Estudo revela que apagão de abril de 2025 não travou confiança dos portugueses na transição energética
Apesar do apagão geral que afetou a Península Ibérica a 28 de abril de 2025, a grande maioria dos portugueses mantém um forte apoio à transição energética e à aposta nas energias renováveis. Esta é a principal conclusão de um estudo promovido pela representação portuguesa da Fundação Friedrich Ebert e conduzido pelo investigador Miguel Macias Sequeira.
O inquérito, realizado online em junho de 2025 junto de uma amostra representativa, avaliou o impacto do apagão — que deixou cerca de 60 milhões de cidadãos sem eletricidade na Península Ibérica e demorou quase 12 horas a ser totalmente resolvido em Portugal — nas perceções da população sobre o sistema energético e as políticas climáticas. Os resultados permitiram também uma comparação com um estudo
semelhante, conduzido por Luísa Schmidt, Ana Horta e João Guerra e realizado em 2023.
Face ao apagão de abril de 2025, os resultados mostram que 97% dos inquiridos defendem a continuação da aposta em energias renováveis e 94% apoiam a estratégia de transição energética atualmente em curso. Mais de 70% concordam com medidas estruturais como a instalação de baterias elétricas, o reforço das interligações europeias e a eletrificação dos consumos.
Ao nível da comunicação e da confiança institucional no âmbito do apagão, os inquiridos apontam uma forte presença de desinformação nas redes sociais (85%), contrastando com uma maior confiança nos meios de comunicação tradicionais (64%).
A gestão do apagão foi avaliada de forma geralmente positiva, com reconhecimento do trabalho dos operadores da rede elétrica (80%) e da atuação das autoridades (66%). No entanto, 74% consideram que faltaram explicações claras e 67% afirmaram mesmo que as verdadeiras causas do apagão foram escondidas. Persistem também receios de novos apagões (82%) e a constatação da falta de preparação da sociedade face a estes fenómenos (86%).
O estudo revela também uma diminuição da importância atribuída às questões ambientais entre 2023 e 2025 (de 33% para 26%), num contexto em que saúde, habitação, emprego e educação continuam a dominar as prioridades referidas pelos portugueses e temas como a criminalidade a migração ganharam maior peso.
Apesar disso, a maioria das medidas de transição energética mantém avaliações francamente positivas (mais de 80% de concordância), embora com uma ligeira tendência geral de quebra do apoio. Ainda assim, após o apagão, 50 a 60% dos inquiridos revelaram que o seu interesse em autoconsumo de energia solar, baterias elétricas e comunidades de energia renovável aumentou.
Segundo Miguel Macias Sequeira, “os resultados mostram que o apagão não fragilizou o mandato social para a transição energética, mas sublinhou a necessidade de reforçar a comunicação sobre os benefícios da transição energética, ligando-a a temas como saúde, habitação e emprego, e de promover uma transição justa e participada que garanta aceitação social, eficácia e celeridade.”