitividade das empresas, enquanto aumentam a sua atratividade perante investidores e consumidores conscientes, especialmente entre os mais jovens.

O compromisso da LIPOR é claro: continuar a expandir o seu portefólio de produtos e serviços, sempre sob os princípios da economia circular, com foco na minimização do impacto ao longo de todo o ciclo de vida. Assim, dá uma verdadeira segunda vida aos resíduos e contribui ativamente para um futuro mais sustentável.

*Este artigo foi publicado na edição 113 da Ambiente Magazine