Por António Queirós, Sócio-Gerente da Goldbreak
O alerta do apagão na Península Ibérica
Ligamos um interruptor e esperamos que a lâmpada acenda. É um gesto automático que raramente questionamos. Mas, e se um dia isso não acontecer? No dia 28 de abril de 2025, milhões de pessoas em Portugal e Espanha enfrentaram exactamente essa realidade: um apagão inesperado mergulhou cidades inteiras na escuridão.
O incidente expôs uma verdade muitas vezes ignorada—a energia eléctrica não é um recurso garantido. O seu fornecimento pode ser interrompido por falhas técnicas, eventos climáticos e até mesmo por questões geopolíticas.
Guerras comerciais, conflitos militares e sanções económicas podem afectar directamente o preço e a disponibilidade da electricidade, colocando em risco a estabilidade das redes eléctricas. O mundo moderno depende de um fluxo contínuo de energia e qualquer interrupção pode ter impactos profundos na
sociedade.
A intermitência das fontes renováveis e o papel do armazenamento
A transição para fontes renováveis, como solar e eólica, é essencial para um futuro energético sustentável. No entanto, essas fontes apresentam um desafio crucial: a sua produção depende da natureza e a natureza é imprevisível. O sol não brilha à noite, o vento não sopra constantemente, e, por isso, há momentos em que geramos mais energia do que precisamos, seguido por períodos de escassez.
Esse desequilíbrio afecta a confiabilidade do fornecimento de electricidade. O apagão na Península Ibérica mostrou que confiar cegamente na geração instantânea de energia pode ser um erro. Precisamos de soluções que garantam que a energia gerada nos momentos de abundância seja preservada para os momentos de maior procura. Assim, o armazenamento de energia surge como uma peça-chave para reforçar a segurança e eficiência do sistema eléctrico.
Principais razões para o investimento no armazenamento de energia
- Redução das perdas de excedentes e transferência de ciclo – Quando há excesso de produção, sem sistemas de armazenamento adequados, a energia simplesmente se perde. Armazená-la permite que esse excedente seja utilizado quando a geração cai, reduzindo desperdícios e tornando o sistema mais eficiente.
- Arbitragem do mercado – Com o armazenamento, é possível comprar energia em momentos de menor procura e preços mais baixos e utilizá-la ou revendê-la nos períodos de maior consumo e preço mais alto.
- Redução do preço médio da energia – Os picos de consumo, em momentos de maior consumo, afectam o custo médio da energia. A eliminação desses picos pela utilização de energia armazenada, permite uma redução sensível no custo total de energia.
- Estabilização e reforço da rede eléctrica – Ter reservas energéticas disponíveis protege a rede contra oscilações bruscas de oferta e procura, prevenindo apagões e garantindo um fornecimento contínuo.
O apagão na Península Ibérica foi um alerta de que a energia eléctrica não está sempre garantida. A intermitência das fontes renováveis e os riscos geopolíticos reforçam a necessidade de investimentos estratégicos em armazenamento. Afinal, se queremos garantir que a lâmpada acenda sempre que tocamos o interruptor, precisamos de um sistema energético mais robusto, eficiente e resiliente. O futuro da energia depende de inovação e planeamento – e o armazenamento é um dos pilares dessa transformação.
