Estratégia de Valorização dos Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos da LIPOR

*Conteúdo da responsabilidade da Lipor

Os equipamentos elétricos e eletrónicos estão presentes em quase todas as áreas da atividade humana e os avanços tecnológicos fazem com que o crescimento da quantidade de resíduos produzida em resultado da sua utilização seja alarmante. Este tipo de resíduos contém uma mistura complexa de materiais, alguns dos quais perigosos, podendo causar graves problemas ambientais e de saúde pública se não forem alvo de uma gestão adequada. Além disso, os equipamentos atuais contêm recursos escassos e valiosos que podem ser reintroduzidos na cadeia de valor, através do fecho dos ciclos de materiais.

Na LIPOR – Associação de Municípios para a Gestão Sustentável de Resíduos, gerimos, valorizamos e tratamos os resíduos urbanos produzidos pelos Municípios de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde. As soluções de recolha seletiva de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE) disponibilizadas nestes municípios são, em geral, comuns:

  • Ecocentros: Todos os Ecocentros possuem um contentor dedicado para deposição seletiva de REEE;
  • Ecocentros móveis: Estruturas em itinerância por diferentes zonas de cada Município;
  • Recolha Seletiva Porta-a-Porta: Recolha por marcação ou em dia fixo, juntamente com outros resíduos volumosos.

Os resíduos recolhidos através destes sistemas têm como destino final a reciclagem, não sendo efetuada uma avaliação do estado dos equipamentos e do respetivo potencial de reparação.

Comprometidos com a promoção da Economia Circular na região, desenvolvemos uma estratégia para a valorização dos REEE, mudando o paradigma e potenciando não só a reciclagem, mas também a reutilização. Para tal, em muito contribuiu a nossa participação no Projeto ESTRAEE – Estratégia Sustentável Transfronteiriça para a Gestão dos REEE, cofinanciado pelo Programa INTERREG POCTEP 2014-2020, em cooperação com a região da Galiza.

A Estratégia

A Estratégia de Valorização dos Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE) da LIPOR, foi estruturada da seguinte forma:

  • Receção dos Equipamentos e Avaliação

Foram adaptados 9 Ecocentros da nossa área geográfica de influência, para melhorar as condições de receção dos REEE. O Ecocentro de Silvalde (Município de Espinho), Ecocentro da Cal (Município de Gondomar), Ecocentro da Formiga (LIPOR), Ecocentros de Moreira e de Nogueira (Município da Maia), Ecocentro da Prelada (Porto), Ecocentros de Custóias e de Sendim (Município de Matosinhos) e Ecocentro de Valongo (Município de Valongo) foram alvo de requalificação, salientando-se a renovação e uniformização da sinalética, de modo a melhorar a informação prestada ao utilizador sobre os fluxos de resíduos admissíveis.

Existem grandes quantidades de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos que são recolhidos em circuitos paralelos, não sendo sujeitos a tratamento com o mesmo nível de qualidade que os encaminhados na esfera do SIGREEE, para além de mascararem os dados de contabilização das metas de recolha e de valorização. Deste modo, tem-se registado o furto e vandalização dos equipamentos e infraestruturas. Para atuar face a esta problemática, os Ecocentros abrangidos foram dotados com meios para reforço da segurança, num total de novas 36 câmaras de videovigilância e demais equipamentos de suporte.

No que concerne à recolha seletiva, os Ecocentros foram dotados de 18 novos contentores para a receção de resíduos elétricos e eletrónicos, que garantem o cumprimento das exigências de receção desta tipologia de resíduos e permitem separar os resíduos com potencial de reutilização, dos que são entregues desmantelados ou em mau estado de conservação. Para tal, o contentor é bicompartimentado, sendo que o compartimento destinado aos equipamentos com potencial de reutilização, possui prateleiras amovíveis e ajustáveis, de modo a evitar que os equipamentos se danifiquem durante a deposição e transporte. Para que a descarga dos equipamentos seja efetuada de modo a não colocar em causa a integridade dos equipamentos e não origine perdas de tempo para os Municípios, esta é assegurada pela LIPOR e o Município levanta um contentor vazio, no momento da descarga.  Para a seleção do material com potencial de reutilização, é fundamental a intervenção dos Colaboradores do Ecocentro, que devem ser formados para poderem avaliar através de inspeção visual, o estado geral do equipamento, verificando se o mesmo está completo ou se existem indícios de derrames, assim como identificar as tipologias mais frequentes de avarias e danos. No âmbito da estratégia LIPOR, as tipologias de equipamentos com maior viabilidade de reparação consistem em: máquinas de lavar loiça e roupa; fogões, placas e discos elétricos; micro-ondas; fornos de encastrar ou de bancada; grelhadores; torradeiras; máquinas e cafeteiras elétricas; varinhas mágicas e batedeiras; ferros de engomar; aquecedores; secadores de cabelo; aspiradores; computadores e portáteis; TV LCD e monitor LCD. São, portanto, estas as tipologias preferencialmente selecionadas nos Ecocentros, sempre que apresentem potencial de reutilização.

  • Identificação e Triagem dos Equipamentos

Todos os equipamentos rececionados nos Ecocentros são entregues pelos Municípios na Plataforma de receção da LIPOR, onde foi instalada uma nova unidade para apoio às operações de preparação para reutilização. Esta receciona os equipamentos classificados com potencial de reutilização e neste local, com o apoio de técnicos de reparação, os equipamentos são avaliados e confirmando-se o potencial de reparação, são pesados, etiquetados permitindo a rastreabilidade do processo, sendo depois enviados para Centros de Reparação. Os equipamentos que não apresentam potencial de reutilização, são devidamente segregados em categorias e encaminhados para reciclagem, através de uma Entidade Gestora devidamente autorizada e licenciada para o efeito.

  • Recuperação dos Equipamentos

A reparação dos equipamentos é levada a cabo no Centro de Recuperação e Reutilização instalado no Ecocentro da Formiga, com o apoio de técnicos de reparação. A atividade de reparação é efetuada no âmbito da Rede CREW, sendo a totalidade dos equipamentos reparados doada a entidades de cariz social parceiras.

A aposta na Comunicação e Sensibilização

Além disso, no Centro oferecemos atividades formativas e de sensibilização dirigidas à Comunidade, traduzidas num plano anual de atividades, constituído por workshops de reutilização, reparação e upcycling. Existem também dois circuitos de visita dedicados à temática da reutilização multimaterial, dirigidos essencialmente à comunidade escolar: (Re)Criar com Valor e Reparar para Prevenir.

Numa ótica de fomento das práticas de reutilização nos Ecocentros, foram também equipados com 9 contentores móveis, vocacionados para a realização de ações de sensibilização da Comunidade, tais como: campanhas de recolha; dinâmicas de troca & partilha; entre outros. Pretende-se com esta estrutura que o ecocentro passe a ser encarado como uma instalação de apoio a iniciativas de sensibilização ambiental, bem como uma plataforma onde se potencia a reutilização de produtos. De salientar que estes contentores sendo móveis, podem ser colocados noutros locais, tais como escolas ou infraestruturas municipais de apoio a atividades de educação ambiental, em dias ou épocas temáticas (ex.: Dia do Ambiente, Semana Europeia da Prevenção de Resíduos, entre outros).

Conclusões

O Projeto ESTRAEE introduziu melhorias significativas nas infraestruturas, equipamentos de deposição, operações e logística, segurança e na comunicação e sensibilização com o cidadão. De relevar que antes da implementação do Projeto ESTRAEE não era efetuada qualquer separação de REEE com potencial de recuperação no Ecocentros, inviabilizando a posterior recuperação e reutilização dos equipamentos e materiais presentes nos REEE, opções preferenciais na hierarquia de gestão de resíduos.

Desde o arranque, no 4º trimestre de 2020 até ao final de 2022, o Projeto permitiu recolher 8 toneladas de equipamentos com potencial de reutilização, correspondendo a um potencial de 22,2 toneladas de emissões de CO2eq evitadas com a recuperação dos equipamentos. De salientar que conforme descrito, esta quantidade diz respeito, sobretudo, a equipamentos elétricos e eletrónicos de pequena dimensão. O enfoque na potenciação da reutilização, antes da reciclagem, quer pela recolha seletiva de equipamentos com potencial de reutilização, bem como pela instalação nos Ecocentros de estruturas para potenciar a reutilização está em total alinhamento com os objetivos definidos pelo PERSU 2030, relativamente à disponibilização nos ecocentros de áreas para receção de produtos para reutilização, em particular os resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos, entre outros, promovendo trocas no próprio ecocentro.

O Projeto contribui ainda para a valorização dos recursos humanos afetos aos Ecocentros, proporcionando o enriquecimento das respetivas competências e a sua capacitação para a identificação, por exemplo, de danos e avarias frequentes nos equipamentos elétricos e eletrónicos, potenciando o envolvimento ativo dos Colaboradores dos Ecocentros na rigorosa seleção dos equipamentos com potencial de reparação. Demonstra, assim, um importante papel social associado à transição circular.

De salientar que para capitalizar os resultados no futuro, encontra-se em curso uma 2ª fase do Projeto ESTRAEE, no âmbito da qual está em implementação uma campanha de comunicação dirigida ao cidadão e está em curso um Estudo para potenciação da reutilização e reciclagem de REEE que visa definir ações de melhoria contínua e de inovação com vista a alcançar este desiderato.

Este artigo foi incluído na edição 100 da Ambiente Magazine