Estuário do Mondego e Ria Formosa registam nível de oxigénio perigoso para peixes

Os níveis de oxigénio nas águas costeiras são “de um modo geral” bons, mas foram encontrados valores baixos no estuário do Mondego e na Ria Formosa, podendo afetar a vida aquática e causar mortalidade, segundo o IPMA.

“A monitorização realizada nos últimos anos mostrou que, de um modo geral, os níveis de oxigénio são superiores a 75% de saturação”, o que é indicativo de “boa oxigenação da água”, refere o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Em resposta a questões da agência Lusa, acrescenta, no entanto, que “foram registados valores inferiores a este limite no estuário do Mondego e na Ria Formosa, em locais com baixa profundidade da coluna de água e no verão com temperaturas elevadas”, uma diminuição que “poderá afetar a vida aquática causando mortalidade”.

O instituto liderado por Miguel Miranda comentava um estudo elaborado por um grupo internacional de cientistas criado em 2016 pela comissão intergovernamental para os oceanos das Nações Unidas, o GO2NE, publicado na quinta-feira na revista Science.

Os investigadores concluíram que as áreas dos oceanos com água sem oxigénio aumentaram quatro vezes nos últimos 50 anos, ameaçando a sobrevivência de espécies de peixes e corais, uma situação que tem como causas as alterações climáticas e a poluição.

Os cientistas realçam que em zonas costeiras, como estuários, os locais com níveis baixos de oxigénio aumentaram mais de 10 vezes desde 1950 e alertam que a quantidade de oxigénio na água deverá continuar a descer mesmo em áreas ainda não afetadas pelo fenómeno, à medida que o planeta aquece.

Num mapa do mundo que acompanha o estudo, podem observar-se três pontos críticos na costa atlântica da Península Ibérica.

O IPMA acompanha vários parâmetros físico-químicos das zonas de produção de bivalves dos estuários, lagoas costeiras e zona costeira continental, e um deles é a concentração de oxigénio dissolvido.

O instituto “mantém a monitorização destes parâmetros em todos os estuários e na zona costeira com o objetivo de assegurar a qualidade da água e a fim de permitir a vida e o crescimento de vida marinha”, nomeadamente de moluscos bivalves que possam ser diretamente consumidos pelos humanos, explica.

A entidade portuguesa refere ainda que reportou a situação nos estuários do Mondego e da Ria Formosa à Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (OSPAR), informação que integra o 3.º relatório integrado do estado de eutrofização da área marítima da organização.

A baixa disponibilidade de oxigénio dissolvido, explica o IPMA, foi registada em condições específicas de maré e de temperatura, as quais “não foram observadas durante longos períodos de tempo”, mas podem “ter implicações na qualidade da água e na vida aquática”.

A diminuição de oxigénio dissolvido pode estar relacionada com fatores como eutrofização (quando há presença excessiva de nutrientes nas massas de água, sobretudo fosfatos e nitratos, levando a excesso de matéria orgânica), poluição, alterações anormais do caudal dos rios ou seca.