Europa neutra em carbono até 2050? É preciso investigar, inovar e colaborar na indústria dos transportes

A Transport Research Arena realiza-se entre os dias 27 e 30 de abril, em Helsínquia (Finlândia), e é a maior conferência europeia de investigação e tecnologia sobre transporte e mobilidade. O tema deste ano é “Repensar o transporte – em direção a uma mobilidade limpa e  inclusiva” e vai reunir investigadores, especialistas e os  responsáveis pela tomada de decisão num só local. Este tema torna-se especialmente relevante agora, tendo em conta a Lei Europeia do Clima, que propõe um objetivo juridicamente  vinculativo de neutralidade climática até 2050.

Atualmente estima-se que a procura global de transportes irá triplicar em 2050. É evidente que para enfrentar este desafio são necessários novos conceitos e inovações no setor da logística e nas cadeias de fornecimento. A União Europeia (UE) tem o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 45% até 2030. O principal objetivo é alcançar a neutralidade climática na UE até 2050. Um dos maiores desafios que a UE enfrenta para alcançar esse objetivo prende-se com a indústria dos transportes – em 2017, 27% das emissões de gases com efeito de estufa da UE derivavam deste sector. Novas tecnologias e inovações são necessárias rapidamente para atingir esses objetivos.

É esse objetivo que conferências como o TRA2020 (Transport Research Arena) pretendem debater — reunir investigadores, especialistas e responsáveis pela tomada de decisão para discutir o transporte e a investigação na Europa. Fernando Liesa, secretário geral da ALICE e membro do Comité de Gestão do  TRA2020, aponta três principais fatores de mudança:

– A estratégia que a Europa adotou para alcançar a neutralidade climática;

– O facto de as cidades estarem a evoluir no sentido da neutralidade em termos de clima e desejarem proteger a qualidade do ar. Isso exige mudanças em todos os níveis de transporte;

– Tecnologia e digitalização. Embora a maioria das empresas esteja apenas em fase de preparação no momento, espera-se que os processos de digitalização acelerem nos próximos 3 a 5 anos, tornando todo o setor de logística um setor mais interconectado.

“O maior problema que o setor da logística enfrenta atualmente é que as empresas operam em cadeias de fornecimento de forma individualizada, o que significa que nas estradas os camiões estão meio vazios, os armazéns não são totalmente utilizados, a multimodalidade não é possível e que existem poucas entregas por paragem no domínio urbano. Uma das maiores e mais inspiradoras inovações no campo da logística está a tentar mudar este problema: a Internet física analisa a parte física, digital e económica do processo logístico e está a tentar descobrir como tornar o transporte o mais eficaz possível”, explica Liesa.

Liesa diz que, para que a Internet física funcione, as partes interessadas precisam estar disponíveis à partilha de ativos e recursos e estar inteligentemente vinculadas em cadeias de fornecimento interligadas. É importante reunir os responsáveis pela tomada de decisão, representantes de empresas e políticos para iniciar colaborações e projetos com objetivos mútuos. Se a logística fosse utilizada em todo o seu potencial, resultaria em menos emissões de carbono e num uso mais efetivo do transporte. Isso ajudaria a mitigar o problema das mudanças climáticas causado pelo transporte em até 50%.

“Conferências como o TRA2020 são extremamente importantes – são uma forma de conhecer as partes interessadas relevantes e conhecer o estado da arte do transporte e logística de mercadorias. Muitos países e empresas estão a dar um grande salto no desenvolvimento da indústria. Por exemplo, Áustria, Bélgica e Holanda estão na vanguarda do desenvolvimento físico da Internet. Para a conferência deste ano, a Finlândia foi uma ótima opção, pois possui muitas inovações interessantes, como a OGOship, uma startup finlandesa que venceu o Physical Internet Venture Award de 2019”, comenta Liesa.

O evento reúne os maiores nomes da indústria de transportes na Europa 

A Transport Research Arena é uma conferência de quatro dias realizada entre os dias 27 e 30 de abril em Helsínquia. É a maior conferência europeia de investigação e tecnologia sobre transporte e mobilidade. A Transport Research Arena é um fórum estratégico para os investigadores de transporte, os principais especialistas e responsáveis pela tomada de decisão se reunirem para discutir o transporte e a investigação na Europa. O tema da conferência deste ano é “Repensar o transporte – em direção a uma mobilidade limpa e inclusiva“.

“A TRA2020 oferece uma oportunidade única de obter informações sobre tendências e desenvolvimentos no setor dos transportes, partilhar informações, aprender sobre oportunidades de financiamento de pesquisas na Europa e fortalecer a colaboração entre diferentes partes envolvidas no desenvolvimento de soluções inovadoras. Um programa interessante pode ser encontrado para todos, pois a conferência abrange todos os modos de transporte, além de questões intersectoriais de mobilidade de pessoas e mercadorias”, diz Alina Koskela, presidente do Comité de Gestão TRA2020.

Soluções e inovações para alguns dos problemas mais complexos da mobilidade moderna

Além da tecnologia, a conferência também servirá como espaço de discussão de alguns dos tópicos mais importantes do nosso tempo. Por exemplo: mitigar e adaptar-se às alterações climáticas, melhorar os sistemas de mobilidade, melhorar as infraestruturas e garantir a competitividade europeia, entre outros.

“Um dos nossos principais temas é a mudança climática. No setor dos transportes, precisamos de soluções para desacelerar as alterações climáticas. Na conferência, vamos discutir soluções concretas para atingir esse objetivo e ouvir inovações muito interessantes”, afirma Jarno Ilme, Network Director, Clean and Sustainable Environment da Agência Finlandesa de Transportes e Comunicações.

Os principais intervenientes do TRA2020 são alguns dos maiores nomes do setor: Carla Gohin (Groupe PSA), Grazia Vittadini (Airbus), Jan Meyer da Meyer Werft e François-Régis Le Tourneau (L’Oreal), Sergio Barbarino e Pietro D’Arpa (Procter & Gamble), Karen Vancluysen (Polis).