A Ambiente Magazine está a auscultar várias vozes em relação às Eleições Legislativas antecipadas, que se realizam a 18 de maio, para descobrir o que o próximo Governo deve priorizar em matéria ambiental. Aqui fica o comentário de Nuno Campilho, Vice-Presidente da APDA.
Antecipando a realização das eleições legislativas e tendo em consideração o início de um novo ciclo governativo, Portugal enfrenta o desafio recorrente e sempre inadiável de colocar a política ambiental no centro da ação governativa.
As alterações climáticas, a escassez de água, a perda de biodiversidade e o aumento da poluição, são fenómenos interligados que exigem uma resposta clara, ambiciosa e urgente.
Primeiro: é urgente acelerar a descarbonização da economia. Apesar dos avanços nas energias renováveis, Portugal continua dependente de combustíveis fósseis em setores-chave como os transportes e a indústria, e o recente apagão energético fez adensar as dúvidas sobre a dependência da eletricidade importada do país vizinho, situação que, por ora, se encontra suspensa. O próximo Governo deve definir um caminho claro em direção à neutralidade carbónica até 2045. Isso implica um investimento robusto na mobilidade elétrica e pública, na reabilitação energética de edifícios e na eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis
fósseis.
Segundo: a gestão sustentável da água deve tornar-se uma prioridade nacional. A estratégia “Água que Une” enquanto roadmap para a gestão da água em Portugal, está “refém” do Governo ainda em funções, sendo uma incógnita se a mesma será para seguir e cumprir pelo Governo que lhe sucederá, seja ele qual for. Recordamos que a mesma consiste de um investimento estimado de 5 mil milhões de euros até 2030 para garantir uma gestão sustentável da água, apostando fortemente na redução de perdas no consumo urbano e agrícola, construindo novas barragens e aumentando a capacidade de outras e, se necessário, interligando bacias hidrográficas mais ricas do ponto de vista hídrico para combater a seca e melhorar o acesso à água, procurando promover a coesão territorial e atender às necessidades da agricultura, do ambiente e da população, através de uma abordagem multissetorial. Os princípios estão lá, mas se já eram difíceis de antever no futuro, num passado não muito distante, ainda mais difícil se torna antevê-los num futuro desconhecido.
Terceiro: a conservação da natureza e da biodiversidade tem de deixar de ser esquecida. Algum descontrolo ao nível do ordenamento do território e da expansão dos perímetros urbanos, o flagelo continuado dos incêndios e a prática de uma agricultura intensiva, continuam a afetar ecossistemas essenciais. Proteger as áreas naturais, restaurar florestas autóctones e promover práticas agrícolas regenerativas deve ser uma aposta estruturante, até porque, sem biodiversidade, não há resiliência climática.
Quarto: importa direcionar o modelo económico rumo à circularidade. Continuamos a consumir como se os recursos fossem infinitos. Portugal, aliás, esgotou, no 5 de maio, os recursos naturais disponíveis para todo o ano de 2025, entrando assim em “sobrecarga ecológica”. O novo Governo deve incentivar práticas de reutilização e reciclagem, responsabilizando as empresas pela pegada ecológica dos seus produtos e empenhar-se mais afincadamente na redução drástica do uso de plásticos descartáveis. Só para ser ter uma ideia, do leite materno ao sistema reprodutor, dos alimentos que consumimos, à roupa que vestimos e mesmo ao ar que respiramos, os microplásticos são já uma presença ubíqua no dia-a-dia dos portugueses.
O futuro de Portugal poderá ser verde vivo ou acinzentado. O próximo Governo tem a responsabilidade histórica de não falhar neste compromisso, acompanhando aquilo que de bom a sensibilização tem conseguido junto da sociedade civil.
Estamos, portanto, no tempo das decisões… políticas!