Energia: “Procura por talento especializado tem crescido mais rápido do que a disponibilidade de profissionais no mercado”

Numa entrevista com Bernardo Samuel, Diretor da Adecco Recruitment, a Ambiente Magazine procurou perceber a atualidade laboral do setor energético e quais os desafios que o mesmo enfrenta.

Quais os principais dados no setor da energia que o Guia Salarial 2025 apresenta?

Bernardo Samuel, Adecco Recruitment

O setor da energia em Portugal está a atravessar uma fase de profunda transformação, impulsionada pela transição energética, pela inovação tecnológica e pelos compromissos crescentes com a sustentabilidade. De acordo com o Guia Salarial 2025 da Adecco Portugal, destacam-se atualmente cargos como Asset Manager, O&M Manager (Operações e Manutenção), Técnico de O&M, Engenheiro Eletrotécnico e Gestor Ambiental e de Sustentabilidade, refletindo a crescente complexidade técnica e estratégica do setor.

Embora estas funções continuem a estar maioritariamente concentradas em Lisboa e no Porto, verifica-se uma tendência clara de descentralização para regiões com forte potencial em energias renováveis, como o interior do país e o litoral alentejano. Esta expansão acompanha o investimento em projetos de energia limpa e infraestruturas descentralizadas, que estão a ganhar expressão fora dos grandes centros urbanos, criando novas dinâmicas na distribuição geográfica do talento especializado.

Qual a média salarial neste setor?

No setor da energia, os salários variam de forma significativa consoante a função desempenhada e a localização geográfica. De acordo com o Guia Salarial 2025 da Adecco Portugal, um Asset Manager pode auferir entre 36.000€ e 62.000€ brutos por ano, enquanto um O&M Manager (Operações e Manutenção) pode ter um salário anual entre 25.000€ e 56.000€. Já os Técnicos de O&M registam valores entre os 21.000€ e os 38.000€, sendo este um dos perfis operacionais com maior procura. No caso do Engenheiro Eletrotécnico, os salários situam-se entre 26.000€ e 49.000€, enquanto um Gestor Ambiental e de Sustentabilidade recebe, em média, entre 24.000€ e 36.000€ por ano. Importa referir que estes valores dizem respeito ao salário base bruto anual e não incluem outros benefícios ou subsídios habitualmente praticados no setor.

Que tipo de perfis são mais procurados?

No setor da energia, existe atualmente uma procura crescente por perfis com competências técnicas e especializadas, particularmente nas áreas de engenharia de energia e eletrotécnica, gestão de projetos em energias renováveis, eficiência energética, sustentabilidade e ESG, bem como na digitalização e automação de processos energéticos. Estes perfis são considerados estratégicos para responder aos desafios da transição energética e da modernização das infraestruturas. Para além das competências técnicas, há também uma valorização crescente de soft skills como a capacidade de adaptação, o pensamento crítico e a liderança, qualidades consideradas essenciais num setor em constante transformação e que exige profissionais preparados para contextos altamente dinâmicos.

O setor está a sentir dificuldade em recrutar este tipo de perfis?

Sim, o setor enfrenta desafios de recrutamento significativos. A procura por talento especializado tem crescido mais rápido do que a disponibilidade de profissionais no mercado. O défice de competências técnicas e a exigência de experiência em contextos internacionais tornam o recrutamento ainda mais competitivo. Além disso, há uma tendência de mobilidade de talento para mercados internacionais mais atrativos em termos de remuneração e progressão.

Qual o impacto das políticas energéticas neste contexto e como podem afetar o recrutamento?

As políticas energéticas nacionais e europeias como os objetivos do PNEC 2030 e o European Green Deal estão a acelerar a transição energética. Isso gera um aumento exponencial de projetos em energia solar, eólica, hidrogénio verde, entre outros. Como consequência, cria-se uma maior pressão sobre o recrutamento de perfis técnicos, as empresas precisam de se adaptar rapidamente, revendo as suas políticas de atração e retenção de talento e a necessidade de requalificação e formação contínua torna-se central.

Qual o papel da digitalização neste segmento de recrutamento?

A digitalização tem um duplo impacto: na operação das empresas de energia, ao integrar ferramentas de análise de dados, inteligência artificial e automação nos sistemas de produção e manutenção e no recrutamento em si, com o uso de plataformas digitais para atrair talento e processos mais rápidos e eficientes de seleção, onboarding e gestão de carreira. Além disso, a transformação digital reforça a necessidade de novos perfis com competências híbridas: engenharia + tecnologia + sustentabilidade.