A Ambiente Magazine está a auscultar várias vozes em relação às Eleições Legislativas antecipadas, que se realizam a 18 de maio, para descobrir o que o próximo Governo deve priorizar em matéria ambiental. Aqui fica o comentário de José Gaspar, CTO da CoLAB ForestWISE.
O próximo Governo deve colocar a ação climática no centro das políticas públicas, reconhecendo que os desafios ambientais são estruturais e transversais. É indispensável assumir uma visão integrada e de longo prazo, assente na ciência, na capacitação das entidades locais e na valorização dos territórios, sobretudo os de baixa densidade, e que são essenciais para o equilíbrio ambiental, para o desenvolvimento sustentável e para a coesão territorial do país.
Portugal enfrenta riscos crescentes associados às alterações climáticas, nomeadamente o aumento da frequência e intensidade dos incêndios rurais, a escassez hídrica, a perda de biodiversidade e a degradação dos solos. A resposta a estes desafios exige medidas organizadas e consequentes: requer estratégias coerentes e articuladas entre setores, acompanhadas de investimento estruturado e sustentado. A floresta, como sistema multifuncional fornecedor de bens e serviços essenciais para a sociedade e motor de desenvolvimento sustentável, deve ser um dos pilares dessa resposta.
É imperativo que o próximo Governo priorize a gestão integrada da floresta e do fogo, apostando na prevenção estrutural, na gestão multifuncional e adaptativa, na valorização das diversas fileiras florestais e na promoção de paisagens mais resilientes. Isso implica reforçar o apoio à ciência aplicada, acelerar a transferência de conhecimento para o território e criar condições para que soluções inovadoras e colaborativas sejam implementadas de forma eficaz.
Entre as prioridades ambientais, é essencial enfrentar o abandono e o despovoamento do mundo rural, que têm contribuído para o aumento do risco de incêndio e para a diminuição das práticas de gestão ativa da paisagem. A falta de pessoas no território pode agravar a acumulação de combustível e comprometer a resiliência dos ecossistemas.
De igual forma, a elevada fragmentação da propriedade dificulta a gestão eficiente e a rentabilidade dos espaços rurais. A criação de instrumentos de apoio à organização dos proprietários, bem como políticas que promovam a gestão conjunta e profissional das áreas florestais, são passos indispensáveis para garantir a implementação de soluções multifuncionais viáveis no tempo e no espaço e promover a remuneração adequada dos investimentos florestais.
As alterações climáticas representam uma ameaça crescente, cujos impactos já se fazem sentir em Portugal. O aumento das temperaturas médias, a maior frequência de eventos extremos e as alterações nos regimes hídricos exigem políticas de adaptação e recuperação, assentes na redução da vulnerabilidade do território e na promoção de soluções diversas e próximas na natureza.
Por outro lado, é urgente reforçar o planeamento e a gestão sustentável do território, com uma visão multissetorial e multifuncional que articule a floresta, a agricultura, a conservação da natureza e o ordenamento do território. A aposta na diversificação do uso/ocupação do solo, na bioeconomia e na valorização dos serviços dos ecossistemas é essencial para garantir um futuro mais equilibrado e sustentável.
Importa também assegurar que as comunidades, especialmente nas áreas mais vulneráveis, partilhem os objetivos, vejam acauteladas as suas necessidades, participem nas decisões e beneficiem das soluções implementadas. A educação ambiental, o envolvimento dos cidadãos e o fortalecimento de redes colaborativas, entre academia, empresas, administração pública, sociedade civil, e entidades como o CoLAB ForestWISE, entre outras, são fatores críticos para o sucesso de qualquer política ambiental e de desenvolvimento.
Em suma, o próximo Governo deve assumir a liderança na construção de um país sustentável, resiliente e inclusivo. Isso exigirá visão estratégica, continuidade política e um compromisso com soluções baseadas na ciência, na inovação e na colaboração.