Estudo: Retalhistas portugueses revelam “enorme falta de transparência” na divulgação de dados quantitativos sobre pegada plástica

“Os grandes retalhistas em toda a Europa são culpados de promover falsas soluções para a crise da poluição plástica e de perpetuar a duplicidade de critérios”, revela um novo estudo. A primeira análise do papel que os supermercados europeus desempenham no tratamento da poluição plástica – “Numa embrulhada: o que os supermercados europeus não nos estão a dizer sobre o plástico” – é o resultado da colaboração de mais de 20 Organizações Não Governamentais (ONG), de toda a Europa (membros do movimento Break Free from Plastic), pode ler-se num comunicado, divulgado pela Sciaena.

A classificação especialmente concebida pela Changing Markets Foundation revelou uma quase completa “falta de ambição” em três categorias: “Transparência e desempenho; Compromissos; e Apoio à política governamental”. A pontuação média global alcançada pelos retalhistas foi de apenas “13,1 num total de 100 pontos”, refere a Organização, no mesmo comunicado,

Dos 130 retalhistas contactados, através do estudo, “apenas 39 (30%) responderam por escrito ao questionário da coligação, mas muitas destas respostas não forneceram respostas significativas às perguntas”. Uma análise mais aprofundada de 74 retalhistas em 13 países revelou uma “preocupante falta de ação” para enfrentar a crise do plástico: “As superfícies de retalho do Reino Unido e de França obtiveram 39,6% e 23,3%, respetivamente. Nenhum outro país atingiu uma média total de mais de 20%. A pontuação média alcançada pelos retalhistas em Espanha, na República Checa e na Estónia foi inferior a 10%”, indica o estudo, citado pela Sciaena.

O relatório aponta ainda “discrepâncias notáveis nas pontuações dentro dos próprios grupos internacionais de retalho” revelando uma “enorme falha de gestão holística e integrada” dentro dos grupos multinacionais. Verificou-se ainda que “os supermercados europeus têm atrasado a sua responsabilização pela crise do plástico fazendo lobbying contra a legislação progressiva, como a promoção de sistemas de depósito com retorno (SDR)”, indica a análise.

“O nosso relatório mostra que mesmo os supermercados com melhor desempenho, tais como ALDI e LIDL, têm dois pesos e duas medidas, quando se trata de enfrentar a crise do plástico. Tiveram um bom desempenho no Reino Unido e na Irlanda, mas mostram fracos resultados em Espanha, na Alemanha e em outros países onde operam”, afirma Nusa Urbancic, diretora de campanhas da Changing Markets Foundation, reiterando que “tais diferenças não podem ser explicadas através de diferentes legislações nacionais e mostram que nenhum dos retalhista está a responder à crise do plástico com a urgência que esta situação exige. Em vez de investirem em soluções sistémicas, tais como sistemas de redução e reutilização do plástico, verificou-se que os retalhistas estavam a fazer greenwashing e a colocar entraves à legislação”.

Já em Portugal, a informação partilha à imprensa, indica que nenhum dos cinco grupos de retalho em análise  – “Jerónimo Martins, Auchan, Intermarché, Aldi e Lidl” – forneceu respostas significativas às questões colocadas no relatório, revelando uma “enorme falta de transparência na divulgação de dados quantitativos sobre a sua pegada plástica”, assim como no seu “posicionamento face ao apoio de medidas de mitigação obrigatórias como o sistema de depósito com retorno”.

Fonte: “Numa embrulhada: o que os supermercados europeus não nos estão a dizer sobre o plástico”

Em Espanha, o relatório revela que alguns retalhistas como o “Mercadona”, grupo também presente em Portugal, aposta no “greenwashing e em falsas soluções” através da “substituição ou rebranding dos seus itens de uso único por alternativas igualmente descartáveis”, ao invés de “apostar em estratégias de reenchimento e reutilização”, tendo no presente relatório atingindo a “pontuação surpreendente de 0,7 em 100 pontos”, lê-se no mesmo comunicado.

“Combinar as melhores práticas de todos os supermercados europeus analisados seria o suficiente para atingir uma pontuação de 82,7%, permitindo um aumento crucial do desempenho destes supermercados”, é uma das recomendações destinadas aos retalhistas e, partilhadas nas considerações finais do relatório.