Em Portugal “não existiam orientações específicas sobre a fertilização em pinhal-bravo”

O Centro PINUS desenvolveu, recentemente, um questionário sobre práticas de fertilização em pinheiro-bravo. Com base neste questionário, esta associação promoveu um webinar  -“FERTIPINE – Fertilização de pinheiro-bravo” – onde contou com o contributo de três países: Espanha (Galiza), França e Portugal. Em declarações à Ambiente Magazine, João Gonçalves, presidente do Centro PINUS, partilha algumas conclusões do questionário, deixando nota que as práticas de fertilização em pinheiro-bravo parecem ser muito variadas.

“Como não foi feita uma amostragem não nos é possível retratar o que é feito em todo o território português”, começa por explicar o responsável, acrescentando, contudo, que há resultados que merecem ser enunciados: “Na maioria das situações não é praticada fertilização, que é realizada de forma frequente, na instalação, por 33% dos técnicos que responderam; A decisão de fertilizar (ou não) é geralmente suportada por experiência empírica; O tipo de adubação à instalação mais frequente é com a formulação NPK, à cova, com 20 a 50 g por planta; A prática de correção do pH é incomum; A fertilização ao longo do ciclo é praticada ocasionalmente por 21% dos técnicos que responderam”.

Questionado sobre a situação portuguesa em relação a outros países, João Gonçalves atenta na importância de se ter presente a “variabilidade que existe em termos geográficos, climáticos ou de litologia (tipologia de solos)”, sendo que, “faz pouco sentido comparar países, mas sim situações semelhantes”.  Na Galiza, por exemplo, verifica-se uma situação semelhante a algumas regiões de Portugal: “Os resultados preliminares indicam, por exemplo, que a fertilização azotada de pinhal-bravo nunca tem benefícios em termos de sobrevivência ou ganhos de produtividade”. Relativamente à Aquitânia, o tipo de solo, os declives reduzidos e a dimensão média da propriedade levam a que a fertilização seja uma prática generalizada , de modo a aumentar a produtividade e a antecipar o momento do corte: “Aqui, a fertilização à plantação coincide com a mobilização do solo e é feita com aplicação mecânica, mas salientamos que, nesta região de França, as condições são muito diferentes das existentes em Portugal”, exemplifica.

Ao nível das lacunas que podem existir no país, João Gonçalves destaca que, além da diversidade de práticas identificadas no questionário, o Centro PINUS constatou que “não existiam orientações específicas sobre a fertilização em pinhal-bravo”. Em resposta à lacuna, o Centro PINUS contratualizou com a ESAC-IPC uma “síntese do conhecimento técnico e científico existente” que deu origem a uma nova “publicação técnica” com recomendações à fertilização quer à “plantação”, quer nas “diferentes fases de desenvolvimento de um pinhal regular”, com suporte na “revisão de 70 publicações abrangendo uma ampla distribuição geográfica”, destaca. O “Relatório Fertilização de Pinheiro-bravo” é disponibilizado gratuitamente no separador “Edições Técnicas” no site do Centro PINUS.

No que respeita às recomendações, o responsável refere que as mesmas variam em função de uma conjugação de fatores, como a “região de proveniência”, o “tipo de solo” ou a “aptidão produtiva”. Contudo, algo que parece ser consensual para o presidente do Centro PINUS é que a “fertilização de pinheiro-bravo é uma prática reservada às situações de maior aptidão produtiva” e que, na maior parte das situações, a “adubação fosfatada é “a melhor amiga” do pinhal”. Isto significa que “pode não se justificar a fertilização, uma vez que, em determinadas circunstâncias, a prática pode não ter uma relação custo-benefício equilibrada ou pode mesmo representar consequências negativas para o pinhal”, como uma “maior vulnerabilidade ao vento ou a certas pragas”, explicita.

Com estas recomendações, o Centro PINUS espera que sejam “adotadas boas práticas de silvicultura”  que permitam uma gestão sustentável do pinhal: “O  novo relatório sobre fertilização em pinhal-bravo é uma ferramenta importante de suporte à tomada de decisão de fertilizar e contém recomendações muito úteis para as situações em que esta é vantajosa”. Com esta publicação, dá-se “continuidade a uma atuação de disponibilização do conhecimento técnico e científico”, neste caso concreto, aplicável a uma fertilização adequada: “Sem a aplicação do conhecimento agora mais disponível, a fertilização pode não ter uma relação custo-benefício equilibrada ou ter mesmo consequências negativas para o pinhal”, remata.