Entre o plano energético nacional e a ação, fica o compromisso com a transição
Por Márcia Pereira, CEO da Bandora
A ação climática é, indiscutivelmente, um dos temas da agenda dos governos, perante a pressão da sociedade para que sejam implementadas leis com foco na proteção do meio ambiente. Neste sentido, a União Europeia (UE) definiu os seus objetivos climáticos para atingir a neutralidade carbónica até 2050, conforme evidenciado no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050).
De acordo com o relatório “Is The Long-Term Strategies Process Working?” da Together for 1.5, Portugal é um dos países que está a rever a sua estratégia de longo prazo para a ação climática, demonstrando empenho no cumprimento dos objetivos, a par de Espanha e França. Mas o RNC 2050 e o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) definem metas ambiciosas, desde a redução da intensidade carbónica dos edifícios, até à promoção da renovação energética do parque imobiliário, e passando pela conquista de uma economia descarbonizada. Contudo, entre os relatórios oficiais e a ação concreta, há um espaço que apenas pode ser preenchido com compromisso político, social e empresarial.
A transição energética é urgente, principalmente quando sabemos que os edifícios são os maiores consumidores de energia e responsáveis por, segundo a Diretiva Desempenho Energético dos Edifícios da UE, 36% das emissões de gases com efeito de estufa. Sem edifícios eficientes, não há ação climática bem-sucedida.
Planear é fácil, transformar é difícil. Mas é viável e ainda mais essencial quando percebemos que, de acordo com o cenário PAC 2.0, a neutralidade carbónica até 2040 levaria Portugal a poupar cerca de 16 mil milhões de euros. Atingir este objetivo implica, ainda assim, superar alguns desafios, tais como burocracias, processos de modernização e de alteração de padrões complexos e ausência de medidas concretas com prazos bem definidos. Assim, a ação climática corre o risco de não passar de uma meta que “fica bem” na representação do país em Bruxelas, mas que é insuficiente no terreno.
Porém, importa referir que também há inúmeros incentivos e oportunidades para seguir o rumo certo. Fundos europeus, fundos ambientais, investimentos em hidrogénio verde e biocombustíveis e sensibilização para a proteção do planeta são fatores que criam excelentes condições para que a transição seja, também, um motor da inovação e da competitividade.
Quando falamos da necessidade de otimizar os recursos do planeta, falamos de melhorar a qualidade de vida de todos nós. Um edifício eficiente não é um custo, é um investimento que dá conforto aos seus ocupantes. Por isso, e para cumprir os planos, é necessária a alteração de normas e comportamentos. Entre o plano e a ação, está o compromisso, que não se mede em páginas de relatórios, mas em políticas concretas e visíveis nas cidades.