A Ambiente Magazine está a auscultar várias vozes em relação às Eleições Legislativas antecipadas, que se realizam a 18 de maio, para descobrir o que o próximo Governo deve priorizar em matéria ambiental. Aqui fica o comentário de Jorge Cardoso Gonçalves, presidente da APRH.
No atual contexto de exigência, é urgente assegurar a proteção do ambiente, garantindo que a satisfação das necessidades dos cidadãos e a procura da qualidade de vida não afetam a continuidade dos recursos e a estabilidade dos ecossistemas.
O aumento da pressão sobre os recursos hídricos, o desequilíbrio entre disponibilidades e necessidades de água, o cenário de adaptação climática, a gestão do risco e a resiliência das infraestruturas, face a eventos extremos e problemas emergentes, são desafios presentes.
O incentivo à eficiência deverá ser transversal aos diferentes setores, apostando no encurtamento das cadeias de abastecimento, no envolvimento dos produtores no tratamento dos produtos e subprodutos gerados na sua atividade, na reciclagem, na reutilização e na redução de consumos.
A governança da água é um elemento central, sendo necessárias políticas públicas adequadas para os recursos hídricos e para os usos setoriais desses recursos. A abordagem deverá ser holística, integrada e supra-setorial.
Considero fundamental compromisso político para com o setor, assegurando o cumprimento do plano estratégico em vigor – PENSAARP 2030, com uma estrutura de apoio clara, o envolvimento ativo dos municípios e o alinhamento das diversas instituições.
Os serviços de águas deparam-se, atualmente, com um conjunto de desafios relacionados com o novo paradigma: depois de uma fase de crescimento e de infraestruturação, os sistemas encontram-se numa fase de maturidade e envelhecimento, na qual a gestão de infraestruturas construídas assume particular relevância.
Do ponto de vista organizacional, mais do que discutir o “P” de Público ou de Privado, devemos procurar o “P” de Profissional – modernizando, especializando e escolhendo o modelo de gestão mais adequado para assegurar uma boa governação das entidades gestoras dos serviços de águas. É essencial procurar a sua sustentabilidade económica e financeira, fomentando recuperação custos e assegurando o acesso equilibrado e justo a incentivos nacionais e a fundos europeus.
Destaco, também, a urgência de apostar na eficiência, em particular na redução perdas em sistemas de abastecimento de água particularmente ineficientes, muitos com problemas crónicos há mais de 10 anos.
Na gestão de águas residuais e pluviais, o controlo de afluências indevidas aos sistemas apresenta particular relevância na sua eficácia, eficiência e sustentabilidade, sendo necessário fomentar ações concretas de monitorização e intervenção.
Outro aspeto importante a ter em conta é a aposta em inovação e tecnologia, considerando a importância da digitalização, da monitorização, da telemetria, da telegestão, da cibersegurança, da modelação, da manutenção preditiva e da incorporação de inteligência artificial.
Saliento, também, a importância de investir nas pessoas que gerem e operam os sistemas, em particular na sua captação, capacitação e valorização.
Não existe uma “bala de prata” para responder aos desafios da gestão da água. Com pragmatismo e com bom senso, o caminho passa por combinar soluções – não romper com o que fizemos bem, adaptar o que não fazemos tão bem e inovar no que ainda não foi feito.
Há caminho a percorrer na gestão da procura – redução de consumos e melhoria da eficiência hídrica, e na gestão da oferta – explorar origens de água alternativas (p.ex. reutilização).
Considerando o balanço das últimas décadas, o contexto atual e os desafios futuros (globais e em contexto nacional), é urgente um “Uso Inteligente da Água”!