A Ambiente Magazine está a auscultar várias vozes em relação às Eleições Legislativas antecipadas, que se realizam a 18 de maio, para descobrir o que o próximo Governo deve priorizar em matéria ambiental. Aqui fica o comentário de Kilian Kaminski, Co-fundador da refurbed.
Enquanto empresa líder em produtos recondicionados, acreditamos que o próximo governo português deve criar um ambiente político que torne os modelos de negócio sustentáveis a norma – e não a exceção. Para enfrentar os desafios ambientais atuais, precisamos de soluções políticas claras, coerentes e ambiciosas.
Uma das prioridades deve ser o reforço da economia circular. Muitos quadros legais ainda refletem uma lógica linear – ‘comprar, usar e descartar’ – que ignora as necessidades de reutilização e recondicionamento. É importante adaptar a legislação para apoiar modelos circulares e promover a transição para um consumo mais responsável.
O novo governo deve garantir o cumprimento rigoroso das regras de conceção ecológica da UE e exigir que os fabricantes implementem as melhorias necessárias que aumentem a sustentabilidade, durabilidade e reparabilidade dos seus produtos. Ao transpor o Direito à Reparação para a lei nacional, deve adotar uma abordagem ambiciosa, como a introdução de limites máximos de preços para peças sobresselentes, para tornar a reparação e a reutilização as opções mais apelativas. Estas medidas são fundamentais para prolongar o ciclo de vida dos produtos e reduzir o lixo eletrónico.
Incentivos fiscais e programas de apoio direcionados para empresas circulares são igualmente essenciais, tal como a criação de infraestruturas que facilitem a reparação, o recondicionamento e a reciclagem. A educação, a literacia e a sensibilização dos consumidores devem acompanhar estas medidas, promovendo uma nova cultura de consumo sustentável.
Na refurbed, sabemos que cada dispositivo recondicionado poupa até 70% das emissões de CO2 em comparação com um novo. Desde 2017, evitámos 885 toneladas de lixo eletrónico e 270 000 toneladas de CO2. O processo de recondicionamento profissional – com até 40 etapas de verificação – garante que a qualidade é equivalente à de um produto novo. Acreditamos que a sustentabilidade e o crescimento económico não são apenas compatíveis, mas mutuamente reforçados.
A colaboração é fundamental para alcançar mudanças significativas. É por isso que trabalhamos com organizações como a European Refurbishment Association (EUREFAS) e a campanha Right to Repair para promover políticas mais robustas a nível europeu.
A nível europeu, estamos ativamente envolvidos em várias iniciativas legislativas importantes, como o desenvolvimento da futura Lei da Economia Circular e o novo regulamento de Conceção Ecológica. Defendemos também o estabelecimento de uma categoria dedicada aos atores da reutilização no novo quadro legislativo. É essencial que Portugal acompanhe e contribua para estas discussões europeias, garantindo que a reutilização e o recondicionamento tenham um papel proeminente nas políticas futuras.
Só com um forte compromisso político e medidas concretas podemos criar um impacto positivo significativo e contribuir para um futuro mais sustentável. A transição para uma economia circular não é apenas uma opção, mas uma necessidade urgente para enfrentar os desafios ambientais atuais.