APDA: Educação ambiental é essencial na “promoção” e “solidificação” das estratégias da economia circular

A APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas), através da Comissão Especializada em Comunicação e Educação Ambiental (CECEA), realizou esta quinta-feira o webinar “A Economia Circular na Educação Ambiental – Partilha de boas práticas”. 

A sessão de boas-vindas ficou marcada pelo testemunho de Rui Godinho, presidente da APDA, que não deixou de relevar a “importância” da “economia circular na educação ambiental”, considerando que, desde há muito tempo, esta temática tem “passado a estar no centro das preocupações de todos”. Segundo o responsável, as preocupações ligadas à “gestão” e “desenvolvimento sustentável”, particularmente nas áreas das “águas residuais” e das “águas de abastecimento”, já não são novas: “No início do século, já este tema suscitava interesse e já se ensinava nalguns cursos”. No entanto, o foco prendia-se sobretudo nos “resíduos” e não tanto nas “águas” ou no “saneamento”, algo que acabou mesmo “por cair no esquecimento” de todos. “Não podemos deixar cair este tema, como se de uma moda se tratasse”, até porque “as questões da economia circular são estruturais”, alerta o presidente da APDA, vincando a centralidade do “papel da educação ambiental” na “promoção” e na “solidificação” das estratégias da economia circular. 

“O acesso e a qualidade da água é um dado adquirido”

Alexandra Cristovão, diretora de sustentabilidade empresarial da EPAL (Empresa Portuguesa das Águas Livres, SA) e moderadora deste webinar, começou por recordar o estudo “Atitudes e Comportamentos dos Portugueses face à Água”, desenvolvido em 2018 pelo Instituto de Marketing Research. Segundo o estudo, aquelas que são as convicções dos inquiridos sobre a importância da água, demonstram uma “dissonância grande” entre aquilo que sentem e os seus comportamentos.

Principais conclusões: 

  • Reconhecem a importância da água mas valorizam-na menos do que a eletricidade, por exemplo;
  • Conhecem os problemas de escassez da água mas não revelam práticas ativas diárias de poupança;
  • Demonstram consciencialização ambiental mas reconhecem que, frequentemente, desperdiçam o recurso;
  • Reconhecem que o preço baixo da água não responde ao seu valor mas não estariam disponíveis para suportar o aumento desse mesmo preço como forma de racionalizar a utilização deste recurso.

Face a tais conclusões, a questão lançada por Alexandra Cristóvão, prende-se com o facto da sociedade, no geral, se refletir em tais resultados. 

Ana Santos, coordenadora do Museu da Água de Coimbra, Águas de Coimbra, parece concordar, sublinhando não ter dúvidas de que os resultados são o “espelho da nossa sociedade”. E aquilo que o Museu da Água tem feito é contrariar tal realidade ao “estimular a sociedade para a necessidade de preservar o meio ambiente, inclusive o recurso água”, acreditando que, “perante um conjunto de pessoas mais bem informadas, vão valorizar o recurso” que, do ponto de vista da responsável, está visto como um “dado adquirido”: “É obrigatório fornecermos água e termos água nas nossas casas em qualidade e com quantidade”,  explica. No entanto, o recurso água está “efetivamente comprometido” e, se nada for feito, “este bem não vai ser de fácil acesso”, algo que já acontece “em muitas regiões do planeta”, alerta. Ana Santos reitera a necessidade de um “trabalho forte” de “sensibilização”, de “formação” e de “valorização”, sendo urgente “preservar e saber utilizar recurso”, algo que na Europa é “ainda um problema saber dar valor a este recurso tão precioso que é a água”.

Na visão de Marcos Batista, diretor de desenvolvimento e comunicação das Águas do Tejo Atlântico, em Portugal, “nós servimos um bom serviço” e “não somos uma situação de preocupação para a população”, visto que “cumprimos todas as suas necessidades” e a um “preço mais do que acessível”, logo é um recurso que está “adquirido. Damos esse serviço” e “não o transformamos em urgente”, sustenta o responsável, para resumir a situação logo a seguir:  “Existe, está disponível e é bom!”. A verdade é que no setor das águas, “não houve nenhuma mudança” que “provocasse uma reação de alerta ou necessidade” e “usamos sempre o mesmo léxico” no que diz respeito à temática, afirma Marcos Batista. Basicamente, “não acompanhamos a comunicação de emergência e de impacto que a sociedade vê nas redes sociais” e que, depois, “leva a valorizar determinado tema viralmente”, explica, dando nota que Portugal tem feito a tal abordagem, na educação ambiental, que tem levado a “bons resultados graduais”. Exemplo disso é que, “se hoje há alguma calamidade local, existem muitas pessoas esclarecidas que saibam as causas, defender e valorizar a situação”, acrescenta. Nesta matérias, Marcos Batista não tem dúvidas que o trabalho tem sido feito: “É geracional. E leva a um impacto não imediato mas (demonstra-no) na transformação diária daquilo que é necessário”. 

Quem parece também concordar com tal “reflexo” é Moisés Neves, responsável de inovação da Águas do Porto: “O acesso e qualidade da água é um dado adquirido neste momento”. No entanto, o responsável diz que “estamos a colher os frutos” da aposta forte, entre os anos 1980 e 1990, na mensagem dos 3R´s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) através da educação ambiental. É “um tratamento normal”, sintetiza. Na visão de Moisés Neves, o caminho da educação ambiental, que a Águas do Porto tem reforçado, é aposta que deve ser aplicada no momento e que “vai preparar a próxima geração”, deixando a mensagem da “necessidade de valorizar a água”.

Por seu turno, Teresa Fernandes, responsável pela comunicação e educação ambiental da Águas do Algarve, refere que a água fornecida é certificada, o que por si só “atesta a elevada qualidade” do recurso mas que “ainda damos muito mau uso”. Partilhando assim da mesma opinião de que a “água é um dado adquirido”, a responsável não deixa de louvar todos os esforços que têm sido feitos pelo grupo Águas de Portugal: “Só podem estar a fazer um muito bom trabalho”. Embora, as alterações climáticas estarem já a ter impacto nos longos períodos de seca, inclusive no Algarve, o certo é que “a água ainda não falhou na torneira das pessoas”, sustenta a responsável, acrescentando que há um “reconhecimento” por parte das pessoas sobre a “escassez da água”. Embora haja situações de “seca” em alguma regiões, a responsável nota que há atitudes que devem ser repensadas como, por exemplo, a rega e limpeza das ruas “com água tratada”. Teresa Fernandes acredita que o trabalho passa também por “corrigir essas situações” e que “haja valorização daquilo que é a importância da água”.